Américo Martins
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Américo Martins

Especialista em jornalismo internacional e fascinado pelo mundo desde sempre, foi diretor da BBC de Londres e VP de Conteúdo da CNN; já visitou mais de 70 países

Análise: Tarifaço sobre a Índia mostra que não basta ceder a Trump

Primeiro-ministro Narendra Modi foi um dos primeiros, entre vários países, na tentativa de agradar o presidente americano e evitar retaliações comerciais

O presidente dos EUA, Donald Trump, e o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, na Casa Branca, em Washington, D.C.
O presidente dos EUA, Donald Trump, e o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, na Casa Branca, em Washington, D.C.  • 13/2/2025 REUTERS/Kevin Lamarque/Arquivo
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As ameaças do presidente Donald Trump de impor tarifas de 25% sobre produtos indianos demonstram o estilo imprevisível do líder americano nas negociações comerciais. Elas apontam que não existe um guia ou manual de como os governos poderiam proceder em conversas de negociações com os Estados Unidos.

A Índia é um exemplo de que não adianta, por exemplo, tentar ceder e agradar Trump de antemão.

O país saiu na frente de outros na tentativa de evitar as sanções comerciais do presidente americano. Narendra Modi foi um dos primeiros líderes a fazer uma visita à Casa Branca, em 13 de fevereiro - apenas três semanas após a posse do republicano. Na ocasião, Modi classificou a aliança entre Índia e Estados Unidos como uma “megaparceria”. Trump retribuiu, chamando o indiano de “amigo” - um termo que ambos usam há anos.

Já prevendo a possibilidade de ser alvo de tarifas (Trump reclamou publicamente do suposto protecionismo indiano durante a visita), Modi prometeu reduzir tarifas sobre produtos americanos. E comprometeu-se ainda a ampliar as compras de gás, petróleo e equipamentos militares dos EUA.

Apesar do tom amistoso entre os dois líderes e dos compromissos assumidos, no início de abril a Índia foi incluída na primeira lista de países ameaçados por tarifas. No caso de Nova Délhi, a taxa seria de 26%. Modi manteve a estratégia de buscar aproximação direta com Trump. E instruções foram dadas para que os negociadores avançassem com os americanos em direção a um acordo comercial.

Washington, por sua vez, endureceu a pauta: exigiu acesso ampliado ao mercado agrícola indiano e também restrições à compra de armamentos russos por Nova Délhi. Além disso, pressionou pela suspensão imediata das importações de petróleo e gás da Rússia - produtos vendidos com desconto e que têm sido fundamentais para a economia indiana.

Nesta quarta-feira (30), antes mesmo do fim das negociações bilaterais, Trump anunciou novas ameaças: uma tarifa de 25% e sanções adicionais contra a Índia pela aquisição de armas russas.

O caso indiano expõe a dificuldade de negociar com o presidente americano quando seus objetivos são guiados por cálculos políticos e comerciais. E podem ser um aviso ao Brasil, que vai ter que continuar negociando com o líder americano.