Sputnik Light começa a ser usada na América Latina; saiba mais sobre a vacina
Imunizante de dose única demostrou eficácia de 79,4% contra a infecção pelo coronavírus, mas seu uso não foi autorizado pela OMS
Embora ainda não tenha o sinal verde da Organização Mundial da Saúde (OMS), a vacina Sputnik Light começa a despontar na América Latina. Nesta semana, a vacina contra Covid-19 em dose única, criada pelo Instituto Gamaleya, começou a ser aplicada em jovens de 18 a 29 anos na Nicarágua, um dos dois países da região que já autorizou seu uso. Isso é o que você deve saber sobre a droga.
Como funciona o Sputnik Light?
Sputnik Light é o nome com o qual a Rússia batizou o primeiro componente de sua vacina de duas doses Sputnik V.
Milhões de pessoas em todo o mundo a receberam como parte do esquema de vacinação da Sputnik V, mas agora o país aposta em seu uso como uma vacina de dose única.
A Sputnik Light usa, além da segunda dose da Sputnik V, uma espécie de vírus do resfriado humano como vetor, explica Élmer Huerta, especialista em Saúde Pública, neste episódio do podcast “Coronavírus: realidade vs. ficção”.
O vírus Sputnik Light é o Ad26, diferente do segundo componente do Sputnik V, que é o vírus Ad5.
“Essa tecnologia de usar vírus como vetores ou cavalos de Tróia para introduzir segmentos genéticos do novo coronavírus é a mesma que é usada, entre muitas outras, pelas empresas Johnson & Johnson, AstraZeneca e CanSino da China”, explica Huerta.
Qual é a sua eficácia?
De acordo com o Fundo Russo de Investimento Direto (RDFI), a Sputnik Light demonstrou eficácia de 79,4% contra o coronavírus nos dados analisados 28 dias após sua aplicação durante o programa de vacinação na Rússia entre dezembro e abril.
Além disso, sempre de acordo com a mesma fonte, é 70% eficaz contra a variante delta três meses após a aplicação e 75% eficaz em menores de 65 anos.
De acordo com a Reuters, o RDFI declarou que esse era o percentual de eficácia com base nas informações que o Instituto Gamaleya forneceu ao site médico medRxiv antes de uma revisão por pares.
Os dados, de acordo com a agência, são baseados em 28 mil participantes que receberam a Sputnik Light e um grupo controle de 5,6 milhões de pessoas não vacinadas na Rússia.
Quem aprovou e quem fará a Sputnik Light?
Mais de 15 países aprovaram a Sputnik Light, de acordo com o RDFI. Entre eles, além da Nicarágua, a Venezuela, segundo o site de rastreamento de vacinas Covid-19 da Universidade McGill.
A vacina será produzida em mais de 10 países, segundo o RDFI, que incluem Argentina e México, além da China e Índia, onde o Instituto Serum participará.
No final de maio, o chanceler mexicano, Marcelo Ebrard, anunciou que a estatal Birmex embalaria a Sputnik V e que trabalharia com a RDFI para que a Sputnik Light pudesse ser fabricada no país latino-americano.
Pode ser misturada com outras vacinas?
Na Argentina, Rússia e nos Emirados Árabes Unidos, entre outros países, está em andamento estudos conjuntos com outros fabricantes de vacinas para estudar a combinação da Sputnik Light com outras injeções, de acordo com a RDFI.
A agência russa destaca o ensaio argentino onde, afirma, estuda a segurança e a resposta imunológica ao combinar a Sputnik Light com as vacinas da AstraZeneca, Sinopharm, Cansino e Moderna, tanto em Buenos Aires como nas províncias de Córdoba, San Luis e La Rioja.
“Os resultados iniciais do estudo confirmam um perfil de alta segurança das combinações, sem eventos adversos graves relacionados à vacinação”, diz ele.
Cerca de 1.100 voluntários participaram do estudo, e 12 combinações diferentes foram testadas.
Eles afirmam ainda que os resultados preliminares de um estudo feito no Azerbaijão mostram que a mistura do primeiro componente da Sputnik V com o da AstraZenca gera anticorpos e é seguro.
Serve como uma dose de reforço?
Segundo o Fundo Russo para Investimento Direto, quando usada como reforço para outras vacinas, é mais de 94% eficaz contra hospitalização e mais de 83% eficaz contra infecções.
Por que a OMS ainda não o autorizou?
Quando o Fundo Russo para Investimento Direto solicitou à OMS a autorização da vacina Sputnik V, ele solicitou autorizações separadas para os dois componentes que assinam o Sputnik V, disse à Reuters Kirill Dmitriev, diretor da agência.
Por isso, quando essa vacina receber o sinal verde, a Sputnik Light também o receberá automaticamente, segundo Dmitriev.
O processo de autorização da Sputnik V foi suspenso até 20 de outubro, explicou recentemente a Dra. Mariângela Simão, Subdiretora-Geral, em entrevista coletiva.
Segundo Simão, o fabricante do Sputnik V ainda não havia entregue todos os documentos necessários para a avaliação do aplicativo e o tempo de espera “depende da rapidez com que os fabricantes enviam os dados”.
Em setembro, Jaime Barbosa, subdiretor da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), havia relatado que o processo de autorização do medicamento estava suspenso desde junho porque “foram encontradas condições em uma fábrica de produção de Sputnik na Rússia que não são as necessárias para ter boas práticas de fabricação”.
Na altura, disse que aguardam os fabricantes implementarem as medidas necessárias para fazer outra inspeção e certificar as condições.
Até o momento, a OMS autorizou o uso emergencial das vacinas da Pfizer / BioNTech, Janssen (Johnson & Johnson), Moderna, AstraZeneca / Oxford, Sinopharm e Sinovac-CoronaVac, além das fabricadas sob licença da AstraZeneca pela sul-coreana SK Biociências e Instituto Serum (Covisheld).
Os três primeiros também contam com o aval das autoridades sanitárias dos Estados Unidos, enquanto os dois fabricados na China também são aplicados em vários países da América Latina.
Além da Sputnik V, eles não têm a aprovação da OMS, entre outras, da Novavax (americana) e das cubanas Abdala e Soberana.
*Com informações de Alejandra Ramos.
(Texto traduzido. Leia aqui o original em espanhol.)