"Virou meu grito de liberdade", diz homem que perdeu 83 kg com corrida

João Ricardo e outros corredores amadores contam como o esporte foi importante para superar desafios pessoais e equilibrar saúde mental

Gabriela Maraccini, da CNN
João Ricardo pesava 180 kg aos 19 anos, e conseguiu perder 83 kg por meio da corrida  • João Ricardo/Arquivo Pessoal
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João Ricardo Santos Medeiros chegou a pesar 180 kg quando tinha 19 anos. Diagnosticado com obesidade grau três, o jovem iniciou seu processo de emagrecimento. A princípio, iria passar pela cirurgia bariátrica, mas, temendo pela vida, decidiu perder peso do jeito tradicional: através do exercício físico, primeiro com a caminhada e a hidroginástica, e, em seguida, com a corrida. Após 11 meses, emagreceu 83 kg.

Hoje, com 33 anos, João Ricardo considera que a corrida salvou sua vida e foi seu grito de liberdade. "Eu sempre falei que a corrida é uma metáfora da vida. Eu não corro para disputar pódio. Eu corro porque é uma forma de me desafiar. É a minha competição comigo mesmo", declara em entrevista à CNN.

Para João, além dos benefícios físicos e estéticos conquistados pela corrida, o esporte é seu ponto de equilíbrio para a saúde mental. Pai de uma criança de cinco anos que vive em outra cidade, ele corre pensando em seu filho. "Quando participo de uma prova, eu coloco uma foto dele no papel de parede. Eu penso nele a cada quilômetro, é como uma terapia", afirma. "A corrida virou meu grito de liberdade, minha celebração diária de estar vivo".

"Superação e vontade de viver"

A corrida traz inúmeros benefícios para a saúde mental já reconhecidos pela ciência. Estudos mostraram que a prática de exercícios aeróbicos, incluindo a corrida, estimula a liberação de neurotransmissores como serotonina e endorfina, que contribuem para a melhora do humor.

Um trabalho publicado em 2021 mostrou que o exercício físico regular pode reduzir em até 60% os riscos para o desenvolvimento da ansiedade. Já uma pesquisa nacional publicada neste ano sugeriu que qualquer nível de atividade física está associada à redução do risco de sintomas depressivos.

Porém, para algumas pessoas, assim como João Ricardo, a corrida vai além: é um sinônimo de superação. A bailarina e dançarina Ariane Guisso, de 26 anos, esteve ligada à atividade física desde os seis anos, e a corrida fazia parte do seu treino de condicionamento físico para a dança. Porém, em 2023, ela sofreu um acidente ao ter um mau súbito enquanto pilotava uma moto.

Com o ocorrido, sofreu lesões na lombar, escápulas, crânio, clavículas, caixa torácica e perfurou o pulmão. "Eu ouvi dos médicos que não iria voltar a andar normalmente por conta da lombar quebrada e que eu teria que desistir da minha profissão como dançarina", relembra à CNN.

Apesar do prognóstico ruim, Ariane não aceitou sua nova realidade. Em meio às sessões de fisioterapia, voltou a sentir vontade de correr e decidiu se adaptar e se preparar para voltar à ativa. "Na minha visão, a única opção que eu tinha era encarar e ser forte", conta. "Eu não tinha a opção de me vitimizar ou viver o resto da minha vida como estavam me falando. Eu, sendo uma pessoa tão ativa, não aceitava isso para mim", completa.

Ariane, então, começou aos poucos: completou as sessões de fisioterapia, intercalou com musculação para recuperar a força e volume muscular e voltou com as caminhadas e, posteriormente, corridas. "A corrida, para mim, é superação e vontade de viver", declara.

Ariane Guisso, de 26 anos, quase ficou paralítica após um acidente de moto, mas superou as limitações com ajuda da corrida • Ariane Guisso/Arquivo Pessoal
Ariane Guisso, de 26 anos, quase ficou paralítica após um acidente de moto, mas superou as limitações com ajuda da corrida • Ariane Guisso/Arquivo Pessoal

"A corrida é um gesto de amor à vida"

Para Carlos Alberto Rezende, mais conhecido como Professor Carlão, a corrida sempre esteve presente na sua vida, porém seu estilo de vida não era o mais saudável: fumou por 35 anos e se alimentava mal. Em 2015, foi diagnosticado com uma doença rara chamada aplasia medular severa, caracterizada pela produção insuficiente de células sanguíneas pela medula óssea.

