Rosto de mulher que viveu há 10.500 anos é reconstruído com DNA antigo
Pesquisadores descobrem que ela tinha olhos azuis e pele mais clara que outros europeus da época, desafiando teorias sobre uniformidade genética no período Mesolítico

Pesquisadores que estudam os restos mortais de uma mulher pré-histórica que viveu há cerca de 10.500 anos no que hoje é a Bélgica produziram uma reconstrução de seu rosto usando DNA antigo.
Uma equipe liderada por cientistas da Universidade de Ghent descobriu que a mulher teria olhos azuis e pele um pouco mais clara do que a maioria das outras pessoas do período Mesolítico na Europa Ocidental analisadas até hoje, segundo um comunicado da universidade na terça-feira (17).
Isabelle De Groote, arqueóloga da Universidade de Ghent que lidera o projeto de pesquisa sobre a Bélgica Mesolítica, disse à CNN que a mulher pertencia ao mesmo grupo populacional do Homem de Cheddar, que viveu no que hoje é o Reino Unido aproximadamente na mesma época, mas tinha a pele mais clara.
As descobertas desafiam suposições anteriores de que os caçadores-coletores europeus compartilhavam a mesma composição genética, e demonstram que já havia considerável variação na cor da pele entre diferentes populações, disse De Groote.
"A partir do crânio, pudemos determinar que ela tinha entre 35 e 60 anos de idade", disse De Groote à CNN na quarta-feira (18).
"Ela também tinha um nariz com ponte nasal alta, semelhante ao Homem de Cheddar", acrescentou De Groote. "Ela também tem arcadas superciliares pronunciadas, apesar de ser mulher."
Os restos mortais da mulher foram encontrados na caverna Margaux em Dinant durante uma escavação arqueológica em 1988-1989, junto com os corpos de outras oito mulheres, disse De Groote.
Esta foi "uma descoberta incomum", já que a maioria dos sítios de sepultamento do Mesolítico contém uma mistura de homens, mulheres e crianças, acrescentou ela.
"Muitos dos esqueletos foram polvilhados com ocre, uma prática associada a comportamento ritual ou simbólico", disse De Groote.
A maioria dos corpos foi cuidadosamente coberta com fragmentos de pedra, enquanto um indivíduo apresentava marcas de corte no crânio que foram feitas após sua morte, acrescentou ela.
"Também é interessante que esta caverna funerária foi usada durante um período de várias centenas de anos, de modo que eram lugares de memória aos quais as pessoas retornavam, apesar de seu estilo de vida móvel de caçadores-coletores", disse De Groote.
"Essas descobertas apontam para costumes funerários complexos e levantam questões intrigantes sobre a estrutura social e as práticas culturais desta antiga comunidade de caçadores-coletores", acrescentou.
Philippe Crombé, arqueólogo da universidade que faz parte da equipe do projeto, disse que a cor da pele da mulher antiga foi "uma pequena surpresa", mas há um número limitado de pessoas do Mesolítico para comparação.
"Todos os indivíduos até agora analisados com DNA antigo na Europa Ocidental pertenciam ao mesmo grupo genético", disse ele.
"Então é um pouco surpreendente, mas por outro lado, é de se esperar que na vasta área da Europa Ocidental haja alguma variabilidade, como existe hoje."
Quando os restos mortais foram recuperados, não havia como realizar pesquisas em DNA antigo, disse Crombé.
"As técnicas se desenvolveram desde a escavação", disse ele à CNN na quarta-feira (18), acrescentando que o projeto interdisciplinar é "uma reanálise de antigas escavações usando métodos de última geração."
Crombé detalhou como DNA de "qualidade bastante boa" foi extraído do crânio da mulher, permitindo a criação de "uma reconstrução muito detalhada."
A cor de sua pele, cabelo e olhos é toda baseada em DNA antigo, enquanto outros elementos como suas joias e tatuagens são baseados em dados arqueológicos obtidos de outras escavações na bacia do Rio Meuse, que também permitiram construir um panorama de sua vida cotidiana.
Em uma escavação – um antigo acampamento às margens do rio – os cientistas encontraram ferramentas de pedra, ossos de caça selvagem e restos de peixes, disse Crombé, fornecendo evidências de que essas pessoas seriam nômades.
"Eles ainda se movimentavam porque dependiam inteiramente de recursos naturais: caça selvagem, plantas selvagens, peixes", disse ele. "Então isso os forçava a se moverem pela paisagem e a mudarem seus assentamentos."
Muitas questões permanecem sobre essas comunidades Mesolíticas, que foram os últimos caçadores-coletores da Europa Ocidental, disse Crombé.
Agora a equipe está analisando os restos mortais para reconstituir as relações entre as pessoas que foram enterradas juntas, e também planeja estudar até que ponto elas teriam se alimentado de peixes, acrescentou ele.