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    Estudo afirma que olhar para luz vermelha pode prevenir problemas de visão

    O conceito foi testado em um estudo pequeno, que recrutou apenas 12 homens e 12 mulheres, com idades variando de 28 a 72 anos

    Ryan Prior, , da CNN

    Olho humano.
    As luzes vermelhas podem ajudar a evitar danos às mitocôndrias na retina, o que leva à diminuição da visão.
    Foto: KAREN BLEIER/AFP/Getty Images

    Será tão fácil quanto escovar os dentes ou fazer a barba e, de acordo com estudos futuros, um hábito que poderá salvar sua visão.

    Alguns minutos olhando para uma luz vermelha profunda podem ter um sério efeito na prevenção da diminuição da visão à medida que envelhecemos, de acordo com um novo estudo publicado esta semana em “The Journals of Gerontology”.

    Se os resultados forem replicados em estudos futuros e aprovados pela FDA, a agência reguladora de medicamentos e alimentos dos EUA, essa descoberta poderá trazer uma nova era na qual milhões de pessoas terão acesso a uma terapia caseira fácil. A luz vermelha representaria uma nova camada de proteção contra os processos naturais de envelhecimento que roubam a sensibilidade de nossos olhos à luz e a capacidade de distinguir cores.

    “Você não precisa usar a luz por muito tempo para começar a obter um resultado forte”, explicou Glen Jeffery, o principal autor do estudo e professor de neurociência do Instituto de Oftalmologia da University College London.

    De acordo com Jeffery, o método funciona, porque a luz vermelha estimula a saúde das mitocôndrias, que são como baterias em nossas células.

    Há um outro aspecto importante: como as mitocôndrias estão envolvidas em uma ampla gama de doenças, ideias como essa pode ajudar a levar a novos tratamentos para doenças como Parkinson e diabetes.

    Só leva alguns minutos

    O conceito foi testado em um estudo pequeno, que recrutou apenas 12 homens e 12 mulheres, com idades variando de 28 a 72 anos. Cada participante recebeu uma pequena lanterna de mão que emitia uma luz vermelha com um comprimento de onda de 670 nanômetros, que fica no final do longo do espectro visível — um pouco antes do comprimento de onda do infravermelho, que tende a ser invisível ao olho humano.

    Os participantes passaram três minutos por dia olhando para a luz ao longo de duas semanas.

    A luz age tanto nos cones quanto nos bastonetes, os dois tipos de células dos olhos. Os cones são células fotorreceptoras que detectam cores e funcionam melhor em situações bem iluminadas. Já os bastonetes, muito mais abundantes, são células da retina que nos ajudam a ver com pouca luz, de acordo com a American Academy of Ophthalmology (AAO). 

    Os pesquisadores mediram a função dos cones nos olhos dos participantes, identificando letras coloridas com baixo contraste. Outro parâmetro foi a sensibilidade dos bastonetes, medida quando os participantes tentavam detectar sinais de luz no escuro.

    Houve uma melhoria de 14% na capacidade de ver cores ou na sensibilidade ao contraste de cores dos cones em todos os 24 participantes.

    A melhoria, no entanto, foi mais significativa nos participantes do estudo acima dos 40 anos. Para essa parcela, a sensibilidade ao contraste da cor do cone aumentou 20% ao longo do estudo.

    Essa faixa etária também viu aumentos significativos no limiar dos bastonetes, o que corresponde à capacidade de ver com pouca luz. Os participantes do estudo com menos de 40 anos também experimentaram algumas melhorias, mas não tiveram o mesmo salto que os indivíduos mais velhos. Ou seja, a visão dos mais jovens não havia diminuído tanto quanto a dos mais velhos.

    “A retina envelhece mais rápido do que qualquer outro órgão do corpo”, afirmou o principal autor do estudo. “De uma perspectiva evolutiva, basicamente nunca viveríamos muito além dos 40 anos”.

    Agora, é claro, vivemos regularmente muito além dessa idade e precisamos encontrar maneiras de nutrir os órgãos que, por milênios, têm maior probabilidade de se desgastar mais cedo na vida.

    Adultos com 40 anos ou mais têm maior risco de doenças oculares, como catarata, retinopatia diabética, glaucoma e degeneração macular relacionada à idade, de acordo com os Centros para Controle e Prevenção de Doenças (CDCs) dos EUA.

    Tais doenças podem ocorrer em jovens, mas sua prevalência aumenta com a idade. Nos estágios iniciais, as condições são tratáveis, embora possam começar a se desenvolver antes que os sintomas apareçam.

    É por isso que a AAO recomenda aumentar os exames oftalmológicos regulares entre dois e quatro anos após os 40 anos e em intervalos de um a dois anos a partir dos 65 anos.

