Tony Volpon
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Tony Volpon

Ex-diretor do Banco Central e professor-adjunto na Georgetown University (EUA)

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Afinal, parece que o “Trump put” existe...

Como entender os aparentes recuos de Trump?

Presidente dos EUA, Donald Trump
Presidente dos EUA, Donald Trump  • REUTERS/Kent Nishimura
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Mais umas 24 horas de tirar o fôlego!

Primeiro – em um evento fechado – o secretário do Tesouro Scott Bessent disse que a guerra tarifária contra a China seria “insustentável”, e que haveria queda nas tarifas.
Logo depois, com o mercado já fechado, Trump anuncia que não tem a intenção de tentar demitir Jerome Powell do Federal Reserve (Fed, o banco central americano).

Como entender esses aparentes recuos de Trump?

Vamos precisar de mais tempo e confirmações para ver se houve de fato uma mudança duradoura de estratégia por parte de Trump e seu entorno.

Vou aqui colocar o que seria o “best case scenario” para explicar esses últimos acontecimentos, reconhecendo que este cenário mais otimista ainda carece de plena sustentação.

Muito se discutiu se existia ou não um “Trump put” – um fator, um nível de queda da bolsa que levaria Trump a recuar.

Inicialmente a crença generalizada era que Trump via a oscilação das bolsas como confirmação do sucesso do seu governo – o que fez o mercado (e eu) a erroneamente pensar que não haveria o extremismo tarifário que acabou sendo adotado.

O que esses últimos acontecimentos parecem demonstrar é que de fato o “Trump put” existe – mas era precificado em um preço mais baixo do que o mercado acreditava.

Aqui devemos não somente pensar no nível da bolsa, mas em um cenário negativo mais amplo que estava se desenhando: alta da inflação, recessão econômica e, muito provavelmente, a volta do controle do Congresso pelo partido Democrata, tornado Trump em um presidente “pato manco” enfrentando todo tipo de investigação de comitês controlados pelos Democratas.

Tal cenário deve ter sido usado de alerta pela ala mais moderada da equipe econômica, especialmente Scott Bessent, alguém que nesses últimos dias parece ter subido de importância e relevância, tanto na questão tarifária como a de impedir a tentativa suicida de mexer no Fed.

Mas não deveríamos ver essa reviravolta como um tipo de abandono da agenda de Trump, mas sim uma mudança de estratégia de como chegar lá: acaba como o “shock and awe” e passando para um processo mais lento, gradual e negociado – Bessent tem dito que a negociação com a China pode demorar anos.

Assim, permanecem as metas de reindustrialização e rebalancear as relações comerciais, especialmente com a China.

Erra quem pensa que Trump volta a simplesmente perseguir uma agenda republicana convencional.

Se esse cenário se confirmar, devemos ver uma continuidade de melhora nos mercados e nas projeções de crescimento e inflação.

Uma confirmação importante será anunciar, como sinalizado por Bessent, relevantes quedas nas tarifas impostas à China de forma unilateral como primeiro passo de um processo de negociação bilateral.

Se isso não ocorrer em breve, muito provavelmente os mercados voltarão a cair. Assim, em breve devemos saber se essa mudança de estratégia veio para ficar.

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