São Paulo em caos: cidade falha diante das mudanças climáticas
A cidade enfrenta o agravamento do clima com estruturas e procedimentos pensados para um passado que já não existe
Chuvas e ventos intensos que atingiram a cidade de São Paulo desde a última segunda-feira (8) voltaram a provocar quedas de árvores, alagamentos e interrupções no fornecimento de energia — um padrão que, infelizmente, já se tornou recorrente.
Em 2023, uma tempestade severa deixou bairros inteiros às escuras por dias. Houve prejuízos a comércios, residências e serviços essenciais. Políticos fizeram promessas e garantiram que os prejuízos seriam ressarcidos, mas nada aconteceu. No ano passado, essa situação se repetiu.
Cabe perguntar: nesses dois anos, o que foi feito para melhorar a resiliência do município? Os resultados deste ano mostram que nada mudou.
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Mas há uma nuance importante. Se em 2023 o evento extremo durou algumas horas, agora enfrentamos quatro dias consecutivos de instabilidade — e o município continua tendo a mesma postura reativa de sempre. A palavra prevenção parece não fazer parte do planejamento do município e de prestadores de serviços públicos.
Em termos práticos, como essa situação poderia ser enfrentada de uma maneira preventiva? Aqui vão alguns exemplos. Semáforos ficam horas — ou mesmo dias — desligados por falta de energia elétrica. Aqueles localizados em regiões mais críticas, com trânsito mais intenso, deveriam ter um sistema nobreak para mantê-los em funcionamento por 12 horas.
A Companhia de Engenharia de Tráfego faria a substituição das baterias ao final desse período, providenciando baterias carregadas até que a energia elétrica fosse plenamente reestabelecida na região.
Também em áreas mais vulneráveis, as redes elétrica e de dados deveriam ser enterradas. É um processo lento, caro e há embates sobre quem pagaria os custos dessa infraestrutura, mas é uma decisão fundamentalmente política que deve ser tomada.
Além da manutenção correta das árvores, é fundamental que campanhas de orientação sejam desenvolvidas junto à população. São vários os casos em que árvores de médio e grande porte têm as suas raízes sufocadas em calçadas totalmente impermeabilizadas, por exemplo. Sem o desenvolvimento correto de suas raízes, como elas podem resistir a ventos mais intensos?
Sobre as áreas sujeitas a alagamentos, já foi mencionado neste espaço que não basta sinalizá-las como ocorre em alguns bairros. É fundamental indicar as rotas de fuga para que as pessoas possam sair dos locais de risco.
As soluções existem, estão identificadas e são tecnicamente viáveis. O que falta é vontade política para agir antes do próximo evento extremo — e não depois, como infelizmente tem acontecido. Cabe lembrar que um novo ciclone está em formação no sul do país e seus efeitos deverão atingir a cidade no próximo final de semana.



