Gabriel Monteiro
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Gabriel Monteiro

Formado em jornalismo. Especializado em economia e negócios. Traduz o mercado e empresas. Gosta de gente e quadrinhos.

O ponto fora da curva: funcionário de Trump diverge no Fed

Stephen Miran, novo diretor indicado pelo presidente, quer derrubar juros em 2025

Stephen Miran, indicado pelo presidente dos EUA, Donald Trump, para a diretoria do Federal Reserve, participa de audiência no Senado americano  • REUTERS/Elizabeth Frantz
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Além do corte de juros inédito em 2025, a última reunião do comitê do Fed (Federal Reserve) teve mais uma novidade: a participação de Stephen Miran, novo diretor indicado de Trump.

Aprovado em tempo recorde pelo Senado americano, Miran assumiu seu cargo apenas um dia antes do início das reuniões dos diretores. Em sua primeira decisão, abriu uma grande divergência.

Stephen Miran foi o único membro do Fomc (Comitê Federal de Mercado Aberto) a votar por um corte de 0,5 ponto nos juros, atendendo à demanda antiga do presidente do país.

Ele deve manter essa mesma postura nas duas reuniões restantes de 2025. Nem mesmo os outros indicados por Trump o acompanharam (Michelle Bowman e Cristopher Waller).

Miran assumiu o lugar de Adriana Kugler, ex-diretora que renunciou em agosto deste ano. Ele é um dos assessores econômicos da Casa Branca e já disse que não vai renunciar ao cargo para assumir suas funções no Fed.

Essa proximidade com Donald Trump faz a oposição levantar questionamentos sobre sua autonomia.

Além do voto dissidente assinado por ele, chama a tenção o gráfico de pontos divulgado junto da decisão, que contém as projeções de cada um dos membros do FED (governadores e presidentes regionais) para os juros nos próximos meses.

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A grande maioria dos 19 membros do Fed (nem todos votantes) indica mais duas quedas de 0,25 ponto até o fim deste ano.

Há uma estimativa isolada e muito dissonante das restantes, com a projeção de mais duas quedas maiores, de 0,5 ponto eté o fim de 2025.

Apesar de os pontos estarem dispostos anonimamente, por essa postura mais agressiva não aparecer nos gráficos anteriores (o último, divulgado em julho) e nenhum outro diretor ter votado para cortar os juros em 0,5 ponto, podemos identificar a autoria de Miran nessas projeções.

Nesse cenário, a taxa americana terminaria o ano entre 2,75% e 3%.

Esse é o cartão de visitas de Stephen Miran. O economista deve priorizar a atividade econômica e o mercado de trabalho no lugar da cautela com os efeitos inflacionários do tarifaço, que é discurso comum entre os outros membros do Fed.

A reunião desta quarta mostra que Trump tem poder para, aos poucos, interferir na trajetória da política monetária.

O republicano poderá indicar novos diretores regionais, escolherá um novo presidente para assumir o Fed a partir de junho de 2026 e já pediu permissão para a Suprema Corte americana para poder demitir a diretora Lisa Cook, uma dos sete membros fixos do Fomc.

A demissão da diretora abriria espaço para mais uma indicação de Trump.

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