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    Cientistas relatam sintomas de Covid longa em crianças e jovens até 14 anos

    Conhecimento dos sintomas de longo prazo da doença em crianças pode orientar abordagens clínicas, cuidado dos pais e decisões sobre isolamento e restrições, dizem especialistas

    Lucas Rochada CNN , em São Paulo

    Crianças diagnosticadas com a Covid-19 podem apresentar sintomas de prolongados da doença com duração de pelo menos dois meses. É o que revela uma das mais amplas pesquisas sobre o impacto da infecção em crianças de 0 a 14 anos divulgado nesta quarta-feira (22).

    O estudo, publicado no periódico The Lancet Child & Adolescent Health, usou amostragem em nível nacional de crianças na Dinamarca, comparando dados de casos positivos de Covid-19 aos de um grupo de crianças sem histórico prévio da infecção.

    “O objetivo geral do nosso estudo foi determinar a prevalência de sintomas duradouros em crianças e bebês, juntamente com a qualidade de vida e a ausência da escola ou creche. Nossos resultados revelam que, embora crianças com diagnóstico positivo de Covid-19 sejam mais propensas a apresentar sintomas duradouros do que crianças sem diagnóstico prévio, a pandemia afetou todos os aspectos da vida de todos os jovens”, disse a professora Selina Kikkenborg Berg, do Hospital Universitário de Copenhague, na Dinamarca, em comunicado.

    A maioria dos estudos anteriores de Covid longa em jovens teve como foco os adolescentes, sendo bebês e crianças pequenas raramente representados. Nesta pesquisa, os questionários foram enviados para os responsáveis por crianças e adolescentes de 0 a 14 anos que testaram positivo para Covid-19 entre janeiro de 2020 e julho de 2021.

    No total, foram recebidas respostas para quase 11 mil crianças que tiveram a doença. Os dados foram comparados por idade e sexo com informações de saúde de 33 mil crianças que nunca foram diagnosticadas laboratorialmente para a doença.

    Os participantes foram perguntados sobre 23 sintomas mais comuns da Covid longa em crianças, a partir, identificados pelo Long Covid Kids Rapid Survey. Para o estudo, foi considerada a definição da Organização Mundial da Saúde (OMS) de Covid longo, como sintomas com duração superior a dois meses.

    Os sintomas mais comumente relatados entre crianças de 0 a 3 anos foram alterações de humor, erupções na pele e dores de estômago. Entre 4 e 11 anos, os sintomas mais comuns apontados foram alterações de humor, dificuldade para lembrar ou se concentrar e lesões na pele. Entre 12-14 anos, foram citados principalmente fadiga, alterações de humor e dificuldades de memorização e de concentração.

    Os resultados do estudo apontaram que crianças em todas as faixas etárias que tiveram Covid-19 apresentam maior probabilidade de ter pelo menos um sintoma por dois meses ou mais do que o grupo sem a doença, chamado tecnicamente de “controle”.

    Na faixa etária de 0 a 3 anos, 40% das crianças diagnosticadas com Covid-19 (478 de 1.194 crianças) apresentaram sintomas por mais de dois meses, em comparação com 27% dos controles (1.049 de 3.855 crianças).

    Para a faixa etária de 4 a 11 anos a proporção foi de 38% dos casos (1.912 de 5.023 crianças) em comparação com 34% daqueles sem a doença (6.189 de 18.372 crianças). Para a faixa de 12 a 14 anos, 46% dos casos (1.313 de 2.857 crianças) em comparação com 41% dos controles (4.454 de 10.789 crianças) apresentaram sintomas de longa duração.

    Na faixa etária de 4 a 11 anos, 38% das crianças com Covid-19 apresentaram sintomas por mais de dois meses / Foto: Terry Vine/Getty Images

    Recortes do estudo

    Os tipos de sintomas não específicos associados à Covid longa são frequentemente sentidos por crianças saudáveis. Dor de cabeça, alterações de humor, dor abdominal e fadiga são sintomas de doenças comuns que as crianças vivenciam que não estão relacionados à infecção pelo coronavírus.

    No entanto, o estudo revelou que crianças com a doença eram mais propensas a apresentar sintomas duradouros do que aquelas que nunca tiveram um diagnóstico positivo, sugerindo que esses sintomas eram uma apresentação da Covid longa.

    Os achados são apoiados pelo registro de aproximadamente um terço das crianças com a doença que apresentam sintomas que não estavam presentes antes da infecção pelo SARS-CoV-2. Além disso, com o aumento da duração dos sintomas, a proporção de crianças com esses sintomas tendeu a diminuir.

    De acordo com o estudo, as crianças diagnosticadas com Covid-19 geralmente relataram menos problemas psicológicos e sociais do que as crianças do grupo controle.

    Em grupos etários mais velhos, os pacientes geralmente se sentiam menos assustados, tinham menos problemas para dormir e se sentiam menos preocupados com o que aconteceria com eles.

    Os pesquisadores sugerem que uma provável explicação é o aumento da conscientização sobre a pandemia nas faixas etárias mais avançadas, sendo que as crianças do grupo de controle enfrentavam o medo da doença desconhecida e uma cotidiano mais restrito por se protegerem da infecção.

    “O conhecimento da carga de sintomas de longo prazo em crianças positivas para SARS-CoV-2 é essencial para orientar o reconhecimento clínico, o cuidado dos pais e as decisões sociais sobre isolamento, restrições, intervenções não farmacológicas e estratégias de vacinação”, diz Selina.

    A especialista afirma que as descobertas da pesquisa se alinham com estudos anteriores de Covid longa em adolescentes.

    “Embora as chances de crianças terem Covid longa sejam baixas, especialmente em comparação com grupos de controle, ela deve ser reconhecida e tratada com seriedade. Mais pesquisas serão benéficas para tratar e entender melhor esses sintomas e as consequências a longo prazo da pandemia nas crianças daqui para frente”, conclui.

    “[Embora] o estudo tenha descoberto que sintomas de qualquer tipo eram um pouco mais frequentes em crianças infectadas com SARS- CoV-2, o impacto geral nas crianças por terem tido Covid-19 é provavelmente pequeno e provavelmente muito menor do que o impacto dos efeitos indiretos da pandemia”, disse a pesquisadora Maren Rytter, da Universidade de Copenhague, na Dinamarca, que não esteve envolvida no estudo.