Thais Herédia
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Thais Herédia

Passou pelos principais canais de jornalismo do país. Foi assessora de imprensa do Banco Central e do Grupo Carrefour. Eleita em 2023 a Jornalista Mais Admirada na categoria Economia do Jornalistas & Cia.

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Análise: Oposição trava diálogo do Brasil com EUA e Lula colhe IPCA menor

Para não perder alguma vantagem, o governo precisa acelerar anúncio das medidas de proteção aos exportadores atingidos pelo tarifaço, em vigor há mais de uma semana

Nota de 100 reais rasgada no topo revela uma nota de 100 dólares ao fundo
Preços em baixa das commodities no mercado internacional e a desvalorização do real têm confirmado trajetória de queda da alimentação  • Reprodução/Neofeed
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A possibilidade de diálogo entre Lula e Donald Trump diminui a cada tentativa do governo brasileiro em negociar com o americano.

O cancelamento da reunião de Fernando Haddad com Scott Bessent, seu par nos EUA, indica que, se houve alguma boa vontade do secretário americano em ouvir o ministro brasileiro, ela não é suficiente para romper a barreira política que se instalou entre os dois países.

Enquanto a oposição, na figura do deputado Eduardo Bolsonaro, atua para impedir alguma aproximação, Lula vai colhendo notícias positivas para sua popularidade.

A trava na exportação de alimentos chega num momento em que os preços já estavam em trajetória de queda. Confirmado este cenário, além de colher inflação menor, Lula ainda pode contar com queda dos juros mais cedo do que se imaginava.

O IPCA de julho, divulgado nesta terça-feira (12), ficou em 0,26%, abaixo dos 0,37% esperado pelo mercado, levando a uma queda do índice em 12 meses para 5,23%, dos 5,35% do mês anterior.

Os destaques do resultado são de alta no custo da habitação, em função da bandeira vermelha acionada para conta de luz e, na outra ponta, os preços dos alimentos tiveram segunda deflação seguida, de 0,27%.

Os preços em baixa das commodities no mercado internacional e a desvalorização do real têm confirmado trajetória de queda da alimentação, a um ritmo que deve se acentuar nos próximos meses por conta do tarifaço de Trump imposto ao Brasil.

Os preços no atacado estão em queda há várias semanas, o que indica que, brevemente, o brasileiro vai perceber descompressão também nos produtos ao consumidor. Além de alimentos, bens industriais percorrem o mesmo caminho de redução de preços, gerando mais alívio no índice de inflação.

Juros menores?

O BC tem reiterado que segue incomodado com a inflação fora e distante da meta de 3%. Gabriel Galipolo e diretores do Copom tentam evitar que o mercado antecipe demais o corte de juros e reduza o poder a política monetária na economia.

Mesmo com a queda nos preços de alimentos e bens industriais, BC tem de lidar com o comportamento dos serviços, que continuam pressionados pelo mercado de trabalho aquecido.

Ainda que reafirme que pretende deixar os juros em 15% por um período “bastante prolongado”, o Copom terá que seguir o movimento das expectativas para o IPCA.

Nesta segunda-feira (10), o relatório Focus trouxe nova queda nas previsões para inflação deste ano e também de 2026. As expectativas para a Selic continuam iguais, mas muitos economistas começam a revisar as estimativas prevendo inicio do ciclo de cortes dos juros ainda em 2025.

Com inflação e juros em queda, e taxa de desemprego no menor patamar da série histórica (5,8%), Lula pode recuperar sua popularidade mesmo que não consiga mais pontos com eleitores na briga com Donald Trump. A batalha política está longe de estar garantida ao petista.

Para não perder alguma vantagem, o governo precisa acelerar o anúncio das medidas de proteção aos exportadores atingidos pelo tarifaço, em vigor há mais de uma semana.

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