Estudo aponta redução de quase dois anos na expectativa de vida no Brasil
De acordo com os dados coletados por Harvard e outras universidades, a maior queda na expectativa de vida ocorreu na região norte, com o pior índice visto no AP
A pandemia tem sido tão catastrófica no Brasil que o número de mortos pela doença comprometeu a longevidade da população. De acordo com uma pesquisa de universidades norte-americanas em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que avaliou demograficamente a taxa de mortos em 2020, a expectativa de vida do brasileiro foi reduzida, em média, 1,94 anos – regredindo a patamares vistos em 2013.
O estudo preliminar “Reduction in the 2020 Life Expectancy in Brazil after COVID-19“, publicado na última sexta-feira (9) e ainda não revisado por pares, foi conduzido por cientistas da UFMG, no Brasil, e das universidades de Harvard, Princeton e da Universidade do Sul da California, nos Estados Unidos.
De acordo com os dados coletados, o estado que apresentou a pior queda foi o Distrito Federal, com diminuição na expectativa de vida equivalente a 3,68 anos.
Já a região que apresentou a maior queda foi a norte, com o pior índice visto no Amapá, com redução de 3,62 anos. No Amazonas, estado que sofreu no início do ano com alta mortalidade e falta de leitos, a expectativa de vida reduziu em 3,28 anos, marca antes registrada em 2007. O estado de Minas Gerais registrou a menor queda, de 1,18 anos.
O estudo também analisou a taxa de mortalidade entre gêneros e idades e concluiu que homens, aos 65 anos, tiveram queda maior na expectativa de vida. Tanto a expectativa de vida ao nascimento quanto aos 65 anos foi medida, segundo os pesquisadores, pelo alto risco de mortalidade pela Covid-19 aos mais idosos.
A Dra. Marcia Castro, do departamento de saúde global e população da Universidade de Harvard, e responsável por conduzir o estudo, comentou em sua rede social que “entre 2000 e 2020, o Brasil ganhou 6.94 anos em expectativa de vida ao nascer; 28% perdidos por causa do Covid-19. No Amazonas, o ganho havia sido 5.51 anos, e 60% foi perdido por causa do Covid-19.”
O Brasil vinha em constante crescimento nos níveis de expectativa de vida – ou seja, uma criança nascida em 2004 pode ter uma vida mais longa que uma nascida em 1994. Segundo o estudo, “entre 1945 e 2020, a expectativa de vida ao nascer no Brasil aumentou de 45,5 para 76,7, uma média de quase cinco meses por ano”.
Com a pandemia, o cenário mudou – em comparação aos impactos da Covid-19 nos Estados Unidos, por exemplo, o Brasil registrou uma queda na expectativa de vida 72% maior.
O estudo ainda aponta que quando um evento como uma guerra ou uma pandemia acontece, a expectativa de vida cai, mas geralmente retorna ao crescimento rapidamente. No entanto, os cientistas acreditam que isso não vai acontecer tão rapidamente com a pandemia de Covid-19 no Brasil, podendo resultar em quedas na mortalidade a longo prazo.
Para esta conclusão, estudiosos apontam cinco razões: (1) o alto número de hospitalizações e uma campanha de imunização proporcionalmente baixa; (2) a redução na prevenção, no tratamento e no diagnósticos de doenças; (3) relatos de sintomas e sequelas pós-Covid vêm surgindo com muita frequência; (4) os impactos econômicos da Covid-19, aumentando a desigualdade e a pobreza da população e; (5) reduções no orçamento da saúde e mudanças no sistema de financiamento do SUS podem comprometer na elevação da expectativa de vida.
Os cientistas ainda alertam que “enquanto muitos países aceleram a cobertura de vacinação e testemunham quedas em casos e mortes, o Brasil caminha na direção oposta”. Os pesquisadores ressaltam também os riscos à saúde nacional e segurança global ao não se ter uma resposta coordenada de combate à pandemia.
“Sem uma mudança na coordenação de resposta à pandemia, lockdowns imediatos para conter o aumento atual e um rápido aumento na administrando vacinas, o Brasil logo se tornará uma séria ameaça à saúde nacional e segurança global. As consequências, infelizmente e inaceitavelmente, continuarão a ser medidas em vidas perdidas e as consequências demográficas futuras podem ser ainda piores”.