Trump escolhe 61 embaixadores no mundo, mas ignora o Brasil

Republicano indicou 58 nomes políticos e três diplomatas de carreira para chefiar representações do EUA; Brasil está com um interino desde janeiro

Daniel Rittner, da CNN, Brasília
Donald Trump no Salão Oval da Casa Branca
Donald Trump no Salão Oval da Casa Branca  • REUTERS/Nathan Howard
Compartilhar matéria

Em praticamente seis meses de mandato, o presidente Donald Trump indicou 61 embaixadores para chefiar representações diplomáticas dos Estados Unidos no exterior, segundo a Associação do Serviço Exterior Americano (AFSA, na sigla em inglês).

Trump designou nomes de sua escolha até mesmo para países da América Latina com governos ideologicamente desalinhados com a Casa Branca, como o México, a Colômbia e o Chile.

A embaixada americana no Brasil, entretanto, está sem titular desde janeiro. Dias antes da posse de Trump, Elizabeth Bagley deixou Brasília e retornou para os Estados Unidos.

Bagley foi nomeada pelo ex-presidente Joe Biden. Ela é uma tradicional doadora de recursos para campanhas do Partido Democrata.

Desde sua saída, a embaixada é chefiada pelo encarregado de negócios, Gabriel Escobar. Ele tem experiência nas representações diplomáticas dos Estados Unidos em países como Paraguai, Bolívia e Sérvia.

A situação do Brasil difere completamente da vizinha Argentina, para onde o presidente americano anunciou Peter Lamelas antes mesmo de sua posse. Lamelas, médico de formação, é um empresário de origem cubana -- fundador de uma rede de atendimento de urgências médicas na Flórida com acesso frequente a Mar-a-Lago, o resort privado de Trump.

Para a Colômbia, Trump indicou o advogado Dan Newlin, apoiador do Partido Republicano e ex-xerife no condado de Orange (Flórida).

De acordo com a AFSA, dos 61 indicados até agora por Trump, 58 são embaixadores políticos. Apenas três são escolhas feitas dentro da própria carreira diplomática. A lista inclui organismos internacionais, como a ONU e a OEA (Organização dos Estados Americanos).

Para a China, por exemplo, o presidente americano decidiu escolher David Perdue, um ex-senador republicano pela Geórgia -- estado que deu vitória a Biden em 2020 e recuperado por Trump em 2024.

"Sub do sub do sub"

O encarregado de negócios da embaixada americana em Brasília é considerado um interlocutor honesto e respeitoso, mas sem capacidade de influência em Washington.

No Itamaraty, ele já recebeu a alcunha de "sub do sub do sub". A expressão é uma referência à forma como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se referiu, em 2002, ao chefe do USTR (escritório de representação comercial da Casa Branca).

Na época, recém-eleito pela primeira vez, o petista entrou em um bate-papo com Robert Zoellick em torno do futuro da Alca (Área de Livre Comércio das Américas).

Lula e o PT eram contra a formação do bloco, ancorado pelos Estados Unidos, e Zoellick comentou que o Brasil teria de fazer comércio com a Antártida caso rejeitasse a Alca.

O petista, então, chamou Zoellick de "sub do sub do sub" -- embora ele fosse um dos homens-fortes no governo do republicano George W. Bush. Posteriormente, o chefe do USTR foi nomeado presidente do Banco Mundial.