Em meio a tarifas, presidente Lula publica artigo em jornais internacionais

Presidente da República rejeita a ideia de “desglobalização” e afirma que o tarifaço eleva preços e trava a economia

João Scavacin, da CNN*, São Paulo
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) repercute na mídia estrangeira  • Reprodução
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Em artigo publicado em jornais internacionais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou o aumento das tarifas comerciais globais, que, segundo ele, elevam os preços e travam a economia mundial.

Para Lula, a imposição de barreiras comerciais desorganiza as cadeias globais de valor e empurra o planeta para uma espiral de inflação e estagnação econômica.

"A lei do mais forte também ameaça o sistema multilateral de comércio. Tarifaços desorganizam cadeias de valor e lançam a economia mundial em uma espiral de preços altos e estagnação. A Organização Mundial do Comércio foi esvaziada e ninguém se recorda da Rodada de Desenvolvimento de Doha", afirmou.

A fala acontece após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, impor uma taxa de 50% aos produtos brasileiros.

O artigo foi publicado nos seguintes jornais:

  • Le Monde, da França
  • El País, da Espanha
  • The Guardian, do Reino Unido
  • Der Spiegel, da Alemanha
  • Corriere della Sera, da Itália
  • Yomiuri Shimbun, do Japão
  • China Daily, da China
  • Clarín, da Argentina
  • La Jornada, do México

O presidente brasileiro também rejeitou a crescente ideia de “desglobalização”.

"É impossível 'desplanetizar' nossa vida em comum. Não existem muros altos o bastante para manter ilhas de paz e prosperidade cercadas de violência e miséria", disse.

Lula alertou ainda para o risco de colapso da ordem internacional criada após a Segunda Guerra Mundial, que em 2025 completa 80 anos. Ele mencionou o enfraquecimento das instituições multilaterais, o uso ilegal da força por potências globais e a escalada de conflitos, especialmente no Oriente Médio, que põem em xeque a estabilidade global.

"As rachaduras já estavam visíveis. Desde a invasão do Iraque e do Afeganistão, a intervenção na Líbia e a guerra na Ucrânia, alguns membros permanentes do Conselho de Segurança banalizaram o uso ilegal da força", declarou Lula.

"A omissão frente ao genocídio em Gaza é a negação dos valores mais basilares da humanidade. A incapacidade de superar diferenças fomenta nova escalada da violência no Oriente Médio, cujo capítulo mais recente inclui o ataque ao Irã", acrescentou.

No âmbito econômico, o presidente cita o modelo "neoliberal" vigente desde a crise de 2008, lembrando que o resgate financeiro privilegiou grandes corporações e os mais ricos, aprofundando a "desigualdade" no mundo. "Nos últimos 10 anos, os US$ 33,9 trilhões (£ 25 trilhões) acumulados pelo 1% mais rico do mundo equivalem a 22 vezes os recursos necessários para erradicar a pobreza global, segundo relatório da Oxfam."

Além disso, Lula enfatizou que "muitos países cortaram programas de cooperação" internacional e realizaram o descumprimento de compromissos climáticos, ressaltando que as nações mais pobres, que menos contribuíram para a crise ambiental, são os mais vulneráveis aos efeitos das mudanças climáticas.

"Não se trata de fazer caridade, mas de corrigir disparidades que têm raízes em séculos de exploração, ingerência e violência contra povos da América Latina e do Caribe, da África e da Ásia. Em um mundo com um PIB combinado de mais de 100 trilhões de dólares, é inaceitável que mais de 700 milhões de pessoas continuem passando fome e vivam sem eletricidade e água", destacou.

Apesar dos desafios, o presidente ressaltou os avanços obtidos pelo sistema multilateral, como a erradicação da varíola e a preservação da camada de ozônio, e falou sobre o papel do Brasil na busca por consensos globais, por meio da presidência do G20, do Brics e da COP30.

"É urgente insistir na diplomacia e refundar as estruturas de um verdadeiro multilateralismo, capaz de atender aos clamores de uma humanidade que teme pelo seu futuro", disse.

"Apenas assim deixaremos de assistir, passivos, ao aumento da desigualdade, à insensatez das guerras e à própria destruição de nosso planeta", finalizou.