Veja o histórico de internações e cirurgias de Bolsonaro

Após o atentado a faca na campanha eleitoral de 2018, o ex-presidente passou a se submeter a uma série de procedimentos médicos

Da CNN Brasil
Ex-presidente Jair Bolsonaro (PL)
Ex-presidente Jair Bolsonaro (PL)  • Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil
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O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi levado às pressas para um hospital de Brasília na tarde desta terça-feira (16), sob escolta da Polícia Penal.

A informação foi confirmada por seu filho e senador, Flávio Bolsonaro (PL-RJ). Jair Bolsonaro passou mal, apresentando crise de soluço, vômito e pressão baixa. "Peço a oração de todos para que não seja nada grave", publicou Flávio no X.

A nova ida de Bolsonaro a um hospital ocorre dois dias após o ex-presidente ser submetido a um procedimento para remover lesões de pele. No domingo (14), Bolsonaro ficou por cerca de cinco horas no Hospital DF Star, em Brasília; o ex-presidente foi encaminhado à mesma unidade nesta terça.

Desde o atentado a faca durante a campanha eleitoral de 2018, Bolsonaro acumula internações e cirurgias, muitas delas relacionadas às complicações do ataque sofrido em Juiz de Fora (MG).

Veja a linha do tempo após atentado de 2018:

2018

A primeira cirurgia foi no próprio dia do ataque, em 6 de setembro de 2018. Bolsonaro recebeu atendimento em Juiz de Fora (MG) para reparar lesões nos intestinos delgado e grosso.

Dias depois, em 12 de setembro do mesmo ano, o ex-presidente precisou de uma cirurgia para desobstruir o intestino. Essa foi realizada em São Paulo.

2019

Em 28 de janeiro, Bolsonaro pode retirar a bolsa de colostomia que precisou usar enquanto se recuperava da primeira intervenção médica por conta da facada.

Quase um ano depois do ataque, o político do PL enfrentou mais um atendimento médico, dessa vez para tratar uma hérnia que surgiu na cicatriz da facada.

Além disso, ele necessitou de intervenção para tratar cálculo renal.

2021

Em julho, o ex-chefe do Executivo necessitou ir ao hospital por uma obstrução intestinal. Uma cirurgia foi cogitada, mas acabou não sendo necessária.

2022

O quadro de obstrução intestinal se repetiu e, novamente, não foi preciso de intervenção cirúrgica.

2023

Durante o mês de setembro, o político do PL foi submetido a mais duas operações. A primeira era para corrigir outra hérnia e a segunda tratou o desvio de septo dele.

2024

Já no ano passado, o ex-presidente teve um quadro de erisipela e precisou ser internado para receber cuidados médicos. A erisipela é um processo de infecção da pele causado por bactérias.

2025

Bolsonaro está em prisão domiciliar desde 4 de agosto, em medida decretada no âmbito de inquérito que mira a atuação de outro filho do ex-presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), nos Estados Unidos.

Condenação

Na semana passada, Jair Bolsonaro foi condenado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) a uma pena de 27 anos e três meses de prisão por tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, entre outros crimes relacionados ao que seria um plano de golpe contra o resultado da eleição presidencial de 2022.

Por maioria de votos, Bolsonaro se tornou o primeiro presidente do Brasil a ser condenado por golpe de Estado.

O relator, Alexandre de Moraes, foi acompanhando por Flávio Dino, Cármen Lúcia e Cristiano Zanin. Luiz Fux votou pela absolvição. O placar final foi de 4 a 1.

Ele foi condenado pelos seguintes crimes:

  • organização criminosa armada;
  • tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito;
  • golpe de Estado;
  • dano qualificado pela violência e ameaça grave (com exceção de Ramagem); e
  • deterioração de patrimônio tombado (também com exceção de Ramagem).

Mesmo com a definição da pena, ainda cabe recurso da decisão, o que significa que Bolsonaro e os outros réus não serão presos de imediato.

No Brasil, as penas só podem ser executadas depois que o caso transita em julgado, ou seja, depois que acabam todas as possibilidades de recurso.

Como votou cada ministro

Alexandre de Moraes: Dedicou cinco horas ao voto e apontou Jair Bolsonaro como líder da organização criminosa que planejou um golpe de Estado. Segundo ele, o grupo usou a máquina pública e apoio de militares para atacar o Judiciário, desacreditar o sistema eleitoral e impedir a posse do governo eleito em 2022. Moraes citou a minuta do golpe discutida com militares, a reunião de ministros em 2022, o financiamento de acampamentos em quartéis, o Plano Punhal Verde e Amarelo e a coordenação dos atos de 8 de janeiro. Para o ministro, as ações mostraram a recusa de Bolsonaro e aliados em aceitar a alternância democrática de poder e quase levaram o Brasil de volta a uma ditadura.

