Trens-bala da China levam turistas a vilarejo de 1.200 anos em poucas horas
Condado rural no leste do país abriga vilarejos seculares de paredes brancas e telhados de cerâmica

Visitar Xangai, na China, é uma experiência eletrizante. Este centro financeiro de 25 milhões de habitantes parece feito sob medida para admirar arranha-céus, garimpar moda e provar bolinhos. O metrô é limpo e eficiente, o que torna prático circular pela cidade — ou mesmo ir até a próxima metrópole.
Mas chega uma hora em que a fadiga urbana bate, sinal de que é tempo de se refugiar nas montanhas enevoadas tantas vezes retratadas nas pinturas tradicionais chinesas.
Graças à imensa rede de ferrovias de alta velocidade da China — a maior do planeta — o campo tranquilo nunca está longe.
Wuyuan, um condado rural na província interiorana de Jiangxi, no leste do país, fica a menos de três horas de Xangai em um trem-bala. O local abriga vilarejos seculares de paredes brancas e telhados de cerâmica, onde refeições fartas, preparadas com ingredientes vindos diretamente das fazendas, são a norma.
Esse contraste proporciona uma oportunidade fascinante de mergulhar tanto no presente ultramoderno da China quanto no seu passado lendário em uma viagem curta.
Mas sabemos que viajar pela China pode ser intimidador para quem vai pela primeira vez. A seguir, confira um roteiro de inspiração para quem deseja fazer sua própria jornada de alta velocidade rumo ao passado — e dicas de como comprar passagens de trem.
Parada em Xangai
1. The Stage
Admirar arranha-céus não é novidade em Xangai, mas há um novo ponto de vista. O mais recente mirante da cidade, um antigo heliponto, é perfeito para fotos panorâmicas desse cenário futurista.
Localizado no topo do prédio mais alto do lado oeste do rio Huangpu, o Stage — a 320 metros de altura — oferece visão privilegiada do gigantesco distrito financeiro do outro lado.
Graças a uma curva do Huangpu, também é possível ter uma vista aérea dos famosos edifícios coloniais na mesma margem. Como miniaturas, barcaças descem o rio carregando carvão, areia e outros materiais — lembrete de que a China nunca para de construir.
A melhor hora para contemplar os 360° é ao entardecer, quando há ingressos combinados que incluem bebida.
Entrada: nível B1 do Magnolia Building, nº 501 Dong Daming Road, distrito de Hongkou.
Preço: RMB240 (cerca de R$ 178) por pessoa; RMB288 (aproximadamente R$ 216) para o ingresso com pôr do sol e bebida.
2. The Bund

O cartão-postal mais clássico de Xangai é um trecho da margem oeste do bairro Huangpu, onde 52 prédios históricos, erguidos no início do século XX, exibem estilos que vão do neoclássico ao gótico.
O mais imponente é o antigo prédio do HSBC, hoje sede do Banco de Desenvolvimento de Pudong. No saguão, murais de estilo grego sobreviveram à Revolução Cultural graças a um arquiteto que teria pintado sobre eles para protegê-los.
O Bund ferve dia e noite, mas cedo pela manhã oferece uma rara sensação de calma, dividida somente com alguns pedestres e praticantes de exercícios.
- Metrô mais próximo: East Nanjing Road (linhas 2 e 10).
3. Cidade Antiga
É o núcleo original de Xangai, anterior à chegada dos britânicos nos anos 1850. Equivale à metade do Central Park, de Nova York, nos Estados Unidos, e era cercado por muralhas já demolidas.
Hoje é destino popular durante o Ano Novo Lunar, com seu festival de lanternas. O restante do ano, oferece um labirinto de construções restauradas.
Embora seja altamente comercializada, a região em torno do Jardim Yuyuan vale a visita. A Ponte Jiuqu (ou das nove curvas) cruza um lago de carpas, passando pela mais antiga casa de chá da cidade, a Huxinting.
De um lado da ponte está o restaurante Lu Bo Lang, onde Bill Clinton jantou em 1998. Do outro, o Nanxiang Steamed Bun, famoso por seus bolinhos de sopa (xiaolong mantou), que atraem filas enormes.
- Metrô mais próximo: Yuyuan Garden (linhas 10 e 14).
4. Calçadão de Xuhui
O Calçadão de Xuhui é a resposta de Xangai à South Bank londrina. Ao longo de oito quilômetros de margem do rio, moradores caminham, pedalam, encontram amigos ou apenas passam o tempo.
A antiga Fábrica de Cimento de Xangai abriga hoje espaços de arte, lojas, cafés e restaurantes. Já o West Bund Art & Design, parceiro do Centro Pompidou de Paris, organiza algumas das melhores exposições de arte contemporânea da China.
Há ainda o Riverside Skateboard Park, ponto de encontro de skatistas, e um parque exclusivo para cães, raridade em uma cidade de regras rígidas sobre animais de estimação.
- Metrôs mais próximos: Yunjin Road ou Longyao Road (linha 11) e Middle Longhua Road (linhas 7 e 12).
Parada em Wuyuan
1. Vila de Yan
O condado de Wuyuan é a China das pinturas: campos, riachos sinuosos e aldeias entre montanhas verdes. A viagem de Xangai até lá leva apenas 2h44 no trem mais rápido, mas parece atravessar séculos.
Com 1.200 anos de história, Wuyuan é célebre por duas coisas: as flores amarelas de colza (colhidas em março) e as grandes casas erguidas por comerciantes de Huizhou, ricos entre os séculos XV e XVIII com a venda de sal, chá e madeira.
A 20 minutos de táxi da estação fica a aldeia de Yan (延村), fundada há cerca de 800 anos. Apesar da taxa de entrada, é um vilarejo residencial habitado por agricultores, em sua maioria da família Jin, reflexo da cultura clânica ainda forte na zona rural chinesa.
A vila vizinha de Sixi, a 20 minutos a pé, oferece a mesma tranquilidade.
Preço: RMB55 (cerca de R$ 43) para visitar Yan e Sixi.
2. Hotel Skywells