    O CDC observa que a progressão dessas doenças também pode ser retardada pela ingestão de uma dieta rica em antioxidantes e pelos níveis normais de açúcar no sangue, do peso corporal e da pressão arterial. Se esses indicadores saem da faixa recomendada, podem causar mais degeneração, rompendo os vasos sanguíneos nos olhos, de acordo com a American Heart Association (AHA).

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    É fácil e seguro de usar

    O novo estudo em humanos baseia-se em resultados obtidos em moscas-das-frutas e em ratos, que também mostraram que a luz vermelha pode melhorar o funcionamento das mitocôndrias nessas cobaias.

    Por exemplo, um estudo de 2015 mostrou que a luz infravermelha próxima pode estimular a produção de energia, melhorar a mobilidade e prolongar a vida útil das moscas-das-frutas. Outro, de 2017, sobre a luz vermelha visível na borda do infravermelho, mostrou uma melhoria de 25% no funcionamento das retinas em ratos.

    Estudos de segurança independentes de longo prazo sobre luzes vermelhas em humanos teriam que obter benefícios semelhantes para que esse método de proteção da visão fosse aprovado pela FDA. Além disso, seria necessário usar um produto devidamente avaliado sob a supervisão de um médico.

    Por exemplo, embora uma caneta laser pointer aprovada pela FDA para venda nos EUA não cause danos aos olhos, um estudo de caso publicado no “New England Journal of Medicine” em 2018 relatou como um menino na Grécia machucou permanentemente um olho depois mirar um laser verde com ele.

    De acordo com o professor Jeffery, as luzes vermelhas usadas no estudo são seguras.

    Todos os pesquisadores testaram as luzes vermelhas em seus próprios olhos antes de iniciar o estudo e não encontraram efeitos negativos. Os participantes da pesquisa também não relataram efeitos negativos.

    Isso se encaixa com pesquisas anteriores, nas quais a segurança das luzes vermelhas já foi estabelecida há muito tempo, de acordo com o doutor Raj Maturi, professor associado da Faculdade de Medicina da Universidade de Indiana.

    “Seria um caminho muito fácil para a aprovação do FDA”, comentou.

    Mais estudos são necessários

    Embora essas luzes não sejam prejudiciais, Maturi disse que ainda não está pronto para recomendar as luzes como totalmente úteis, pois este estudo piloto não possuía um grupo controle de pacientes que poderia ter sido expostos a uma luz fictícia emitida. Os resultados encontrados neste pequeno estudo de 24 participantes podem não se sustentar numa população maior, de acordo com o especialista. 

    Dos indivíduos acima de 40 anos investigados, as características individuais de alguns deles seriam suficientes para fazer com que as melhorias na visão parecessem mais fortes do que realmente são.

    “O conjunto de dados pode ser reduzido para três ou quatro sujeitos”, notou Maturi.

    Segundo o médico, embora os participantes tenham melhorado a maneira como viram o eixo da cor azul, não tiveram ganhos estatisticamente significativos com o eixo da cor vermelha.

    Para testar de fatos essa ideia, será necessário um estudo controlado, duplo-cego, com um grupo maior de sujeitos e um monitoramento mais longo ao longo do tempo.

    Os benefícios das luzes LED 

    As luzes LED funcionam nessa arena por causa do que os cientistas chamam de teoria mitocondrial do envelhecimento, na qual humanos e animais envelhecem à medida que os danos se acumulam nas mitocôndrias e no DNA mitocondrial.

    Portanto, estimular as mitocôndrias para reduzir os danos é uma maneira de retardar o envelhecimento em geral. Nossas retinas estão repletas de mitocôndrias — na verdade, têm a maior concentração de mitocôndrias do corpo.

    Essa é a principal razão pela qual Jeffery e seus colegas tentaram testar as luzes vermelhas em uma área específica do envelhecimento, como o declínio da visão. As mitocôndrias absorvem comprimentos de onda mais longos da luz, o que fez da luz quase infravermelha a escolha perfeita para o estudo.

    As luzes vermelhas podem melhorar a função em uma variedade de doenças, particularmente nas mitocôndrias daqueles que estão envelhecendo com doenças como a de Parkinson, observou ele.

    “Toda doença pode ter um ângulo mitocondrial. No diabetes, por exemplo, as mitocôndrias estão muito perturbadas”, afirmou Jeffery.

    Cada novo estudo do gênero traz o mesmo desejo humano de afastar processos naturais e universais.

    “Todos nós vamos sofrer com o envelhecimento. Então, vamos tentar ir com calma se pudermos”, concluiu.

    (Texto traduzido, clique aqui para ler o original em inglês). 

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