Pedro Côrtes
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Pedro Côrtes

Professor titular da Universidade de São Paulo (USP) e um dos mais renomados especialistas em Clima e Meio Ambiente do país.

COP30

COP30: será que perdemos a guerra contra o aquecimento?

ONU alerta que, sem ações mais rápidas, o planeta deve superar 1,5 ºC na próxima década.

Planeta enfrentará impactos irreversíveis caso o aquecimento global ultrapasse os 2 °C em relação aos níveis pré-industriais  • Reprodução CNN
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Em 2023, chegamos perto de ultrapassar 1,5 ºC de aquecimento médio, limite superado no ano passado. Diante disso e considerando o alerta da ONU, cabe perguntar se a guerra contra o aquecimento já foi perdida.

Mesmo com a lentidão de alguns países em reduzir suas emissões, progressos importantes foram obtidos com o Acordo de Paris, em 2015. Não fosse por esse acordo e pelo comprometimento, ainda que comedido, que ele gerou, estaríamos prevendo um cenário muito pior.

Se o aquecimento global ultrapassar 2 ºC em relação aos níveis pré-industriais, o planeta enfrentará impactos muito mais severos e, em muitos casos, irreversíveis. De acordo com o Painel Intergovernamental Sobre Mudanças Climáticas (IPCC), a frequência e a intensidade de ondas de calor, secas, inundações e incêndios florestais aumentariam drasticamente, afetando quase todas as regiões do mundo.

O risco de colapso de ecossistemas, como os recifes de coral e florestas tropicais, cresceria de maneira significativa, comprometendo a agricultura e o abastecimento de água. O degelo de neves eternas provocaria a elevação do nível do mar e colocaria em risco muitas áreas costeiras.

Esse cenário distópico não está fora do nosso alcance. O relatório mais recente da ONU mostra que o mundo, mesmo considerando os compromissos climáticos já existentes, está numa trajetória de aquecimento global entre 2,3 °C e 2,5 °C até o fim do século.

Com isso, aumentam os riscos associados aos extremos climáticos, como ondas de calor, secas, inundações e elevação do nível do mar, já que ultrapassar os 1,5 °C de aquecimento ampliaria a vulnerabilidade dos sistemas naturais e sociais.

Por fim, o alerta da ONU ressalta que o momento para agir decisivamente ainda está em aberto, mas que há urgência. As próximas décadas serão decisivas para ajustar a trajetória de emissões, acelerar transições de energia, proteger ecossistemas e fortalecer a adaptação, sob pena de os impactos climáticos se tornarem muito mais graves e amplos.

Negociar um maior comprometimento das nações com metas de redução de emissões, todavia, não será fácil. O contexto econômico internacional apresenta instabilidade em decorrência das políticas tarifárias do governo Trump.

Adicionalmente, há a perspectiva de que os EUA atinjam — ainda em 2025 — um recorde de produção de petróleo. Países da OPEP+ já sinalizaram a intenção de ampliar sua produção. Isso fará com que a cotação do petróleo se mantenha abaixo de US$ 60 o barril.

Com esse cenário de incertezas econômicas e petróleo barato, é previsível que países resolvam desacelerar programas de transição energética, mesmo diante de uma situação climática muito desfavorável.

Perder essa guerra só depende das decisões que tomarmos e é importante lembrar que desistir não é uma opção.