Um casarão de quase 300 anos, restaurado por um britânico e sua esposa chinesa, virou hotel boutique na aldeia de Yan.
Em estilo clássico de Huizhou, a construção tem paredes espessas e janelas pequenas, projetadas para afastar bandidos quando os homens estavam em viagem de negócios.
O destaque são os pátios internos — os skywells — que trazem luz, ventilação e coletam água da chuva, símbolo de fortuna.
O hotel de 14 quartos é administrado por uma moradora que cozinha pratos locais com verduras da própria horta e ainda prepara ótimos drinques.
Endereço: Skywells Hotel, aldeia de Yan, Wuyuan.
3. Huangling
Fundada há 600 anos pelo clã Cao, que fugia da guerra, essa vila encravada na montanha foi parcialmente abandonada até 2009, quando uma empresa de turismo a transformou em atração.
Hoje, turistas chegam de teleférico, com vista das plantações em terraços. Suas ruelas abrigam restaurantes, casas de chá e lojas de souvenirs.
A principal atração são os vegetais coloridos secando em cestos nas varandas — tradição ancestral para conservar as colheitas.
Para mais emoção, Huangling tem duas pontes de vidro suspensas entre montanhas.
Preço: RMB145 (cerca de R$ 108) com teleférico incluído.
Paradas opcionais: Suzhou ou Hangzhou
Antigos poetas as chamavam de “paraísos na Terra”. O imperador Qianlong visitou ambas seis vezes no século XVIII para desfrutar das paisagens e da culinária. Hoje, continuam recebendo multidões — agora de trem-bala ou carro elétrico.
Hangzhou, a pouco mais de duas horas de Wuyuan, é capital provincial conhecida pelo Lago Oeste, pelas pagodes e pelos campos de chá verde. É também o berço da gigante de tecnologia Alibaba.
Suzhou, a 40 minutos de Hangzhou ou 30 de Xangai, é famosa por jardins clássicos criados por estudiosos locais: lagos, salgueiros, pavilhões e montes artificiais erguidos com pedras trazidas do Lago Taihu.
Como comprar passagens de trem na China
Viajantes internacionais podem comprar bilhetes diretamente na estação, apresentando o passaporte, ou por aplicativos. O oficial é o “Railway 12306”, que tem versão em inglês.
As passagens estão vinculadas ao documento do passageiro, portanto o app exige o envio de uma foto do passaporte no cadastro. Isso permite entrar na estação apenas com o documento.
O aplicativo também traz informações úteis, como formas de pagamento e locais para obter chip de celular.
Preço: o bilhete entre Xangai e Wuyuan custa de RMB193 a RMB292 (aproximadamente, de R$146 a R$ 221) por trecho.



