Startup cria escudo para proteger astronautas e satélites do lixo espacial
Com um número crescente de satélites e objetos espaciais sendo lançados, uma startup está oferecendo escudos protetivos contra detritos hipersônicos

Não é novidade para ninguém que grande parte da poluição que atinge a superfície terrestre, os oceanos e a atmosfera vem de sistemas econômicos que priorizam lucro de curto prazo sobre a sustentabilidade. Agora, essa triste realidade chegou também ao espaço orbital, onde mais de 130 milhões de pedaços de detritos orbitam a Terra.
O pior é que essa montanha de lixo espacial, que aumenta exponencialmente a cada dia, já que constelações de satélites — como a Starlink, da SpaceX — precisam ser constantemente ampliadas e renovadas. Muitas dessas espaçonaves acabam caindo de volta na Terra, mas esse processo pode demorar até 10 anos.
Como cerca de 90% desse tráfego descontrolado se concentra na chamada LEO (órbita baixa terrestre) — com altitudes entre 160 e 2 mil km acima da superfície do planeta — a velocidade orbital dos objetos pode chegar a 7-8 km/s (cerca de 28,8 mil km/h), pois nessa região quase não há arrasto atmosférico (resistência do ar).
Para proteger satélites e astronautas de impactos desses detritos em velocidades hipersônicas — até 20 vezes a velocidade do som — uma startup norte-americana chamada Atomic-6 está propondo uma solução inovadora: as placas de blindagem Space Armor, feitas com um compósito de polímero desenvolvido por processo de fabricação confidencial.
A empresa garante que sua tecnologia é mais leve, mais fina e mais eficaz do que os sistemas de blindagem tradicionais. Nesse sentido, o grande diferencial dos novos “escudos” é não bloquear nem distorcer os sinais das ondas eletromagnéticas usadas em comunicações (rádio, Wi-Fi, radar e satélite).
Risco das colisões hipersônicas e necessidade de novas proteções
Na LEO, tanto os detritos espaciais (pedaços de satélites quebrados, parafusos, fragmentos de pintura) quanto as espaçonaves ativas (como um satélite Starlink de 260 kg ou uma estação espacial) se movem a velocidades hipersônicas. Isso faz com que até um parafuso milimétrico acumule uma energia cinética imensa, devido à sua altíssima velocidade.
Por isso, esse pedacinho de metal invisível a olho nu pode colidir de frente com um satélite. Um impacto desse tipo pode perfurar tanques de combustível (causando vazamentos ou explosões), rasgar partes estruturais da nave, danificar baterias e circuitos elétricos, e até mesmo comprometer sistemas de suporte à vida, no caso de veículos tripulados.
Visto que empresas aeroespaciais — como a SpaceX e o Projeto Kuiper, da Amazon — projetam o envio de mais de 100 mil novas espaçonaves até 2030, em comparação com cerca de 10 mil atualmente em órbita, agências reguladoras têm exigido reforços na proteção dos veículos, para evitar a criação de mais detritos no espaço.
Isso demanda a criação de novos materiais e escudos espaciais, pois a forma de blindagem mais usada atualmente — os escudos Whipple, inventados em 1947 — apesar de pesados e espessos, não bloqueiam fragmentos maiores que 1 cm e, por serem feitos de metais opacos à radiofrequência, bloqueiam sinais de rádio e comunicações.
Além disso, sua composição metálica gera um problema crítico: ao sofrer impactos, fragmentam-se de forma violenta, lançando destroços secundários ao espaço — muitas vezes maiores que o projétil original — que ameaçam outros satélites e podem danificar o próprio sistema que deveriam proteger.
Como comprar uma placa Space Armor na Atomic-6?

Em um comunicado oficial, a Atomic-6 apresenta as placas Space Armor como “o primeiro escudo orbital contra detritos permeável a radiofrequência (RF), capaz de resistir a impactos e permitindo comunicações de rádio essenciais para a missão, de e para o satélite que protegem”. Além disso, elas não quebram nem se estilhaçam quando atingidas por detritos.
Desenvolvido ao longo de um ano e meio de pesquisas e testes, o produto foi fabricado com um compósito polimérico secreto que mistura fibras e resinas em proporções não divulgadas. Autoadesivas, as placas medem 30 cm por 30 cm e 2,5 cm de espessura, podendo ser fabricadas sob encomenda em tamanhos de até 1 m por 1 m.
As placas blindadas são oferecidas pela empresa de Atlanta (EUA) em duas versões escaláveis, cada uma disponível em configuração permeável ou bloqueadora de radiofrequência — ou seja, que permite ou bloqueia a passagem de ondas, conforme a necessidade da missão.
A primeira versão — a Space Armor Lite — é mais leve e foi criada para proteger satélites contra micropedaços de lixo espacial com até 3 mm de diâmetro, que, embora não rastreáveis por radares e sensores terrestres, representam mais de 90% de todos os fragmentos existentes na órbita baixa (LEO).
Mais encorpada, a Space Armor Max foi desenvolvida para suportar impactos de detritos quatro vezes maiores do que os impedidos pela versão Lite: 12,5 mm de diâmetro. Mais resistente, essa versão é voltada especificamente à proteção de ambientes habitados no espaço, como estações espaciais ou bases orbitais.
Embora a Atomic-6 esteja aceitando pedidos de cotação para suas placas Space Armor, não há preços públicos divulgados no site nem nos comunicados. Ou seja, a empresa só fornece os valores mediante demanda e negociação. Esse tipo de sistema é estimado pela NASA entre US$ 50 mil e US$ 100 mil por metro quadrado.


