Saiba por que saunas viraram uma tendência mundial de consumo

Para algumas pessoas, a ideia de suar entre desconhecidos semidespidos, dentro de uma pequena cabine de madeira aquecida a 100 °C, parece mais uma forma de tortura do que um momento de descanso e relaxamento. Para outras, porém, a sauna é puro prazer.

“Sou viciada nisso”, diz Taeko Takahashi-Williams, 22, funcionária do Community Sauna Baths, no bairro de Hackney Wick, no leste de Londres, na Inglaterra. Ela fala sorrindo ao sair de uma das sete cabines do local. “Fico em êxtase depois da sauna.”

O fascínio é mundial. No Reino Unido, o número de saunas públicas saltou de 45 em 2023 para 147 neste ano, segundo a British Sauna Society. A procura também cresce em países como Nova Zelândia, Estados Unidos e Austrália.

Fundado em 2021 por Charlie Duckworth, o Community Sauna Baths é uma organização sem fins lucrativos que oferece saunas elétricas e a lenha, banhos frios e eventos como meditação no vapor, sessões de respiração, ioga e leituras de poesia queer.

O sucesso foi tamanho que, em quatro anos, Duckworth e sua equipe abriram cinco novas unidades em Londres. Ele acredita que o interesse crescente pelo sauna acompanha outras tendências de bem-estar, como a redução do consumo de álcool entre os mais jovens.

“Principalmente entre quem tem de 25 a 40 anos, há uma busca maior por saúde, bem-estar e conexão”, afirma. No Reino Unido, ele diz, a sauna é “um dos poucos lugares onde dá pra se reunir como alternativa ao pub”.

Embora pesquisas apontem riscos como golpe de calor e recomendem cautela a quem tem doenças cardíacas instáveis, outros estudos destacam benefícios: redução do risco de doenças cardiovasculares e demência, melhora do humor e níveis mais altos de felicidade entre quem frequenta saunas regularmente.

Londres não é novata em modismos de bem-estar: danças extáticas, banhos de som e caminhadas sensoriais** já tiveram seu auge. Para os jovens de 20 a 40 anos, a sauna pode parecer apenas mais uma onda saudável da vez.

Mas, na Finlândia, a prática tem raízes milenares — cerca de 10 mil anos. A sauna é tão central na cultura finlandesa que, em 2020, entrou na **lista do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade da Unesco**.

Antigamente, as saunas eram essenciais na vida rural do país: serviam para eliminar piolhos, secar grãos e curar carnes. Hoje, fazem parte da rotina moderna. Há cerca de 3,3 milhões de saunas para 5,6 milhões de habitantes, espalhadas por apartamentos, escritórios e até — por um tempo — em um Burger King.

“Se há algo que define a identidade finlandesa, é a sauna”, diz Sergei Shkurov, representante da Visit Finland. Para ele, a sauna é “um lugar sagrado”: era onde se davam partos e onde os mortos eram lavados antes do enterro. “Ou seja, a sauna estava presente do início ao fim da vida de uma pessoa”, explica.

Na cidade de Tampere, ao sul do país — conhecida como a capital mundial da sauna —, há mais de 70 saunas públicos, e o número de visitantes só cresce.

Também surgem versões contemporâneas, que atraem tanto os finlandeses quanto turistas: há restaurantes flutuantes com sauna, tendas sobre o mar Ártico congelado e experiências exclusivas.

Em Mänttä, no sul da Finlândia, o Serlachius Museums inaugurou em 2022 o Art Sauna. As obras de arte não entram na sala quente, mas o complexo foi pensado para unir arquitetura, design e experiência sensorial.

“Não nos vemos apenas como uma instituição cultural, mas como um destino de viagem”, afirma o diretor Pauli Sivonen. Segundo ele, a sauna já recebeu visitantes de 23 países, entre eles Japão, Austrália e Nova Zelândia — muitos deles “fanáticos por sauna” que viajam o mundo em busca de experiências únicas.

“O essencial, claro, é aquela sensação de paz interior que todo sauna proporciona”, diz. “Mas o que torna este especial é o cuidado com o espaço, a arquitetura e o design.”

Diferente da forma quadrada tradicional, a sauna do Serlachius tem sala de vapor redonda e combina pedra, concreto e madeira. Projetado por arquitetos do México e da Eslovênia, o local enfrentou resistência de finlandeses mais puristas, que viram ali uma quebra da tradição. “Mas é justamente essa mistura de culturas que o torna belo”, defende Sivonen.

Ainda assim, ele reconhece a importância de preservar o legado finlandês. “É bonito termos uma sauna dentro de um museu”, afirma. “Museus, afinal, servem para guardar tradições.”

O espaço também funciona como ponto de encontro para moradores da região. Sivonen diz gostar de observar a interação entre locais e turistas da sauna.

Para Duckworth, em Londres, essa convivência também é essencial. Ele conta que vê pessoas idosas e jovens trocando experiências nas cabines e acredita que a sauna ajuda a “quebrar barreiras de idade, gênero e classe”.

A antropóloga e psicóloga Martha Newson, das universidades de Oxford e Greenwich, pesquisa o impacto da sauna na saúde mental e atribui boa parte dos benefícios ao vínculo social criado na experiência coletiva.

“Tudo se resume ao fato de que compartilhar algo assim nos faz sentir parte de um grupo”, explica. “Estar só de roupa de banho, suando junto, é algo muito íntimo. E ver corpos reais, num espaço sem julgamentos, faz muito bem à autoestima.”

No Community Sauna Baths de Hackney Wick, as amigas Millie Monks e Raychel Myara fazem uma pausa do calor e tomam chá de laranja com canela ao lado da fogueira. Myara, visitante ocasional, diz adorar “a energia do lugar”.

“É muito libertador ver tantas mulheres relaxando, conversando e rindo juntas”, comenta.

Monks começou a frequentar a sauna há dois anos e meio, como forma de se aquecer após nadar em piscinas ao ar livre e de criar laços com a comunidade.

Duckworth espera que o movimento vá além de uma moda passageira. “Deveria ser algo completamente normal”, diz. “No fim das contas, faz você se sentir bem. Se vier duas vezes por semana, vai se sentir mais feliz.”