Johnson & Johnson para de vender talco infantil nos EUA e no Canadá

Companhia enfrenta mais de 19 mil processos de consumidores que afirmam que o produto causa câncer

Talco infantil da Johnson & Johnson
Johnson & Johnson enfrenta mais de 19 mil processos de consumidores que afirmam que o talco infantil da marca causa câncer  • Foto: Divulgação/Johnson & Johnson
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A Johnson & Johnson anunciou nessa terça-feira (19) que vai parar de vender seus talcos infantis nos Estados Unidos e no Canadá. O argumento é que houve uma queda na demanda pelo produto em razão do que a empresa chama de “desinformação” a respeito da segurança dele.

A marca norte-americana enfrenta mais de 19 mil processos de consumidores que afirmam que os talcos da Johnson & Johnson foram a causa de casos de câncer por causa de uma contaminação de amianto, que é cancerígeno. 

“Queria que minha mãe estivesse aqui para ver este dia”, disse Crystal Deckard, cuja mãe, Darlene Coker, afirmava que o talco infantil da marca fez ela desenvolver mesotelioma (tumor no tecido que reveste órgãos como pulmão, coração, entre outros). Coker desistiu do processo aberto em 1999 após perder a batalha para obrigar a J&J a divulgar registros internos. Ela morreu de mesotelioma em 2009.

Em um comunicado, a companhia disse que “permanece firmemente confiante com relação à segurança do talco infantil da Johnson”, citando “décadas de estudos científicos”.

Empresa sabia da contaminação

A J&J enfrentou diversos questionamentos sobre a segurança desse produto após uma reportagem da agência de notícias Reuters, em 2018, revelar que a empresa sabia, por décadas, que havia amianto em seus talcos.

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Registros internos da companhia, depoimentos de testemunhas e outras evidências mostraram que, de 1971 ao começo dos anos 2000, os talcos brutos e processados da J&J testaram, algumas vezes, positivo para pequenas quantidades de amianto.

A companhia norte-americana também é alvo de uma investigação criminal federal sobre o quão franca tem sido com relação à segurança de sua linha de talcos, outra sobre a venda desses produtos e uma outra sobre os riscos à saúde do talco contendo amianto.

O deputado Raja Krishnamoorthi, que lidera o inquérito sobre o caso no Congresso dos EUA, descreveu a decisão da J&J de parar de vender o talco infantil como “uma grande vitória para a saúde pública”. “A investigação de 14 meses do meu subcomitê revelou que a Johnson & Johnson sabia há décadas que o seu produto tinha amianto”, afirmou.

Em resposta, a companhia anunciou repetidamente que seus talcos são seguros e não causam câncer.

Participação em epidemia de opioides

Além da polêmica dos talcos infantis, a J&J afirma que é citada, ao lado de outros fabricantes de medicamentos, em mais de 2,9 mil ações judiciais que acusam essas empresas de promover indevidamente o uso de opioides viciantes.

Em agosto de 2019, um juiz do estado de Oklahoma, nos EUA, divulgou o primeiro veredicto sobre o assunto, ordenando que a J&J pagasse US$ 572,1 milhões ao estado por alimentar uma epidemia de opióides através do marketing enganoso de analgésicos viciantes. A empresa está tentando recorrer da decisão e nega as acusações.

Batalha não terminou

Nessa terça-feira, a Johnson & Johnson disse que parou de enviar o talco infantil às lojas quando a crise causada pelo novo coronavírus levou a capacidade de manufatura da empresa ao limite, e agora iria reduzir as vendas na América do Norte.

“A demanda pelo talco infantil na América do Norte sofreu uma queda em razão das mudanças nos hábitos dos consumidores e da desinformação sobre a segurança do produto”, anunciou a companhia em um comunicado.

“Continuaremos a defender vigorosamente o produto, sua segurança e as alegações infundadas contra ele e a companhia na Justiça”, disse ela em nota. “Todos os veredictos contra a empresa que passaram pelo processo de apelação foram anulados.”

Krystal Kim, uma das 22 mulheres com câncer no ovário cujo processo contra a companhia resultou, em 2018, em um veredicto de US$ 4,69 bilhões contra a J&J, disse que a decisão foi “um passo na direção certa”.

Mesmo assim, advogados acreditam que a batalha não terminou. “Apenas retirar o produto hoje das prateleiras não encerra o processo”, disse Adam Zimmerman, professor da faculdade de direito Loyola, na Califórnia.

O amianto é conhecido por causar tipos de câncer que aparecem décadas após a exposição a ele. Alguns casos envolvendo produtos contaminados por esse material e retirados do mercado há muito tempo “continuam com o processo em andamento até hoje”, afirmou Zimmerman.

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