Uma viagem por Bordeaux, cidade francesa conhecida como a “pequena Paris”
Além de seus vinhedos mundialmente conhecidos, Bordeaux transpira arte, história, gastronomia e agrada tanto os que buscam agito quanto os que desejam sossego. Assista ao programa completo!
Agradável, jovem, repleta de bistrôs e cativante pelo equilíbrio entre a tradição e a modernidade. São mais de 350 edifícios identificados como monumentos históricos em uma cidade tida como a capital mundial do vinho.
Assim é Bordeaux, na França. Vários são os atributos da cidade francesa portuária às margens do rio Garonne que é conhecida como a “pequena Paris”, mas nenhum deles capta realmente a essência charmosa e elegante que o local nos transmite.
Inscrita como um dos Patrimônios Mundiais da Humanidade da UNESCO, Bordeaux me conquistou em cada detalhe. Seja pelas construções bem preservadas, pelos doces nas lojinhas típicas (bonjour, canelé!), pela gastronomia apetitosa e, claro, pelos melhores vinhos do mundo, é difícil não se sentir contagiada pelo joie de vivre que a cidade passa. Além de admirável, defino Bordeaux como um local feliz.
A cidade foi o primeiro destino internacional do programa CNN Viagem & Gastronomia. Todo conteúdo jamais caberia em pouco tempo: o que era para ser um programa acabou tornando-se uma série de episódios em uma verdadeira imersão na história, nos restaurantes, nos museus, nos vinhedos e até nas águas da região.
Já estive em Bordeaux antes, mas sempre com o pensamento do senso comum de que ali era apenas um ponto de passagem para os renomados vinhedos. Estava enganada. Bordeaux é uma cidade histórica mas vai muito além disso. Mas é importante ressaltar que os terrenos onde crescem as uvas estão situados em distritos dentro da própria cidade, que podem estar na margem esquerda ou direita da confluência dos rios Garonne e Dordogne.
Com uma ajudinha de trens de alta velocidade, chega-se a Bordeaux via Paris em apenas 2 horas – ideal para quem deseja fazer o famoso bate e volta. Porém, como eu mesma tive a oportunidade de experimentar, indico um roteiro mais lento: Bordeaux é uma cidade para ser, literalmente, degustada.
A melhor maneira de se vivenciar a cidade francesa é aderir ao slow travel: andar a pé sem pressa, tomar vinho numa brasserie com calma, comer uma boa batata frita e tentar vagar pela cidade como um local. Caso consiga ajustar sua viagem neste molde, te garanto ótimas surpresas.
Breve história
Hoje cheia de avenidas e praças, a região atraiu assentamentos desde a Idade do Bronze por conta de seu solo seco. Desde os tempos romanos, Bordeaux tem sido uma grande cidade e um porto próspero – com escoamento para o Oceano Atlântico e ligação com a Espanha e a Grã-Bretanha.
A cidade foi a capital da região da Aquitânia e tornou-se um território da coroa inglesa em 1154 por conta do casamento entre Leonor, a Duquesa de Aquitânia, e o rei da inglaterra Henrique II. Sob comando dos ingleses, Bordeaux desenvolveu um promissor comércio com os portos da Inglaterra. A Batalha de Castillon foi a última batalha entre franceses e ingleses, durante a Guerra dos Cem Anos, em que a cidade foi unida à França em 1453. Os burgueses de Bordeaux, porém, resistiram por muito tempo à limitação de suas liberdades municipais.
O Château Trompette, onde agora fica a grande praça Place des Quinconces, foi então construído como uma fortaleza tanto para defender a cidade quanto para vigiar os bordaleses. Ele foi destruído e reconstruído algumas vezes até ser demolido em 1818 para dar lugar à praça que podemos ver hoje.
No século 19, Bordeaux viu uma certa prosperidade após a chegada de ferrovias e melhorias no porto. Vários foram os períodos em que o governo francês foi transferido para a cidade entre os séculos 19 e 20 por conta da ameaça estabelecida por guerras. Após o término da Segunda Guerra Mundial, Bordeaux continuou a se expandir: novos subúrbios foram construídos e muitas das pequenas vilas que antes cercavam a cidade foram incorporadas a ela, formando uma área contínua.
O que ver e fazer na cidade: guia básico
A primeira dica, e talvez a mais fundamental, é vagar a pé pelas ruas da cidade sem pressa, contemplando seus históricos edifícios. Aliás, há mais de 350 prédios tombados pelo Patrimônio Universal da UNESCO. Sabe aquela cidade que nos reserva boas surpresas a cada esquina? Bordeaux definitivamente está no topo da lista.