Por conta de seu quadro de saúde, que levou a uma anemia grave, Carlão precisou ser internado às pressas, receber transfusão de sangue. Em 2016, precisou passar por um transplante de medula óssea. "A partir daí, a minha vida mudou", afirma à CNN. "Eu decidi usar a corrida para a minha reinserção nesse mundo tão bacana e competitivo [do esporte], mas já como transplantado e grato por ter uma segunda chance".

Aos poucos, com ajuda de um professor de educação física, Carlão voltou a realizar caminhadas rotineiras e, depois, corridas. Participou de provas de cinco quilômetros e, em 2017, decidiu correr sua primeira São Silvestre. Depois, foi integrado ao time brasileiro de atletas transplantados e, em 2018, participou dos Jogos Americanos para Transplantados, nos Estados Unidos, e, em 2019, do Mundial para Transplantados, na Inglaterra.

"Antes da corrida, eu não tinha essa disciplina com a atividade física. Mas agora eu encaro como esse compromisso de cuidar de nós mesmos, da nossa casa, da nossa morada eterna que é o nosso corpo", afirma.

Professor Carlão fumou por 35 anos, foi diagnosticado com doença rara e recebeu um transplante de medula óssea em 2016; a corrida foi sua forma de mudar de vida • Carlão/Arquivo Pessoal
Professor Carlão fumou por 35 anos, foi diagnosticado com doença rara e recebeu um transplante de medula óssea em 2016; a corrida foi sua forma de mudar de vida • Carlão/Arquivo Pessoal

Além da corrida, Carlão é fundador do Instituto Sangue Bom, que incentiva a doação de sangue, de medula óssea e de órgãos. Através do projeto, ele promove corridas e outras atividades para conscientizar sobre a importância de ser um doador. "A corrida é um gesto de amor à vida e de gratidão a Deus e ao meu doador pela possibilidade de continuar vivo", declara.

Maratona do Rio como realização de sonho

As histórias de João Ricardo, Ariane e Carlão não se cruzam apenas pelas conquistas e superações pessoais. Os três estiveram no Rio de Janeiro em junho para a Maratona do Rio.

Para Ariane, correr a meia maratona (21 km) foi seu primeiro grande desafio após o acidente. "Quando eu me inscrevi, ainda não tinha voltado a correr, ainda estava tentando recuperar a minha musculatura, mas eu tive fé", declara.

Já para João Ricardo, que correu 10 e 21 km, a Maratona do Rio não foi seu primeiro desafio, mas foi um grande marco em sua trajetória. "Os 10 km trouxeram a minha superação pessoal, e os 21 km trouxeram essa mística, esse sentimento de ajudar o outro, de encontrar pessoas no percurso, te incentivar", afirma.

Apesar de já ter conquistado mais de 450 medalhas com corridas de rua, a Maratona do Rio foi a realização do sonho de Carlão. "Para nós que somos do esporte, essa corrida é marcante, é vital", declara.

Quer começar a correr também? Veja essas dicas

A corrida é um dos esportes mais acessíveis e completos que existem, oferecendo benefícios cardiovasculares, metabólicos, psicológicos e funcionais. Mas para que a prática seja segura, é preciso tomar alguns cuidados, principalmente quando é iniciante. As principais dicas incluem:

  • Fazer um check-up da saúde cardiovascular e metabólica;
  • Procurar orientação de um profissional de educação física;
  • Aumente o volume de treino de forma gradual;
  • Invista em um bom tênis;
  • Use roupas adequadas;
  • Mantenha uma alimentação saudável e a boa hidratação;
  • Aqueça o corpo antes da corrida.

Veja, com mais detalhes, todas as dicas para começar a correr de forma segura.