San’in: a região menos populosa do Japão abriga alguns de seus melhores tesouros

Dificuldade de chegar à região se dá pelo fato dela não estar conectada ao sistema de trens rápidos do país

Claire Hannumda CNN , Matsue, Japão

San’in não é o Japão que a maioria dos viajantes imagina em sua primeira visita ao país. Não há outdoors de néon, arranha-céus ou cruzamentos lotados. Em vez disso, esta área no sudoeste de Honshu, a principal ilha do Japão, oferece uma variedade única de pontos de vista que os viajantes não encontrarão em nenhum outro lugar.

Espalhada por 14.200 quilômetros quadrados, possui fazendas orgânicas, práticas artísticas centenárias, ilhas históricas com ecologia única e, segundo a lenda, o ponto de encontro favorito dos deuses no mundo.

A maioria dos visitantes estrangeiros nunca viaja para lá. O famoso sistema ferroviário de alta velocidade do Japão não passa por San’in, o que a deixa fora do radar de muitos viajantes. Mas vale a pena uma visita.

A região de San’in consiste nas duas províncias menos populosas do Japão, Shimane e Tottori, que ficam entre o Mar do Japão e o lado norte das montanhas Chukogu do país.

Apenas cerca de um milhão dos 125 milhões de residentes do Japão vivem lá. “O Kojiki”, um importante texto xintoísta do século 8, descreve a região de San’in como um local de encontro anual para os deuses.

Um terço das histórias do texto se passa na região, com Shimane até sendo retratado como o local de nascimento do saquê (embora Nara e Hyogo gostem de entrar nesse assunto – todas as três regiões têm histórias importantes para compartilhar sobre seu papel na história da bebida).

Terra dos deuses

Contos da mitologia japonesa estão costurados nos destinos mais populares da região de San’in. O mais famoso deles é o Grande Santuário Izumo Taisha, que remonta aos anos 700. O santuário xintoísta é um dos mais antigos do Japão e, como diz o Kojiki, acredita-se ser uma parada na reunião anual dos deuses.

O santuário está associado a relacionamentos positivos e atrai muitos visitantes que rezam por amor ou casamento. Sua característica mais famosa é sua shimenawa de 13 metros e 4,5 toneladas, ou corda de palha torcida. A corda é a maior do Japão e, a cada poucos anos, os voluntários locais a retecem à mão.

A praia de Inasa tem vista para o Mar do Japão / amana images inc./Alamy Stock Photo

Outro destino que se acredita ser frequentado pelos deuses fica próximo à Praia de Inasa, um Patrimônio Mundial da Unesco no Mar do Japão, conhecido por sua costa de areia macia. A rocha gigantesca onde se acredita que eles se reúnem, conhecida como Benten-Jima, emoldura uma visão perfeita do pôr do sol radiante da praia.

Beleza natural sem as multidões

Para quem gosta de atividades ao ar livre, o San’in cobre quase todas, de montanhas a desertos, de cachoeiras a litorais.

Para começar, a região abriga a Costa de Uradome, uma extensão de 14,5 quilômetros de litoral do parque nacional. Formado por rochas erodidas, o parque inclui penhascos naturais, cavernas, paredões e arcos. É um ótimo espaço para caiaque, mergulho com snorkel, paddleboarding e caminhadas à beira-mar.

A região também é o pano de fundo do único deserto do Japão, um aglomerado de areia ondulante de 16 quilômetros ao lado do Mar do Japão conhecido como Tottori Dunes. Os visitantes podem praticar sandboard aqui, mas aqueles que preferem esquiar em neve fresca podem encontrá-lo a apenas 96 quilômetros a oeste no Monte Daisen, a montanha mais alta da cordilheira Chikogu.

O Monte Daisen é a montanha mais alta da região de Chugoku / Masako Ishida/Moment RF/Getty Images

Nos meses mais quentes, os visitantes exploram seus 1.730 metros caminhando e escalando, ou contemplam seu pico nas águas calmas de Kaike Onsen, o maior resort de águas termais da região.

Para uma abordagem mais personalizada ao ar livre, uma das joias mais preciosas de San’in é o internacionalmente elogiado Museu de Arte Adachi, conhecido por seus 157 mil metros quadrados de espaço de jardim. Projetado para ser “uma pintura viva”, foi nomeado o melhor jardim tradicional do Japão por 20 anos seguidos pelo The Journal of Japanese Gardening, superando até mesmo os jardins mais frequentados de Tóquio e Kyoto.

Para os aventureiros mais ousados, San’in detém a distinção de ter talvez o mais perigoso dos Tesouros Importantes do Japão registrados no país. Essa designação vai para o Templo Nageiredo, um sereno templo budista de madeira com uma localização difícil: a face do Monte Mitoku, uma montanha com penhascos íngremes de trinta metros.

Caminhantes e peregrinos religiosos têm visitado o templo por 1.300 anos, mas não é para os fracos de coração. Os alpinistas são proibidos de ir sozinhos e devem ter seus calçados avaliados quanto à segurança antes de receberem a autorização para subir.

San’in: Esta é a região menos populosa do Japão, o que significa que seus locais – como Izumo Taisha, retratado aqui – raramente ficam lotados / winhorse/iStock Unreleased/Getty Images

Encontrando seu caminho

Milhões de viajantes japoneses visitam San’in todos os anos, mas apenas algumas centenas de milhares de viajantes internacionais chegam lá. Muitos viajantes estrangeiros vêm e vão do Japão sem saber que a região de San’in existe.

“Não é um lugar fácil de se visitar”, diz Baye Cooper, que viajou para San’in no final de 2020 enquanto morava e trabalhava na prefeitura vizinha de Yamaguchi.

Um dos maiores obstáculos para visitar? O San’in não está em uma linha Shinkansen. O famoso sistema ferroviário de alta velocidade “trem-bala” do Japão conecta os destinos de viagem mais populares do Japão, incluindo grandes cidades como Kyoto, Tóquio e Osaka.

Se um viajante quiser acessar o San’in de trem de Tóquio, precisará pegar o Shinkansen até o meio do caminho, na cidade de Okayama, e conectar-se à linha local do San’in. Com apenas uma escala necessária, é uma viagem simples, mas longa, com duração de cerca de seis horas.

Matsue, na província de Shimane, é o centro da área / Photo Japan/Alamy Stock Photo

Muitos viajantes interessados em visitar a região de San’in iniciam suas viagens em Osaka ou Hiroshima, o que pode reduzir a viagem para cerca de três a quatro horas, dependendo de qual cidade estão viajando.

Existem maneiras mais rápidas de chegar lá. Os visitantes podem pegar um voo doméstico de Tóquio para um dos aeroportos regionais da região de San’in, nas cidades de Izumo e Yonago, e chegar lá em uma hora e meia ou menos.

As únicas rotas internacionais diretas que atualmente atendem a San’in são de Hong Kong (via Hong Kong Airlines) e Seul (via Air Seoul), mas a Organização de Turismo de San’in espera expandir para mais rotas de voos internacionais. Algumas cidades oferecem serviço de ônibus para a região e, claro, o aluguel de carros é uma ótima opção para acessar os destinos mais rurais de San’in.

O relativo isolamento de San’in pode dificultar o acesso, mas também é exatamente o que o torna digno de ser conhecido – e, se as estrelas se alinharem, criar memórias para toda a vida. “[Os viajantes] devem fazer o trajeto”, diz Cooper. “Vale a experiência”.

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