Indústria diz que Selic em 13,75% é desnecessária e prejudica a atividade econômica

BC manteve Selic em 13,75% a.a. pela quinta vez consecutiva e subiu o tom ao alertar para possíveis novos apertos

Tamara Nassif, da CNN, em São Paulo
PIB cresceu 1,9% no primeiro trimestre de 2023
Entidades também reforçaram cautela sobre o debate em torno da nova regra fiscal, que deve ser apresentada pelo Ministério da Fazenda em abril  • Getty Images
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Entidades que representam a indústria criticaram a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) em manter a taxa Selic em 13,75% ao ano pela quinta vez consecutiva.

Em nota, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) disse que a manutenção da Selic foi "equivocada".

"Na avaliação da instituição, o cenário atual indica que o Copom já deveria ter reduzido a Selic nesta reunião", informou.

"A CNI espera que esse processo de redução da Selic se inicie na próxima reunião e acredita que a manutenção da taxa de juros é, neste momento, desnecessária para o combate à inflação e apenas traz custos adicionais para a atividade econômica."

A instituição ainda reforça o pedido de cautela sobre a condução dos gastos públicos para evitar que a Selic permaneça no atual patamar por mais tempo.

O posicionamento da CNI ecoa a de outras entidades do setor industrial. Para a Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), o cenário é de "preocupação", ao ter-se em mente que a atividade brasileira "vem demonstrando claros sinais de desaceleração".

"Entende-se como necessário o debate sobre as elevadas taxas de juros no Brasil, uma vez que esta medida pode dificultar o acesso das empresas a crédito e investimentos, prejudicando o desenvolvimento do país e o bem-estar da população", afirmou em comunicado.

A federação informou que "considera relevante a promoção de reformas estruturantes e a apresentação de uma nova âncora fiscal que fomentem o aumento da eficiência dos gastos do governo, a sustentabilidade das contas públicas e o incremento da produtividade".

A Federação das Indústrias do Rio e Janeiro (Firjan) considera que a Selic em 13,75% "tem imposto severos sacrifícios à atividade econômica e representado entrave para as condições de crédito, prejudicando os investimentos das empresas e o consumo das famílias".

"No entanto, a federação reforça que, para que a redução da taxa Selic ocorra de forma responsável, é preciso que as incertezas no âmbito das contas públicas sejam superadas e que a ancoragem das expectativas de inflação em torno da meta esteja garantida", afirmou.

Procurada pela reportagem, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) não quis se posicionar.

Outros setores

No setor imobiliário, a reação foi semelhante. De acordo com a Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), a percepção é de que o BC "precisa reduzir" a taxa Selic, à medida que consideram os juros altos "entraves ao desenvolvimento econômico do Brasil" e com a capacidade de "prejudicar a geração futura de emprego".

"A construção responde por 7% do Produto Interno Bruto (PIB), 9% da arrecadação de impostos e 10% dos empregos gerados. Sendo assim, necessita de financiamento de longo prazo a juros baixos para viabilizar seu crescimento", disse em nota.

Por outro lado, a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) afirma que "a decisão foi a melhor para o atual momento, marcado por inflação alta e quadro fiscal ainda incerto" e que o "afrouxamento da política monetária brasileira poderia trazer um efeito rebote".

"A justificativa para que os juros permaneçam em patamar elevado é a inflação, ainda pressionada, com projeção de concluir o ano, mais uma vez, acima do teto estipulado pela junta", disse em nota, acrescentando que o pedido de recuperação judicial da Americanas também está entre os motivos que amparam a decisão do BC.

"[A crise] de uma grande varejista brasileira trouxe à tona a discussão de antecipar o ciclo de redução da taxa de juros, uma vez que o empreendimento tinha alta credibilidade no mercado de crédito – e, ao prejudicar bancos e empresas com o não cumprimento dos pagamentos, uma maior aversão ao risco recaiu sobre todos, consumidores e empresas. Esta situação se traduz em mais seletividade e juros mais altos."

Na mesma linha, a Associação Brasileira de Bancos (ABBC) acredita que a "deterioração do ambiente externo e o quadro de arrefecimento da atividade econômica ainda não produziu impacto relevante no balanço de riscos da inflação que justificasse uma alteração nas diretrizes da política monetária".

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