Oceano mais ácido pode afetar dentes dos tubarões, diz estudo
À medida que as emissões de carbono aumentam, o oceano absorve mais dióxido de carbono da atmosfera, reduzindo os níveis de pH e tornando a água do mar mais ácida

Como a crise climática afetará um dos predadores mais ferozes do oceano? Uma nova pesquisa publicada nesta quarta-feira (27) examinou o que pode acontecer com os dentes altamente especializados e cortantes dos tubarões.
À medida que as emissões de carbono aumentam, o oceano absorve mais dióxido de carbono da atmosfera, reduzindo os níveis de pH e tornando a água do mar mais ácida — um processo que pode afetar muitas espécies e ecossistemas marinhos.
“Como já se sabe que a acidificação dos oceanos danifica estruturas calcificadas, como corais e conchas, quisemos investigar se os dentes dos tubarões — especialmente em espécies que nadam com a boca aberta para ventilar as brânquias e ficam constantemente expostas à água do mar — também poderiam ser vulneráveis”, diz Maximilian Baum, biólogo da Universidade Heinrich Heine, em Düsseldorf, na Alemanha, e autor principal do estudo publicado na revista Frontiers in Marine Science.
“Nosso principal achado é que não apenas organismos pequenos, como corais ou moluscos, estão em risco: até os dentes de predadores do topo mostram danos visíveis em condições acidificadas, sugerindo que a acidificação dos oceanos pode impactar os tubarões de forma mais direta do que se supunha anteriormente”, acrescenta Baum por e-mail.
Baum e seus colegas coletaram 600 dentes naturalmente perdidos por 10 tubarões-de-recife-de-pontas-negras (Carcharhinus melanopterus), mantidos no aquário Sea Life Oberhausen, na Alemanha. A maioria das espécies de tubarão perde e repõe dentes constantemente, mas a taxa de substituição varia de alguns dias a várias semanas, dependendo da espécie.
Os pesquisadores selecionaram 16 dentes sem danos e 36 com pequenos danos e os colocaram em dois tanques de água de 20 litros durante oito semanas, com diferentes níveis de pH.
A água salgada no tanque de controle tinha pH de 8,2, próximo à média atual dos oceanos, enquanto o outro tanque continha água mais ácida, com pH de 7,3 — o valor projetado para o ano 2300, segundo estudo de 2003 publicado na revista Nature.
De acordo com a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA), desde o início da Revolução Industrial, há mais de dois séculos, o pH da superfície dos oceanos caiu 0,1 unidade, o que representa um aumento de aproximadamente 30% na acidez.
Comparados aos dentes incubados em pH 8,2, os expostos à água mais ácida apresentaram “danos visíveis na superfície, como rachaduras e buracos, aumento da corrosão da raiz e degradação estrutural”, diz Sebastian Fraune, professor da Universidade Heinrich Heine e diretor do Instituto de Zoologia e Interações Organísmicas, em comunicado. Ele foi o autor sênior do estudo.
Esses danos, segundo os pesquisadores, podem levar a mudanças na forma como os tubarões encontram e digerem alimentos.
“Muitas espécies de tubarão usam várias fileiras de dentes ao mesmo tempo, e dentes individuais podem permanecer em uso por semanas ou até meses. Assim, os danos cumulativos podem reduzir a eficiência de alimentação e aumentar as demandas energéticas — especialmente em espécies com ciclos de substituição mais lentos e muitas fileiras de dentes usadas simultaneamente”, explica Baum.

Como o estudo se concentrou em dentes de tubarões mantidos em aquário, ele apresenta limitações, apontou Ivan Nagelkerken, professor de ecologia marinha na Universidade de Adelaide, na Austrália.
Primeiro, não está claro se o experimento reproduziu as mesmas condições presentes na boca de um tubarão vivo. Segundo, o estudo usou um cenário “extremo” de acidificação, assumindo que os gases de efeito estufa continuariam a ser emitidos na taxa atual até 2300.
Nagelkerken não participou da nova pesquisa, mas foi coautor de um estudo em 2022, baseado em uma espécie diferente de tubarão criada em tanques com vários níveis de pH, que concluiu que os dentes dos tubarões eram relativamente resistentes à acidificação dos oceanos.
“O novo estudo testou efeitos corrosivos extremos em dentes já perdidos — isso pode não representar necessariamente o que os tubarões enfrentarão em um oceano futuro, nem indicar se isso afetará seu consumo alimentar”, afirma Nagelkerken à CNN por e-mail.
Baum e seus colegas concordaram que seu estudo tem limitações, observando que “nossas descobertas representam apenas os efeitos químicos da acidificação dos oceanos em tecidos mineralizados não vivos”. No entanto, ele afirma que sua equipe abordou a questão de uma perspectiva diferente, e que seus resultados estão alinhados a outros trabalhos que mostraram efeitos visíveis.
“Nosso estudo focou em dentes naturalmente perdidos porque atualmente há muito poucos dados sobre esse tema. Ao isolar os efeitos químicos da água do mar acidificada sobre a estrutura mineralizada em si, queremos fornecer uma linha de base para entender a vulnerabilidade dos dentes de tubarão”, diz Baum.
“Essa abordagem complementa estudos anteriores com animais vivos e ajuda a destacar os possíveis danos em tecidos duros expostos, como os dentes”, acrescenta.
Os dentes dos tubarões são fundamentais para seu sucesso ecológico e, como predadores do topo, eles são importantes para a saúde geral dos ecossistemas marinhos, ressaltou Baum.
“Se os tubarões e sua resiliência forem enfraquecidos pela acidificação dos oceanos, em combinação com outros fatores de estresse, como a pesca excessiva e a poluição por plásticos, isso pode desencadear efeitos em cascata e dominó em muitos ecossistemas marinhos.”