Dó de robô? Estudo mostra que não é preciso muito para sentir

Pesquisa faz parte da tese de doutorado de Marieke Wieringa, cientista da Radbound University

Caroline Ferreira, da CNN
Seres humanos podem desenvolver sentimentos de pena por robôs
Seres humanos podem desenvolver sentimentos de pena por robôs  • Cortesia Apptronik
Compartilhar matéria

Cientistas da Radbound University, na Holanda, estudam o fenômeno de seres humanos desenvolverem o sentimento de pena de um robô. A conclusão faz parte do estudo de Marieke Wieringa, que defenderá sua tese no próximo dia 5 de novembro.

Ainda que o robô não sinta e nem reconheça a dor, o homem, considerado um ser emocional, pode estar mais inclinado a acreditar que isso aconteça, especialmente se for manipulado de maneira correta. "Se um robô consegue fingir sentir dor emocional, as pessoas se sentem mais culpadas se o tratam mal", explica Wieringa.

Testes com participantes diante da violência contra robôs

Na tese, Marieke e seus colegas investigaram como as pessoas agem diante da violência contra robôs. Para isso, vários testes foram realizados.

"Alguns participantes assistiram a vídeos de robôs que foram maltratados ou bem tratados. Às vezes, pedimos aos participantes que sacudissem os robôs eles mesmos. Tentamos todas as variações: às vezes o robô não respondia, às vezes sim — com sons lamentáveis ​​e outras respostas que associamos à dor", contou a cientista.

A partir dos testes foi possível perceber que o robô atormentado desencadeou mais pena: os participantes estavam menos dispostos a sacudir o robô novamente. “Se pedíssemos aos participantes para sacudir um robô que não demonstrasse emoção, eles não pareciam ter nenhuma dificuldade com isso", acrescentou.

Os participantes também foram convidados a escolher: completar uma tarefa chata ou dar uma sacudida no robô. Se os participantes escolhessem sacudir o robô por mais tempo, isso significava que eles não teriam que executar a tarefa por tanto tempo.

“A maioria das pessoas não teve problema em sacudir um robô silencioso, mas assim que o robô começou a fazer sons lamentáveis, eles escolheram fazer a tarefa chata em vez disso", entregou.

Tamagotchi é um bom exemplo

Wieringa também alertou que é apenas uma questão de tempos até que as empresas passem a explorar a manipulação emocional.

“As pessoas ficaram obcecadas com Tamagotchis por um tempo: animais de estimação virtuais que acionavam emoções com sucesso. Mas e se uma empresa fizesse um novo Tamagotchi que você tivesse que pagar para alimentar como um animal de estimação? É por isso que estou pedindo regulamentações governamentais que estabeleçam quando é apropriado que chatbots, robôs e outras variantes sejam capazes de expressar emoções", conta.

Apesar das considerações, Marieke pontua que a proibição completa das emoções não seria boa. “É verdade que robôs emocionais teriam algumas vantagens. Imagine robôs terapêuticos que pudessem ajudar as pessoas a processar certas coisas", cita.

"Em nosso estudo, vimos que a maioria dos participantes achou bom quando o robô desencadeou pena: de acordo com eles, isso sinalizou que comportamento violento não é ok. Ainda assim, precisamos nos proteger contra riscos para pessoas que são sensíveis a emoções 'falsas'. Gostamos de pensar que somos seres muito lógicos e racionais que não caem em nada, mas no final do dia, também somos guiados por nossas emoções. E isso é bom, caso contrário, seríamos robôs nós mesmos", conclui.