Condições para corte de juros no Brasil já estão dadas, diz Inter Asset
Gestora debateu sobre o cenário macroeconômico de 2026 durante Congresso Brasileiro de Previdência Privada, em São Paulo

O Brasil caminha para um novo ciclo de corte na taxa Selic, com condições macroeconômicas já favoráveis a uma redução mais estrutural dos juros, segundo análise de Ian Lima, gestor de Renda Fixa Ativa da Inter Asset.
Durante o Congresso Brasileiro de Previdência Privada, nesta quarta-feira (22), em São Paulo, Lima destacou que o movimento deve ocorrer em breve, seguindo a tendência de afrouxamento monetário que já vem sendo observada em outras economias.
“Já vimos todas as economias cortando juros. Estamos no próximo momento do ciclo. Hoje temos condições mais claras para esse corte acontecer — tem que ser um movimento mais estruturado do que o último”, afirmou o gestor.
A taxa básica de juros a 15% foi uma “resposta necessária”, para Lima, a um cenário de forte pressão fiscal e cambial, com papel fundamental para conter a deterioração das expectativas em um contexto em que o dólar chegou a R$ 6,30 e havia projeções de câmbio a R$ 7,00.
“O Banco Central conquistou credibilidade ao se mostrar independente e firme. O único ponto que ainda gera incerteza é a situação fiscal, que mantém as expectativas desancoradas no longo prazo”, observou.
Brasil atrativo para o investidor estrangeiro
Para Ian, o diferencial de juros e a perspectiva de cortes pelo Federal Reserve tornam o Brasil cada vez mais atrativo para o capital estrangeiro.
“O investidor global já começou a olhar o país de forma mais positiva. O Brasil fica bem posicionado, especialmente quando o diferencial de juros se mantém elevado.”
Em painel dedicado à discussão sobre renda fixa em 2026, ano eleitoral, Ian Lima destacou ainda que o Brasil continua sendo um país essencialmente voltado à renda fixa, impulsionada pelo ciclo de juros altos e reflexo da cultura conservadora do investidor local e da busca por segurança.
“A indústria de fundos hoje ronda os R$ 10 trilhões, e boa parte está concentrada em produtos de renda fixa e previdência”, disse.
Segundo ele, o atual patamar de juros abre oportunidades para quem investe em títulos de longo prazo, especialmente no contexto da previdência.
Resiliência das empresas
Helena Lage, Head de Crédito Privado da Inter Asset, destacou a resiliência do setor corporativo durante o ciclo de juros altos.
Mesmo com o custo do dinheiro elevado, as empresas conseguiram manter estrutura financeira sólida e um comportamento mais conservador em relação a investimentos, segundo análise.
“Apesar da Selic, as companhias se comportaram muito bem. Ninguém fez planos gigantescos; o foco foi em manter capex [Despesas de Capital] confortável e aproveitar o momento de mercado”, afirmou.
Com o ambiente de maior previsibilidade monetária, Lage vê sinais de retomada do apetite das empresas por crescimento, tendo em vista recordes de emissões em debêntures, e companhias voltando a olhar para expansão e gestão de dívida.
Crédito mais caro
A economista lembrou que o crédito ainda é caro, reflexo direto da Selic elevada, mas o mercado já passa por um processo de ajuste após a explosão de oferta vista no pós-pandemia.
“Desde 2022 começamos a ter um certo ajuste. O comprometimento de renda está sendo controlado. É inevitável que, com a Selic a 15%, o custo esteja alto, mas já há uma melhora gradual”, avaliou.
Segundo Lage, o cenário de inadimplência segue monitorado, mas o sistema financeiro como um todo se mostra resiliente, com empresas e bancos adaptando-se ao ambiente de juros mais elevados.