Maurício Noriega
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Maurício Noriega

Mauricio Noriega é um dos jornalistas esportivos mais reconhecidos do país. Ganhou o prêmio ACEESP de melhor comentarista esportivo de TV seis vezes.

A briga de recreio entre São Paulo e Palmeiras

Seus presidentes têm assuntos muito mais importantes com que se preocupar

Leila Pereira e Julio Casares, presidentes de Palmeiras e São Paulo, respectivamente
Leila Pereira e Julio Casares, presidentes de Palmeiras e São Paulo, respectivamente  • Cesar Greco/Palmeiras/Reprodução/Instagram Casares
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O presidente do São Paulo, Julio Casares, e a presidente do Palmeiras, Leila Pereira, expõem seus clubes a uma situação semelhante às pendengas de colegiais.

De um lado, Julinho, aos berros e dedo em riste. De outro, Leilinha, respondendo com ameaças. Atrás deles, a claque, aos berros, atiçando as provocações. “Ihhh, agora humilhou!”. “Vixe! Chamou o pai de careca e a mãe de cabeluda”.

Essa cena, tão comum para crianças e adolescentes da minha geração, me veio à mente ao ver a versão atualizada e digital dos antigos perrengues de quinta série no recreio. Só que desta vez protagonizada publicamente por dois adultos responsáveis e estabelecidos na vida.

Julinho é Julio Casares, advogado e executivo importante do mercado de comunicação. Leilinha é Leila Pereira, poderosa e bilionária empresária. Alguém imagina o Casares agindo dessa forma em uma reunião de direitos de transmissão de TV? Ou a Leila ameaçando tornar persona non grata um concorrente de suas empresas?

O que causa estranheza é que até bem pouco tempo atrás Leila Pereira e Julio Casares andavam às maravilhas, com demonstrações públicas de afeto e respeito. O Palmeiras jogou no estádio do São Paulo, e o Tricolor atuou no campo do Verdão.

Ainda que, historicamente, os rivais não se biquem, a entornada de caldo é surpreendente. Poucas vezes no histórico da rivalidade a temperatura subiu tanto como depois do clássico disputado no último dia 3, no MorumBIS.

Os elementos que levaram à briga de recreio no colégio podem ser vários. Talvez as reclamações constantes do São Paulo contra o gramado sintético do Allianz Parque. Quem sabe a pulada de muro de Caio Paulista. Ou as alfinetadas frequentes de Abel Ferreira no São Paulo e os chiliques de sua comissão técnica.

Leila quer barrar o diretor são-paulino Carlos Belmonte no estádio palmeirense. Belmonte atacou Abel Ferreira após o acalorado clássico, referindo-se a ele como “português de merda”. Casares emitiu comunicado oficial defendendo seu diretor e cobrando a presidente palmeirense por não ter se desculpado pelo que ele chama de atos homofóbicos do jogador Danilo, na final do Campeonato Paulista de 2022 (ele provocou os são-paulinos chamando-os de "bambis").

Fato é que os presidentes desses dois clubes gigantescos destoam do tom profissional e agem como adolescentes.

Pode parecer divertido. Alguns dirão que esse é o futebol-raiz, que os mandatários estão defendendo seus clubes e agindo como devem: sendo torcedores.

Fato é que ambos são provocados por conselheiros e aliados políticos, além do próprio comportamento de torcedores em redes sociais e de jornalistas e influenciadores (às vezes juntos e misturados).

Rivalidade é um alimento do futebol. Clubes tornam-se grandes porque são incentivados a serem melhores que os rivais. Um puxa o outro. Mas em doses exageradas, como qualquer alimento, pode fazer mal. Os lamentáveis episódios de violência recentes, como assassinato de torcedor em Minas e atentado ao ônibus do Fortaleza, estão aí para comprovar.

A história da rivalidade entre São Paulo e Palmeiras envolve acusações dos palmeirenses de que, na época da Segunda Guerra Mundial, o adversário queria se aproveitar da pressão contra associações ligadas aos países do Eixo (Itália, Alemanha e Japão) para se apropriar do estádio Palestra Itália. Os tricolores negam essa versão.

São Paulo e Palmeiras têm agendas comuns em muitos aspectos e, sendo as potências que são, podem muito bem deixar a rivalidade saudável para os atletas em campo e trabalhar, juntos, pela evolução do futebol brasileiro.

Seus presidentes têm assuntos muito mais importantes com que se preocupar.

Leila Pereira precisa resolver a questão do Allianz Parque, o estádio que o Palmeiras tem mas não consegue utilizar.

Julio Casares tem que solucionar, por exemplo, dívidas como as que o São Paulo tem com a prefeitura de São Paulo e instituições financeiras.

Tocou o sinal e acabou o recreio.

Hora de voltar para a sala de aula e seguir a vida.

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