HIV: o que é carga viral e por que a adesão ao tratamento interrompe a transmissão
Entenda como funciona o tratamento do HIV e por que pessoas com carga viral indetectável não transmitem o vírus

HIV é a sigla em inglês para “vírus da imunodeficiência humana”. Biologicamente, o HIV faz parte da categoria dos retrovírus, sendo classificado em uma subfamília chamada Lentiviridae. Vírus desse tipo contam com um período de incubação prolongado antes do surgimento dos primeiros sintomas, podem infectar as células do sangue e do sistema nervoso, além de atacar o sistema imunológico.
A Aids (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) é a forma grave da infecção pelo HIV. No entanto, nem todas as pessoas infectadas pelo HIV desenvolvem a Aids, e o tratamento é fundamental para evitar que isso aconteça.
O que acontece durante a infecção
Os vírus são estruturas microscópicas simples, de tamanho menor que outros parasitas como fungos e bactérias. Eles precisam necessariamente de uma célula viva para sobreviver e se multiplicar.
Quando um vírus invade o organismo, ele adere às células humanas com o objetivo de se instalar e produzir inúmeras cópias de si mesmo. Esse processo acontece repetidas vezes, dando início à infecção.
Na primeira fase, chamada de infecção aguda, ocorre a incubação do HIV, que é o período entre a exposição ao vírus e o surgimento dos primeiros sinais da doença. A incubação pode variar de três a seis semanas. Já os primeiros anticorpos contra o vírus são produzidos pelo organismo de 30 a 60 dias.
Durante a infecção pelo HIV, as inúmeras cópias do vírus têm como alvo principal células de defesa chamadas linfócitos T-CD4+, conhecidas comumente como glóbulos brancos. Essas células do sistema imune são responsáveis por identificar, memorizar e destruir agentes invasores, que podem ser vírus, bactérias, entre outros microrganismos.
O que é carga viral e como funciona o tratamento
Carga viral é a quantidade de vírus presente no sangue do paciente – ou seja, quanto mais cópias o vírus produz, maior é a carga viral no organismo.
O tratamento do HIV é realizado a partir do uso de medicamentos antirretrovirais, que impedem justamente o processo de replicação viral no organismo humano. Ao bloquear a produção de novas cópias do vírus, os medicamentos agem na redução da carga viral no sangue.
O Ministério da Saúde recomenda que o exame de carga viral seja realizado a cada seis meses, para o monitoramento da infecção e da adesão ao tratamento. O objetivo do tratamento é reduzir a carga viral a níveis indetectáveis pelos exames clínicos, para evitar o enfraquecimento do sistema imune.
Indetectável = Intransmissível (I = I)
Pessoas vivendo com HIV em tratamento e com carga viral indetectável há pelo menos seis meses não transmitem o vírus por via sexual. O termo Indetectável = Intransmissível (I = I) é adotado por cientistas e instituições de referência sobre o HIV em abrangência mundial.
Entre as referências do conceito estão três amplos estudos sobre a transmissão sexual do HIV entre milhares de casais sorodiferentes, situação em que um dos parceiros vive com HIV e o outro não.
Nas pesquisas, realizadas entre 2007 e 2016, não foram detectados casos de transmissão sexual do HIV a partir de uma pessoa que vive com HIV com carga viral suprimida para o parceiro com a sorologia negativa.
Os estudos foram publicados nos principais periódicos científicos do mundo, incluindo a revista Lancet, o New England Journal of Medicine (NEJM) e o Journal of the American Medical Association (JAMA).
“Nesses estudos, se verificou que quando o parceiro infectado pelo HIV estava com a carga viral abaixo do limite de detecção do teste, que normalmente são 40 cópias do vírus por ml de sangue, ou seja uma quantidade de vírus muito baixa mesmo, não houve transmissão. Por isso, se estabeleceu o conceito de indetectável é igual a intransmissível”, explica a pesquisadora Sylvia Teixeira, virologista do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), no Rio de Janeiro.
No Brasil, o conceito é descrito em nota informativa do Ministério da Saúde publicada em 2019. No documento, a pasta reforça que o conhecimento sobre a transmissibilidade do HIV contribui para reduzir o estigma da doença.
“Uma correta compreensão sobre transmissibilidade/intransmissibilidade tem efeitos positivos sobre o estigma e o autoestigma, direitos sexuais e reprodutivos, testagem, vinculação aos serviços de saúde e adesão ao tratamento”, diz o ministério.
Em dezembro de 2018, o Ministério da Saúde lançou a campanha “Indetectável”, que reúne uma série de depoimentos de pessoas de diferentes idades que relatam como é viver com o vírus e a carga viral em níveis indetectáveis.
