Ilhas remotas são invadidas por pessoas que tentam fugir do coronavírus
Fluxo intenso de veículos para destinos rurais da Escócia levou moradores locais a reagirem alarmados; autoridades dizem que visitantes não são bem-vindos
Com tantas pessoas em cidades populosas enfrentando semanas de confinamento em casa, é compreensível que algumas tenham considerado ir para lugares mais remotos em busca de liberdade e ar fresco.
No entanto, o fluxo intenso de veículos de passeio e outros tipos de transporte para alguns desses destinos mais rurais levou os moradores locais a reagirem alarmados, pedindo para as pessoas permanecerem afastadas para evitar levar infecções e sobrecarregar os recursos de saúde limitados.
A situação tem sido especialmente grave na região das Terras Altas da Escócia, uma área com baixa densidade populacional e com paisagens formadas por montanhas e ilhas, considerada uma das mais belas atrações turísticas do Reino Unido.
A situação chegou ao ponto de as autoridades locais emitirem avisos e dizerem às pessoas, inclusive às que são proprietárias de casas de campo, que elas não são bem-vindas no momento.
“Por favor, não venha para as Terras Altas para fazer seu isolamento”, tuitou Kate Forbes, ministra de Finanças da Escócia e representante das Terras Altas no Parlamento escocês.
“Os moradores daqui estão tentando seguir as orientações do governo, e o fluxo contínuo de vans e outros tipos de veículos de pessoas que parecem estar fugindo das cidades não está ajudando.”
Medo do coronavírus
Foram confirmados 416 casos de coronavírus na Escócia até a terça-feira (24). Apenas 8 são nas Terras Altas, e a região espera manter a situação assim.
As ilhas da Escócia estão especialmente preocupadas com o impacto do coronavírus em suas pequenas comunidades.
Angus MacNeil, um político morador de Barra, ilha que faz parte das Ilhas Hébridas Exteriores na costa oeste da Escócia, postou no Twitter uma imagem da simples Câmara Municipal de Castlebay equipada com leitos básicos de hospital. Ele acrescentou que não havia respiradores nas ilhas.
As ilhas de Barra e Vatersay também recorreram às redes sociais para se declararem “fechadas”.
“Vamos abrir novamente e ficaremos muito felizes em recebê-los”, diz a conta oficial da ilha de Barra no Twitter. “Mas neste momento estamos cuidando de nossa comunidade, aquilo que torna nossa região tão especial.”
Enquanto isso, o ministro do Turismo e Economia Rural da Escócia, Fergus Ewing, juntou-se ao coro de moradores pedindo que não residentes fossem embora desses locais remotos, publicando uma advertência contra viagens desnecessárias no site do governo escocês.
“Estou furioso com o comportamento negligente e irresponsável de algumas pessoas que estão viajando para as Terras Altas da Escócia e as ilhas. Isso tem de parar agora”, declarou Ewing.
“Quero ser bem claro: as pessoas não devem viajar para ilhas e comunidades rurais. Ponto. Elas estão colocando vidas em perigo. Não viagem.”
Apenas casos essenciais
A primeira-ministra da Escócia, Nicola Sturgeon, anunciou no domingo que viagens de balsa por toda a Escócia serão feitas apenas para deslocamentos essenciais.
A operadora de balsas Caledonian MacBrayne publicou em uma nota: “A partir de agora as balsas funcionarão para os moradores das ilhas que têm necessidade de viajar para o continente, e para [o fornecimento de] suprimentos e negócios essenciais. Nada mais. O regresso de não residentes das ilhas para o continente também será considerado uma viagem essencial”.
A situação na Escócia reverberou em outras partes do mundo. Na Noruega, há relatos de pessoas avisadas para não irem para suas casas de campo por razões semelhantes.
Sheila Gilmore, da região de Arran, uma ilha na costa oeste da Escócia com acesso somente via duas rotas de balsa, disse que aqueles buscando fugir podem se arrepender.
“Eu entendo as pessoas pensarem que a solução é ir para um lugar mais calmo, que talvez elas tenham uma casa de campo que normalmente colocariam para alugar”, disse Gilmore, diretora-executiva da VisitArran e do Arran Trust, à CNN.
“Mas a realidade é que em Arran não temos a infraestrutura para lidar. Na verdade, ninguém tem a infraestrutura para lidar com essa situação, esteja onde estiver. Mas em uma ilha isso é ainda mais remoto.”
Recursos limitados
Gilmore disse que os habitantes das ilhas dependem das balsas para trazer alimentos e suprimentos médicos.
Além disso, ela salienta que embora a ideia de passar por essa crise cercado por belas paisagens pareça atraente, no longo prazo as pessoas podem se arrepender da decisão de se mudar para a casa de campo.
“Quando você está em seu ambiente, em casa, você pode dizer: ‘Quer saber, vou costurar aquelas cortinas que já queria arrumar faz tempo, ou vou pintar esse quarto’. Mas se você está em um ambiente que não é o do seu dia a dia, você pode pensar: ‘Mas o que é que eu vou fazer?'”
Gilmore diz ainda que ela sabe que as pessoas vão viajar para Arran por diversos motivos: algumas possuem familiares, outros são estudantes de escolas e universidades fechadas por conta da crise e precisam de um lugar para ficar.
“Não se pode generalizar”, afirma. “Entendemos os argumentos das pessoas e o que estamos dizendo é: por favor, pensem nos recursos limitados que temos em uma ilha como a nossa”.