Carros não são permitidos em grande parte das avenidas, ou seja, aqui há uma confluência de pedestres, bondes modernos e bicicletas – Bordeaux, inclusive, possui uma das maiores frotas de bikes da Europa. Assim, a própria cidade nos estimula a explorá-la a pé ou a bordo de duas rodas.
Praças, museus, catedrais, ruas comerciais e todo entorno do rio Garonne são algumas das atrações imperdíveis em Bordeaux que transpiram história, arte, arquitetura e um legado de preservação que salta aos olhos.
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Daniela Filomeno toma vinho em frente à Catedral de Bordeaux, um dos pontos mais conhecidos e antigos da cidade • CNN Viagem & Gastronomia
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Interior da Catedral de Bordeaux, com seu pé direito alto e lindas abóbadas • Daniela Filomeno
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Rue Sainte-Catherine, rua comercial mais longa da Europa com 1,2 km de extensão só de lojas • Daniela Filomeno
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Canelé, típico doce de Bordeaux que pode ser encontrado também na Rue Sainte-Catherine • Daniela Filomeno
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Place des Quinconces à noite, com destaque para o Monumento aos Girondinos, ao parque de diversões e à roda-gigante • Daniela Filomeno
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Place de la Bourse, em frente ao Garonne, com destaque para Daniela na Fonte das Três Graças • CNN Viagem & Gastronomia
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Espelho d'água reflete os prédios históricas da Place de la Bourse • Wikimedia Commons
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Daniela Filomeno em passeio de barco pelo rio Garonne • CNN Viagem & Gastronomia
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Visão externa do La Cité du Vin, espaço cultural em forma de decanter dedicado ao vinho • Divulgação
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Cave e loja no interior do La Cité du Vin, que possui rótulos do mundo inteiro • Divulgação
Grande Teatro – Ópera Nacional
Como me hospedei no Intercontinental Bordeaux Le Grand Hotel, comecei a explorar a cidade pela praça logo em frente, a Place de la Comédie.
Ela é o endereço do Grande Teatro, palco da Ópera Nacional, que possui uma das mais belas salas de espetáculos do mundo. Edificada no século 18, a elegante construção é decorada em tons da realeza, com azul, branco e dourado, e recebe espetáculos de alcance internacional como óperas, balés e concertos sinfônicos.
Dentro do teatro há, inclusive, o Le Quatrième Mur, restaurante que une os princípios de um bistrô francês de clima descontraído com ingredientes da alta gastronomia a preços acessíveis.
Rua Sainte-Catherine
A Place de la Comédie desemboca na rua Sainte-Catherine, um dos logradouros mais emblemáticos da cidade. Repleta de lojas, ela é a rua comercial mais longa de toda a Europa, medindo 1,2 quilômetros – carros não são bem-vindos aqui.
Mas talvez um de seus tesouros mais bem guardados seja os canelés, doces tipicamente bordaleses. A rua abriga uma das unidades da La Toque Cuivrée, especialista de canelés de Bordeaux. O doce pode ser definido como uma pequena massa aromatizada com rum e baunilha, com um centro de creme macio e uma crosta caramelizada espessa e escura. Tem a forma de um pequeno cilindro – e é delicioso.
Catedral de Bordeaux
A Catedral de Bordeaux, também conhecida como a Catedral de Saint-André, é superantiga e especial: ela data do século 12 e tem um estilo que pode ser descrito como gótico, mas hoje contém uma aparência mais heterogênea. As duas torres que formam a catedral chegam a 80 metros de altura. Se de fora ela já chama atenção, seu interior chega a arrepiar.
É um lugar bem sereno, com pé direito altíssimo, grandes abóbadas e onde se escuta perfeitamente os sons dos sinos. Há um majestoso órgão, cujos sons emocionam até os mais resistentes, assim como portões vermelhos em seu interior que eram abertos para os casamentos reais – tradicionalmente eles ficam fechados.
Falando em casamentos reais, a imponente catedral foi testemunha do casamento entre Leonor da Aquitânia e Luís VII, então futuro rei de França, em 1137. Cinco séculos mais tarde, a união entre Ana da Áustria e Luís XIII também foi realizada na catedral.
