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    Hospitais do Rio registram escassez de medicamentos para intubação

    Governo do estado anunciou a chegada de 39.300 frascos de medicamentos que compõem o kit intubação

    Ana Lícia Soares e Camille Couto, da CNN, no Rio de Janeiro

    No estado do Rio de Janeiro faltam medicamentos para intubação e extubação de pacientes na rede federal, estadual, em hospitais municipais e até na rede particular. 

    O chamado “kit intubação” é composto por três classes de medicamentos: analgésicos, hipnóticos e bloqueadores neuromusculares. Juntos, eles permitem que uma pessoa seja sedada para ser intubada sem nenhum tipo de sofrimento enquanto estão acometidas por um caso grave, como os de Covid-19

    Fontes ouvidas pela produção da CNN apontam que o Hospital Federal dos Servidores do Estado só está realizando cirurgias oncológicas ou de emergência. As cirurgias eletivas estão suspensas. A medida foi adotada devido à falta do kit intubação.  

    No Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, também falta medicamento para intubar pacientes. A solução encontrada, ainda segundo fontes, foi usar medicação semelhante, mas com efeitos inferiores na comparação com sedativos considerados ideais para esses casos. 

    A medida também tem sobrecarregado a equipe médica, que precisa aplicar uma quantidade maior de sedativo em um intervalo de tempo menor para alcançar o efeito necessário para o procedimento. 

    Nas redes municipal e estadual de saúde, a reportagem da CNN identificou escassez no Hospital Ronaldo Gazolla, em Acari; no Hospital Getúlio Vargas, na Penha; e no Hospital Universitário Pedro Ernesto, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Todas as unidades ficam na zona norte da cidade. 

    Em nota, o hospital Ronaldo Gazolla informou que a unidade dispõe das medicações necessárias para a intubação dos pacientes. O secretário municipal de Saúde do Rio, Daniel Soranz, diz que as unidades municipais, estaduais e federais têm os medicamentos para três dias. 

    “Todos os hospitais municipais, estaduais federais, todas essas unidades têm hoje um abastecimento para três dias e elas remanejam. A gente tem remanejado entre toda a rede pra que não falte em nenhuma unidade e a gente consiga manter um equilíbrio nesse fornecimento”, disse.

    De acordo com a secretaria de estado de Saúde, falta kit intubação em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, Paracambi, na Região Metropolitana, em Nova Friburgo, na Região Serrana, e Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense.  

    Na rede privada, profissionais também relataram a escassez de medicamentos para intubar pacientes com coronavírus e denunciam o aumento de preço para a aquisição dos medicamentos que compõem o kit intubação. 

    Para o médico Graccho Alvim, diretor da Associação de Hospitais do Estado do Rio de Janeiro (Aherj), a situação é crítica e o aumento nos preços dos remédios atrapalha ainda mais a luta contra a doença. 

    “Tem medicamentos com aumento registrado de 400%, um deles é a heparina, que atua impedindo a formação de coágulos sanguíneos”, explicou. O diretor do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj), Yuri Salles, explica que a escassez de sedativo não acontece somente no Brasil.

    “A gente tem uma distribuição nacional que consegue adequar a nossa necessidade normal muito bem. O problema é que em uma pandemia você tem mais demanda por serviço de saúde do que consegue atender. Nós demos a orientação para usar de forma inteligente (o medicamento), usar outras opções de anestésicos.”, disse. 

    Atualmente, a taxa de ocupação de leitos de unidade de terapia intensiva no Rio é de aproximadamente 90% nos hospitais particulares. Em nota, o Ministério da Saúde informou que aguarda a chegada de 2,3 milhões de medicamentos para intubação. Os insumos foram doados por um grupo de empresas formado pela Petrobras, Vale, Engie, Itaú Unibanco, Klabin e Raízen.

    Os medicamentos saíram da China nesta quarta-feira (15). Assim que chegarem ao Brasil serão distribuídos imediatamente aos estados com estoques críticos dos insumos. Ainda de acordo com a pasta, o Hospital Federal dos Servidores do Estado (HFSE) disse que as cirurgias eletivas foram suspensas para a dedicação ao atendimento de pacientes com Covid-19, assim como em todas as Unidades Federais no Rio de Janeiro.

    Leitos de UTI no Hospital Ronaldo Gazzola, na zona norte do Rio de Janeiro
    Leitos de UTI no Hospital Ronaldo Gazzola, na zona norte do Rio de Janeiro, durante pandemia da Covid-19
    Foto: Wilton Júnior/Estadão Conteúdo (10.mar.2021)

    A Secretaria de Estado de Saúde (SES) informa que realizou nesta quinta-feira (15) a distribuição dos medicamentos para intubação para 36 unidades em 25 municípios, o que equivale à distribuição de 85% das unidades dos medicamentos para esse fim recebidos esta semana. 
    A secretaria informa que recebeu 39.300 frascos de Atracúrio de 5mL na concentração de 10 mg/mL.

    A previsão é que o medicamento dure uma semana. Com essa entrega será realizada uma nova liberação aos municípios neste sábado (17), conforme disponibilidade em estoque.

    A Direção Geral do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) informou que a dificuldade de compras tem deixado a equipe clínica do hospital apreensiva uma vez que vem aumentando a demanda com a crescente dos casos de Covid-19. A maioria das empresas tem alegado dificuldades para atender aos pedidos e suprir os estoques clínicos.

    A Superintendência de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos (SAFIE) destaca que o suprimento desses medicamentos nas unidades de saúde é de responsabilidade das Organizações Sociais (OS) de cada unidade e/ou do município gestor. 

    Entretanto, em apoio à crescente demanda do momento, a SES, além da compra já mencionada, também realiza repasses dos medicamentos enviados pelo MS, de forma equânime e com participação do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde (COSEMS), para as unidades e municípios que constam no Plano Estadual de Contingência para Enfrentamento da Covid-19.

    Procurada, a secretaria municipal de Saúde (SMS) informou que há previsão de recebimento de novas remessas nos próximos dias. “A SMS trabalha com o remanejamento dos insumos entre as unidades” diz a nota. O Ministério da Educação também foi procurado para explicar a falta de sedativos no Hospital Federal Clementino Fraga Filho, da UFRJ, mas ainda não enviou resposta.

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