Indígenas criam visitação online para manter excursões em áreas protegidas
Viagem digital é tentativa para reativar o turismo local; passeio tem duração de 2 horas e desbrava a comunidade Nova Esperança, em Manaus


(Foto: Nathália Segato)
É através do Relatório Anual de Gestão Indígena 2020 da Funai que podemos conhecer um mapeamento atualizado dos povos indígenas brasileiros: o levantamento feito até 2019 pela Fundação, o IBGE, a SESAI e o Ministério da Cidadania nos conta que somam exatas 7.103 localidades indígenas distribuídas em 827 municípios brasileiros. Desses, 632 são terras oficialmente delimitadas. O restante constitui 5.494 agrupamentos, sendo 4.648 dentro de terras indígenas e 846 fora desses territórios. As demais são denominadas outras localidades, aquelas onde há presença de povos, mas a uma distância mínima entre os domicílios.
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Turismo. Não é novidade: o setor turístico como um todo foi bastante impactado pela pandemia da Covid-19. No Brasil de 2020, por exemplo, houve uma redução no índice de atividades em 36,7%, comparado ao mesmo período de 2019, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. O estado do Amazonas, epicentro da pandemia brasileira, registrou uma queda de 66% no faturamento do setor, segundo pesquisa da Rede Observatório de Turismo da Universidade do Amazonas em parceria com a Amazonastur.

O resultado é uma queda alta na visitação das áreas protegidas, unidades de conservação e terras indígenas, onde o turismo é uma estratégia fundamental para o apoio à conservação das terras e do bem-estar dos povos. Na Amazônia, por exemplo, muitas comunidades vêm se organizando há décadas para se inserirem na atividade turística de forma mais ativa. É o caso da Comunidade Nova Esperança, localizada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Puranga Conquista, no município de Manaus, que recebia visitantes de todo o mundo para uma experiência em uma comunidade da etnia Baré (No Brasil, há, ao todo são 305 etnias diferentes, segundo o último censo do IBGE atualizado em novembro de 2020). Na visita, era possível participar das atividades cotidianas das famílias, além da oportunidade de adquirir produtos artesanais feitos pelos artesãos.

Universo online como solução. Foi quando a comunidade Nova Esperança driblou a falta de visitantes presenciais com visitas virtuais. “A partir do momento em que os turistas não puderam mais chegar aqui, a geração de renda da comunidade foi prejudicada. Não sabíamos como enfrentar isso. Aí pensamos em realizar o turismo de forma virtual”, diz Joarlisson Garrido, da etnia Baré e líder do grupo de turismo de base comunitária e de artesãos da comunidade Nova Esperança.
Fizeram uma parceria com a Agência de turismo Braziliando, que apoiou na formação e orientação para o manuseio do aplicativo e da plataforma para conectar, transmitir e interagir em tempo real. Nasceu então a viagem online Conexão Baré. Ana Taranto, sócia fundadora da Braziliando, afirma que a Conexão Baré foi a forma encontrada de seguir apoiando os parceiros indígenas de Nova Esperança na pandemia. “Esta foi também a alternativa que enxergamos para seguirmos promovendo experiências autênticas e transformadoras na Amazônia”.

Wifi ligado? Vamos nessa. As primeiras vivências aconteceram em 2020 e atraiu amantes da natureza e da cultura Amazônica. As viagens virtuais acontecem assim:
Próxima turma: 22/05
Embarque: o visitante recebe materiais de imersão da cultura local. No dia marcado, entra na plataforma de videoconferência e aí a viagem começa.
A experiência: há um sobrevoo pela floresta, um passeio por Manaus e, aí, seguem para navegar pelos rios Negro e Cuieiras até se conectarem com os anfitriões. A viagem dura cerca de 2h30 e custa R$ 120 por pessoa.
Passeio não fica gravado: logo após o tour todos os participantes recebem um álbum com as fotos dos momentos da viagem.