Curiosidade: a torre original da catedral, do século 12, era insuficientemente baixa para suportar o peso do sino. Decidiu-se então construir uma torre independente ao lado em 1440, a Torre Pey-Berland. Hoje, podemos subir os 229 degraus até seu topo de cerca de 50 metros, que possui uma deslumbrante vista de Bordeaux e seus monumentos.
Place de la Bourse
É um complexo de edifícios históricos emblemáticos de Bordeaux que contribuiu para o auge da cidade, sua reputação e comércio. A Place de la Bourse também é um dos pontos mais fotogênicos de Bordeaux, sendo reconhecida mesmo por quem nunca esteve aqui, e fica entre o rio Garonne e as fachadas do século 18.
É simbólica pois foi o pontapé para o desaparecimento da cidade medieval: a criação da praça real, enfim, abriria a então cidade-fortaleza. No seu centro, a Fonte das Três Graças, de 1869, é um dos atributos do local.
Uma maravilha moderna, porém, é o que também leva tantos turistas a esse canto da cidade – e o que faz ser campeão de fotos. Desde 2006, a praça conta com o maior espelho d’água do mundo, que alterna entre efeitos aquáticos e de neblina. Em certos momentos, a praça alaga e reflete perfeitamente as construções do século 18 logo à sua frente. É incrível!
Place des Quinconces
É a maior praça da França e uma das maiores de toda a Europa, contando com cerca de 120 mil metros quadrados e servida de uma gama de linhas de bonde e ônibus. Como narra a história, ela foi instaurada a partir de 1818 no lugar da antiga fortaleza do Château de Trompette.
É um local obrigatório de se visitar em Bordeaux. Além de muita história – assim como praticamente a cidade inteira -, a Place des Quinconces tem um parque de diversões com roda-gigante e feiras. Obeliscos, monumentos e uma esplanada que desce em direção ao Garonne emoldurada por plantas compõem o local.
Mas um monumento em específico chama a atenção: é o Monumento aos Girondinos, famosa coluna com cerca de 43 metros de altura erguida entre 1894 e 1902 em homenagem aos deputados girondinos. Decorada com cavalos e grupos de bronze, há uma Estátua da Liberdade em seu topo quebrando algemas.
Passeio de barco pelo rio Garonne
É um jeito poético e lindo de ser ver Bordeaux: os passeios de barco pelas águas do rio Garonne nos garantem uma outra perspectiva da cidade. Pelas águas é possível ver diferentes detalhes dos prédios à beira-rio e passar por baixo de diversas pontes.
Várias são as opções de companhias que fazem trajetos no rio ao redor da cidade, desde os mais rápidos, que te levam de um lugar ao outro – como fiz para chegar no imponente museu do vinho, o La Cité du Vin -, até os que oferecem experiências gastronômicas, como comidinhas durante o pôr do sol e jantares.
Em terra, o rio Garonne também nos assegura outros passeios, como sua agitada orla, que possui música, cafés e food trucks aos finais de semana. Caminhar ao longo do cais, fazer um piquenique no verde Parc aux Angéliques, parque à beira-rio, ou cruzar a Pont de Pierre – primeira ponte sobre o rio em Bordeaux que liga a margem esquerda à parte direita no quartier Le Bastide – são programas agradáveis na elegante cidade. Dica: a Pont de Pierre fica linda à noite, com suas lâmpadas de ferro acesas.
La Cité du Vin – Museu do Vinho
Uma hora ou outra, tudo em Bordeaux acaba nos levando ao vinho. Brinco que a cidade se resume a tomar vinho, a respirar vinho e a visitar o museu do vinho. Com ares futuristas, o La Cité du Vin, literalmente a “Cidade do Vinho”, é um espaço cultural dedicado à bebida que, de fora, se assemelha a um grande decanter.
O projeto é ousado e contrasta com a arquitetura clássica da cidade, tendo mais de 13 mil m², dez andares e 20 áreas temáticas. Por isso, merece uma tarde só dedicada a ele no roteiro.
Mais do que um museu, ele fala de uma história de mais de 2 mil anos e de uma tradição que sustenta a economia de muitos países. O La Cité du Vin representa o vinho e o modo de se fazer vinho de todo o mundo. Pode-se afirmar que ele é o maior museu dedicado ao tema que existe, não em número de garrafas, mas sim em representatividade de países.
Para mim, o mais sedutor é sua parte cultural, que mexe com nossos sentidos e aflora nosso gosto por bons vinhos – a degustação ao final do passeio, claro, também é a cereja do bolo.