Entenda como assassinato de refugiada ucraniana ampliou polarização nos EUA
Morte de Iryna Zarutska desencadeou reações de Trump, Vance e Musk, que acirraram o debate entre esquerda e direita sobre violência no país

O assassinato da jovem ucraniana Iryna Zarutska nos Estados Unidos provocou uma enorme repercussão e intensificou a polarização no país, sobretudo após comentários sobre o caso do presidente Donald Trump, do vice-presidente JD Vance e do bilionário Elon Musk.
A refugiada, de 23 anos, foi morta no trem em Charlotte, na Carolina do Norte, em 22 de agosto. Câmeras de segurança flagraram o momento do crime. A jovem entrou no vagão, se sentou e estava concentrada no celular. Segundos depois, o assassino, Decarlos Brown Jr., que estava no assento atrás dela, se levantou e, de forma aleatória, esfaqueou Iryna e saiu caminhando. Os passageiros ao lado não se moveram.
Nesta quarta-feira (10), o presidente Donald Trump defendeu a pena de morte para Brown, que já havia sido detido outras 14 vezes. "O ANIMAL que matou tão violentamente a bela jovem da Ucrânia, que veio para os Estados Unidos em busca de paz e segurança, deveria ter um julgamento 'rápido' (sem dúvida!), e receber apenas a PENA DE MORTE", escreveu na Truth Social.
Na segunda-feira (8), a Casa Branca já havia afirmado que Brown é um "monstro perturbado" com uma "longa ficha criminal".
JD Vance ecoou os comentários e disse que o ex-fuzileiro naval Daniel Penny evitou que um crime parecido acontecesse em 2023.
Penny matou por estrangulamento um homem em situação de rua que ameaçou passageiros em um metrô em Nova York. Ele foi absolvido em 2024 e o caso provocou uma forte discussão sobre violência contra pessoas negras no país.
Elon Musk compartilhou dezenas de posts em seu perfil no X condenando o criminoso, a impunidade da Justiça americana e a complacência da grande mídia. O bilionário também prometeu doar US$ 1 milhão a um financiamento coletivo que angaria fundos para a pintura de grafites com a imagem de Iryna em grandes cidades.
Musk e Vance também acusaram os principais veículos de notícias de ignorar a história porque o crime foi cometido por um homem negro contra uma mulher branca.
A morte da refugiada ucraniana trouxe à tona elementos centrais de embates que têm polarizado a esquerda e a direita americana, como a segurança pública, o racismo e o papel da imprensa.
Trump e seus aliados têm chamado a atenção sobre crimes brutais para reforçar sua tese de que o país vive uma onda de violência, que justifica a federalização do policiamento em grandes centros urbanos, a exemplo de Washington.
Já opositores defendem que os índices de violência já foram piores e defendem investimentos em educação e redução da desigualdade, alegando que a perda do poder de compra e a falta de oportunidades são responsáveis pela insatisfação social que resulta na criminalidade.
Esta não é a primeira vez que o tema é explorado politicamente. Em 2024, conservadores evocaram o assassinato de Laken Riley, estudante de enfermagem morta por um imigrante venezuelano na Geórgia, para reforçar a narrativa de criminalidade migratória.
Críticos agora acusam Trump de usar a mesma estratégia para justificar o envio de tropas à Carolina do Norte.
O ex-governador democrata da Carolina do Norte, Roy Cooper, afirmou que o assassinato de Iryna Zarutska é uma tragédia horrível e defendeu ações para reforçar a segurança. Mas acusou adversários de explorar a morte da jovem ucraniana.
“Apenas um político cínico de Washington consideraria aceitável usar essa tragédia para marcar pontos políticos, especialmente alguém que apoiou cortes no financiamento da polícia na Carolina do Norte”, disse, em referência a Michael Whatley, presidente do Comitê Nacional Republicano e candidato ao Senado.
Whatley, que disputa uma vaga para o Senado contra Cooper, escreveu nas redes sociais "somente os republicanos cumprirão" com "LEI E ORDEM" e sua postagem foi endossada por Trump.
A Casa Branca havia criticado Cooper no final de semana por ter criado um grupo de trabalho em 2020, após o assassinato de George Floyd por um policial branco, para avaliar como tornar o sistema de justiça mais justo em relação a disparidades raciais.