Avanço nas tecnologias contra o HIV
Os primeiros medicamentos antirretrovirais surgiram ainda na década de 1980. Em março de 1987, a Food and Drug Administration (FDA), órgão semelhante à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no Brasil, aprovou o primeiro medicamento para o tratamento da Aids, a Zidovudina (também chamada de azidotimidina ou AZT).
Os primeiros remédios apresentavam fortes efeitos colaterais, o que tornava difícil a adesão ao tratamento.
Com o avanço da tecnologia em áreas como a medicina, a virologia e a farmacologia, além de reduzir a carga viral e preservar as funções do sistema imune, o uso regular dos remédios contribui para aumentar a qualidade de vida das pessoas que vivem com HIV.
Com o funcionamento adequado das defesas do organismo, também são reduzidos os riscos de internações e de infecções oportunistas.
Os antirretrovirais são distribuídos no Brasil pelo Sistema Único de Saúde (SUS) desde 1996. São pelo menos 22 medicamentos, em 38 apresentações farmacêuticas diferentes, de acordo com o Ministério da Saúde.
A Anvisa aprovou um novo medicamento para o tratamento de HIV que combina duas substâncias diferentes em um único comprimido. O novo medicamento reúne a lamivudina e dolutegravir sódico, já utilizadas atualmente como remédios separados no esquema de tratamento antirretroviral.
O ministério preconiza o início do tratamento logo após o diagnóstico do HIV. Os testes podem ser realizados de forma gratuita em Centros de Testagem e Aconselhamento (saiba onde fazer o teste).
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Filadélfia (1993): Andrew Beckett, advogado homossexual, é demitido ao ter o diagnóstico revelado. Ele contrata Joe Miller, um advogado homofóbico, para levar o caso aos tribunais
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Boa Sorte (2014): internado em uma clínica psiquiátrica, o adolescente João conhece Judite, que vive com HIV. Os dois se apaixonam e vivem um romance que muda a forma com a qual ele vê a vida
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Cazuza (2004): o filme mostra a trajetória profissional e pessoal do músico brasileiro Cazuza, desde o início da carreira em 1981 até a morte em 1990 devido às complicações causadas pela Aids
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Clube de Compras Dallas (2013): no drama, Matthew McConaughey é um eletricista diagnosticado com o HIV em 1986, quando as informações sobre o vírus ainda eram limitadas. O personagem recusa o prognóstico e busca tratamentos alternativos em meio ao contrabando de medicamentos
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Bohemian Rhapsody (2018): o drama conta a história do cantor britânico Freddie Mercury (1946-1991), vocalista da banda Queen, que viveu com HIV
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Kids (1995): o filme apresenta um grupo de adolescentes da cidade de Nova York, nos Estados Unidos, que usam drogas e fazem sexo desprotegido. Uma das personagens, que só teve um parceiro, recebe um diagnóstico positivo para o HIV
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Preciosa (2009): Claireece "Preciosa" Jones, interpretada por Gabourey Sidibe, é uma adolescente que sofre uma série privações e de abusos, inclusive do próprio pai. Ela descobre o diagnóstico de HIV ao saber que o pai morreu devido a complicações da Aids
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Meu Querido Companheiro (1990): um dos primeiros filmes a falar abertamente sobre a Aids, o longa aborda um grupo de amigos gays preocupados com as primeiras informações sobre a doença
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Um Lugar Para Annie (1994): em 1986, Annie Morston de 3 meses de vida dá entrada em um hospital diagnosticada com o HIV. Abandonada pela mãe, usuária de drogas, ela é acolhida por uma das enfermeiras
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Jeffrey (1995): a comédia romântica ambientada em Manhattan, nos Estados Unidos, conta a história de Jeffrey, um homem gay que renunciou ao sexo por causa da Aids, no auge da epidemia
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Paris is Burning (1991): o documentário foi gravado em diferentes períodos da década de 1980 mostrando retratos da comunidade LGBTQIA+ na cidade de Nova York. Artistas falam sobre a Aids e temas como homofobia e transfobia, além de racismo e pobreza
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A Difícil Escolha (1995): o longa conta a história de Rosemary Holmstrom (Linda Hamilton), uma viúva e mãe de um filho de 8 anos. Ao descobrir o diagnóstico positivo, ela se preocupa com o futuro da criança após sua morte
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Yesterday (2004): em um lugarejo da África do Sul, Yesterday vive com a filha Beauty. Doente, ela enfrenta diversos desafios em busca de atendimento médico até receber o diagnóstico de HIV
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The Normal Heart (2014): o drama dirigido por Ryan Murphy narra o surgimento nos Estados Unidos da Aids, associada erroneamente aos homossexuais no início da década de 1980
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Holding the Man (2015): o drama conta a história de dois jovens, Tim e John, que se apaixonam ainda adolescentes, durante o ensino médio. Separados por diversas questões, os dois voltam a se encontrar em meados da década de 80, diante de um diagnóstico positivo para o HIV
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