Thais Herédia
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Thais Herédia

Passou pelos principais canais de jornalismo do país. Foi assessora de imprensa do Banco Central e do Grupo Carrefour. Eleita em 2023 a Jornalista Mais Admirada na categoria Economia do Jornalistas & Cia.

Por que relatório Focus do BC não traz previsão de alta dos juros?

Está mais difícil entender o cenário para os juros no Brasil diante dos ruídos na comunicação do BC, vide falas desencontradas dos dois “presidentes” da autarquia

Sede do Banco Central, em Brasília
Sede do Banco Central, em Brasília  • 22/02/2022REUTERS/Adriano Machado
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No relatório Focus divulgado nesta segunda-feira (02) a previsão para a taxa Selic em 2024 e 2025 não mudou. Pela décima primeira semana seguida a expectativa para o juro neste ano está em 10,50%. A projeção para o ano que vem permanece em 10%, depois de ter sido ajustada há duas semanas. Ao mesmo tempo, as expectativas para o IPCA mudaram marginalmente, ainda fora da meta de 3%, mas sem mudanças relevantes nas projeções.

O cenário revelado pelo Focus provoca dúvidas, afinal, depois de todas as indicações de que os juros devem subir na próxima reunião do Copom, por que a pesquisa não mudou? Está mais difícil entender o cenário para os juros no Brasil diante dos ruídos na comunicação do BC, vide falas desencontradas dos dois “presidentes” da autarquia.

Gabriel Galipolo, indicado por Lula, e Roberto Campos Neto, ainda presidente, têm dado declarações conflitantes sobre os juros, gerando muita volatilidade nos ativos financeiros e também nas expectativas para os próximos passos do Copom. Ao mesmo tempo, o quadro da economia sugere risco inflacionário com atividade super aquecida, desemprego baixo, dólar em alta e, novidade da última semana, o acionamento da bandeira vermelha nível 2 para as contas de luz, que vai provocar alta dos preços.

Economistas ouvidos pelo blog deram algumas explicações. Uma delas é o fato dos operadores do mercado serem mais rápidos do que os economistas ouvidos pelo BC para o Focus. Isso explica a alta na curva de juros que já embute alta na Selic neste mês há algumas semanas.

“Os gestores e traders [operadores] têm uma visão mais agressiva com relação à política monetária, além de incorporarem um prêmio de risco aos ativos”, diz Sérgio Goldstein, estrategista da Warren Rena Investimentos.

Goldstein também traz a explicação mais técnica, do ponto de vista estatístico para a diferença entre o Focus e o que “diz” a curva de juros, que já espera Selic em até 12% ao final de 2024. Segundo ele, o Focus representa a mediana das expectativas, indicando que a maioria dos economistas, mas não todos, ainda espera estabilidade da Selic.

“Ainda assim, mesmo quem espera manutenção da taxa de juros, considera que a chance de elevação não é baixa”, explica.

Até o próximo Copom, no dia 18 deste mês, as projeções devem mudar, como disseram ao blog outros economistas de mercado. Um fator relevante é a chamada data crítica do Focus, usada pelo comitê do BC para abastecer o modelo que projeta o comportamento da inflação ao longo do tempo, segundo a taxa de juros esperada.  A próxima data critica será dia 13/09, dias antes da reunião do Copom. A partir daí, devemos esperar correções mais significativas nas projeções para a Selic.

Mesmo que haja explicações técnicas para a diferença entre o que diz o Focus, o que dizem os diretores/presidentes do BC e os economistas, é muito improvável que a Selic seja mantida em 10,50% na reunião de setembro.

É também muito difícil que os juros não sigam num ciclo de alta até o final do ano. Não só por causa da inflação, que está pressionada, mas por causa dos riscos fiscais que seguem fortes. A apresentação da Lei Orçamentária de 2025 não aliviou receio de que o desequilíbrio das contas públicas se mantenha no ano que vem. Portanto, acaba sobrando para o BC compensar, com a política monetária, a impotência da política fiscal do governo federal.

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