Flávio Dino: Acompanhou Alexandre de Moraes e votou pela condenação de Jair Bolsonaro e outros sete réus. Para ele, Bolsonaro e Walter Braga Netto exerceram liderança sobre a organização criminosa e devem receber penas mais altas, enquanto Paulo Sérgio Nogueira, Augusto Heleno e Alexandre Ramagem tiveram participação menor e devem pegar penas reduzidas. O ministro ressaltou que a tentativa de golpe não se tratou apenas de preparativos, mas de atos executórios que colocaram em risco o Estado Democrático de Direito, incluindo com a invasão violenta das sedes dos Três Poderes.

Luiz Fux: Foi o único a divergir no julgamento. Em um voto de 14 horas, defendeu a absolvição completa de Jair Bolsonaro e de outros cinco réus. Em relação a Mauro Cid e Walter Braga Netto, votou pela condenação apenas pelo crime de tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito, rejeitando todas as demais acusações. Ao contrário dos outros ministros, Fux analisou separadamente cada crime e cada réu. Também acolheu quase todas as preliminares apresentadas pelas defesas, argumentando que houve cerceamento do direito de defesa e que o STF, assim como sua Primeira Turma, não teriam competência para julgar o caso. Logo no início de sua manifestação, ainda enviou um recado indireto a Alexandre de Moraes, afirmando que juízes não têm função investigativa e devem agir com distanciamento.

Cármen Lúcia: Concluiu que a PGR apresentou provas sólidas de uma empreitada criminosa organizada por uma “milícia digital” para atacar o Judiciário e as urnas eletrônicas, liderada por Jair Bolsonaro, apontado como responsável por planejar a ruptura institucional e a permanência forçada no poder. Para ela, as ações foram coordenadas, contaram com participação efetiva de Mauro Cid e envolveram violência, grave ameaça e até cogitação de assassinatos de autoridades. Rejeitando a tese de Luiz Fux, defendeu que os réus devem ser condenados separadamente pelos crimes de golpe de Estado e abolição violenta do Estado Democrático de Direito.

Cristiano Zanin: Surpreendeu ao acompanhar integralmente o voto de Alexandre de Moraes e votar para condenar todos os réus pelos cinco crimes imputados pela PGR. Para ele, ficou comprovada a existência de uma organização criminosa armada e estruturada para manter Bolsonaro no poder. Segundo o ministro, as ações envolveram uso de estruturas do Estado, ameaças a autoridades e violência, evidenciada nos atos de 8 de janeiro de 2023. Zanin afirmou que não foram apenas opiniões políticas ou atos preparatórios, mas um conjunto de estratégias coordenadas que atacaram a democracia, e que a responsabilização é fundamental para consolidar o Estado Democrático de Direito.

Relembre o caso

Em 8 de janeiro de 2023, manifestantes vindos de várias cidades e do acampamento em frente ao quartel general do Exército invadiram o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o STF. Obras, estruturas e peças históricas foram destruídas.

O ex-presidente Jair Bolsonaro estava nos Estados Unidos quando os ataques ocorreram, mas já estava na mira da Polícia Federal como possível mentor de um plano golpista.

As apurações avançaram com a delação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. Ele relatou reuniões do presidente com ministros, embaixadores e chefes militares antes das eleições de 2022, nas quais o então mandatário colocava em xeque a credibilidade das urnas.

No segundo turno, a PRF teria sido mobilizada para dificultar o acesso de eleitores em cidades mais favoráveis a Lula. Após a diplomação do petista, em dezembro, vândalos incendiaram carros e ônibus e tentaram invadir a sede da PF em Brasília, e dias depois foi encontrada uma bomba perto do Aeroporto da capital.

Ainda em dezembro, investigações apontaram a elaboração de uma minuta golpista e do plano "punhal verde-amarelo", que previa os assassinatos de Lula, Alckmin e Moraes. O inquérito da PF foi concluído em novembro de 2024.

Bolsonaro e outros 36 aliados foram indiciados e denunciados pela PGR, que os dividiu em cinco núcleos de atuação. O núcleo central, liderado por Bolsonaro, teria planejado impedir a posse de Lula. A denúncia foi aceita pelo STF, e os réus passaram a responder a uma ação penal.

Segundo a acusação, Bolsonaro liderou a organização criminosa, articulou ataques às urnas, difundiu desinformação e incitou a intervenção militar. Em junho, os réus foram interrogados e negaram a tentativa de golpe.

As defesas questionaram a imparcialidade de Alexandre de Moraes e a validade da delação de Cid, marcada por contradições e descumprimentos do acordo. Anular a delação, porém, significaria invalidar parte das provas nas quais se baseia a denúncia.

O caso repercutiu internacionalmente. Em julho, o presidente dos Estados Unidos Donald Trump defendeu Bolsonaro, chamou o processo de "caça às bruxas" e impôs sanções a Moraes, que reagiu afirmando que não recuaria "nem um milímetro".

Com a entrega das alegações finais, o ministro Cristiano Zanin marcou o julgamento. Após cinco sessões, a Primeira Turma do STF decidiu condenar Bolsonaro e outros sete réus.

*Com informações de Jussara Soares e João Scavacin, da CNN