O que você precisa saber sobre o coquetel de medicamentos contra a Covid-19

Remédios casirivimabe e imdevimabe, aprovados pela Anvisa em caráter experimental, devem ser utilizados sob prescrição médica e dentro do ambiente hospitalar

Lucas Rocha, da CNN, em São Paulo
Fachada da sede da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)
Fachada da sede da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)  • Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Compartilhar matéria

Nesta terça-feira (20), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o uso emergencial, em caráter experimental, de um coquetel de medicamentos composto por casirivimabe e imdevimabe, anticorpos monoclonais produzidos em laboratório que podem aumentar a resposta imunológica no combate à Covid-19.

Os dois remédios já são usados contra a doença de forma experimental nos Estados Unidos, no Canadá e em países da Europa. O pedido de autorização foi realizado pela farmacêutica Roche.

O consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), José David Urbaez Brito, respondeu às principais dúvidas sobre o tratamento.

Como deve ser utilizado?

A aplicação no organismo é feita por via intravenosa, sob prescrição médica, dentro do ambiente hospitalar, sob condições controladas. O tratamento é indicado apenas para pacientes com diagnóstico confirmado de Covid-19, em casos leves ou moderados, para adultos e crianças acima de 12 anos, que pesem no mínimo 40 kg. 

“O coquetel deve ser usado em pessoas que não precisem de suporte de ventilação ou oxigênio. A indicação deve considerar principalmente a predisposição ao desenvolvimento de quadros graves, caso de obesos, diabéticos, pessoas com hipertensão e acima de 65 anos”, explicou.

Tratamento de alto custo

O especialista destaca que a tecnologia representa um avanço significativo no conhecimento científico da Covid-19, mas ressalta que a popularização esbarra no alto custo da produção. “A tecnologia é fundamental do ponto de vista da evolução científica no tratamento da Covid-19. No entanto, a utilização como ferramenta de saúde pública ainda é algo distante, pelos altos custos envolvidos”, apontou. 

Segundo o infectologista, o valor do tratamento pode variar de acordo com a escala. Nos Estados Unidos, por exemplo, um acordo da farmacêutica Regeneron com o governo norte-americano previa o fornecimento de 300 mil doses pelo valor mínimo de US$ 450 milhões, ou US$ 1.500 por dose. Caso fossem tratados apenas 70 mil pacientes, esse valor poderia chegar a US$ 6.500 por dose.

A tecnologia de anticorpos monoclonais foi utilizada no tratamento do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Ele recebeu uma dose única do coquetel experimental de anticorpos da farmacêutica Regeneron para tratar a Covid-19. 

Segurança e eficácia

O consultor da SBI destaca que o uso é seguro. Segundo ele, o tratamento pode provocar reações adversas, mas o risco é muito baixo. Os anticorpos monoclonais são fruto de uma tecnologia refinada que ajuda o organismo a combater uma infecção. A metodologia já foi usada anteriormente para o combate a outras doenças, como artrite reumatoide e câncer.

A eficácia em relação à Covid-19 tem sido verificada por pesquisas segundo as quais os pacientes que receberam os medicamentos não evoluíram para internação e UTI. Um estudo publicado na revista científica New England Journal of Medicine apontou que o coquetel de anticorpos reduziu a carga viral no organismo, com maior efeito em pacientes cuja resposta imune ainda não havia sido iniciada.

Outro estudo, publicado no periódico Cleveland Clinic Journal of Medicine, mostrou que o tratamento com os anticorpos casirivimabe, imdevimabe e bamlanivimabe, no início da doença, pode mostrar eficácia na redução da progressão para doença grave.