CEO da COP30: Boicote dos EUA ao Acordo de Paris dá oportunidade a países
Em entrevista exclusiva à CNN, Ana Toni afirma que cúpula de Belém será fundamental para “fortalecer o regime multilateral de mudança do clima” e deixará legados em vários níveis
A CEO da COP30, Ana Toni, disse que a decisão do presidente Donald Trump de retirar os Estados Unidos do Acordo de Paris vai abrir muitas oportunidades para que outros países, entre eles o Brasil, ocupem posições de liderança no processo de descarbonização da economia mundial.
Neste contexto, afirma ela, a realização da Cúpula do Clima em Belém vai ser fundamental para “fortalecer o regime multilateral da mudança do clima”, deixando legados importantes para o mundo, o Brasil e a comunidade local no Pará.
Em entrevista exclusiva à CNN Brasil, Ana Toni reconheceu que a decisão de Trump de abandonar o Acordo de Paris tem efeitos negativos para a luta global contra as mudanças climáticas.
Afinal, os Estados Unidos são a maior economia do mundo e o país que historicamente mais emitiu os gases de efeito estufa que causam o aquecimento global. Além disso, outras nações pouco comprometidas com o clima poderiam copiar a posição do líder americano.
Mas Ana Toni diz que o boicote de Washington também vai levar empresas de outros países a ocupar os espaços deixados pelo governo federal dos EUA e pelas companhias americanas.
“O processo de descarbonização é irreversível, independentemente de qual governo esteja lá. A gente não vai deixar de colocar painel solar nos nossos tetos, a gente não vai deixar de comprar carros elétricos, a gente não vai deixar de trabalhar com eficiência energética ou pensar em agricultura regenerativa. Essas coisas são irreversíveis. E muitos países, como o Brasil, vão ter oportunidades de se posicionar comercialmente, (onde) os Estados Unidos antes ocupavam esses lugares”, disse ela.
Ana Toni lembrou que esse processo já aconteceu no passado recente, quando a China se aproveitou da mesma decisão do próprio Trump de retirar os Estados Unidos pela primeira vez do Acordo de Paris, em sua primeira gestão.
“As empresas chinesas na área de descarbonização foram muito mais rápidas do que as americanas e os quatro (primeiros) anos do Trump fizeram com que os chineses começassem a produzir muitos painéis solares e carros elétricos, por exemplo, e vender para o mundo inteiro”, disse ela.
“Eu infelizmente acredito que quem vai sofrer muito vão ser muitas empresas americanas que teriam condição de liderar processos de descarbonização, mas infelizmente com essa política do governo federal vão perder essa oportunidade de ser um player global para isso”, afirmou.
Atual secretária de Mudança do Clima do Ministério do Meio Ambiente, Ana Toni reconhece que não há como forçar o governo americano a mudar de posição.
Mas ela lembra que boa parte dos governos estaduais dos Estados Unidos e muitas empresas do país já disseram que vão continuar implementando ações contra as mudanças climáticas, o que limitaria o impacto negativo da decisão de Trump.
O Acordo de Paris, negociado em 2015, é o principal tratado internacional do clima, vinculando juridicamente os países signatários a tomar medidas para combater as mudanças climáticas.
Como o processo de saída demora pelo menos um ano, ainda não se sabe se o governo federal dos Estados Unidos enviará uma comitiva a Belém.
Ana Toni garante que os americanos serão mais do que bem-vindos – inclusive o presidente Trump, caso ele decida comparecer à cúpula dos líderes mundiais.
Legados da COP30
Neste contexto de boicote americano ao acordo, a CEO da COP30 afirma que o encontro de Belém vai ser fundamental para “fortalecer o regime multilateral de mudança do clima”.
“A gente sabe que isso é fundamental. Para combater a mudança do clima, a gente precisa desse regime multilateral. E, obviamente, a maneira de fazer isso é mostrando a importância desse regime para o dia a dia das pessoas”, disse ela.
Segundo Ana Toni, a COP de Belém, a primeira a ser realizada em uma cidade da Amazônia, deixará legados importantes.
Do ponto de vista internacional, diz ela, além de mostrar a importância do multilateralismo como única forma de combater o aquecimento global, a COP deverá ainda ser usada para acelerar as “boas ações que foram acordadas nesses últimos dez anos” e vai mostrar que o tema de clima é “transversal” – ou seja, é um tema tanto de meio ambiente como de desenvolvimento econômico e social.
Neste ponto, ela afirma que a intenção da liderança brasileira da COP30 é envolver atores econômicos privados e governamentais, como ministros da Fazenda de vários países e multinacionais, para ajudar no financiamento das ações climáticas.
Ana Toni afirma também que a COP será uma oportunidade única para colocar o Brasil como um provedor de soluções climáticas para o mundo. E, do ponto de vista local, será importante para mostrar ao mundo as riquezas e importância da Amazônia.