Copom não deve elevar Selic, apesar de IBC-Br acima do esperado, avaliam especialistas
Deflações recentes devem levar autarquia a manter taxa de juros em 13,75%, apesar de dados indicarem economia ainda aquecida
O Comitê de Política Monetária (Copom) deve manter a taxa básica de juros, a Selic, em 13,75% na reunião de setembro, mesmo após o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) vir acima do esperado pelo mercado e indicar uma economia aquecida, avaliam especialistas ao CNN Brasil Business.
No dia 5 de setembro, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, realizou um discurso que surpreendeu o mercado, com um tom ainda duro no combate à inflação. As falas abriram margens para mais apostas em uma elevação de 0,25 ponto percentual, mas a visão majoritária dos investidores ainda é de manutenção da taxa, segundo dados da B3.
Para especialistas, as recentes deflações registradas pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e o já elevado patamar da Selic são os principais argumentos a favor de uma manutenção da taxa, com o fim do ciclo de alta de juros iniciado em março de 2021.
Selic a 13,75%
Marília Fontes, sócia-fundadora da Nord Research, espera que o Copom pare a Selic em 13,75%, mas afirma que também trabalha com um cenário alternativo, em que a autarquia elevaria os juros em 0,25 p.p., porque “os dados de atividade estão sendo revisados para cima, surpreendendo o mercado, assim como os de mercado de trabalho”. Entre esses dados, ela cita o IBC-Br de julho.
Ela ressalta ainda que, mesmo com a inflação em queda, os núcleos do índice, que excluem itens voláteis como energia e alimentos, ainda estão em patamares altos, indicando que o Banco Central ainda tem “certas dificuldades” para combater a inflação.
Também projetando manutenção da Selic, o economista-chefe da Ativa Étore Sanchez não espera que o IBC-Br influencie a decisão do Copom, já que o indicador é considerado uma prévia do Produto Interno Bruto (PIB), que “hoje não é o enfoque primário de política monetária devido ao regime de metas de inflação”.
Outro dado divulgado nesta semana, o IGP-10, também não deve influenciar nesse racional, mesmo com a deflação registrada, porque ele mede uma “inflação ao produtor. Não é o objetivo direto do Banco Central, tem toda uma cadeia a ser transmitida até que chegue ao consumidor final e vire expectativa de inflação, e aí sim influenciar o Copom”.
Para Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter, projeta uma manutenção da Selic “apesar da alta mais forte da atividade, como indicou o IBC-Br de julho”, já que “a inflação segue em tendência de queda e podemos ver nova leitura negativa em setembro, o que seria o terceiro mês consecutivo de deflação”.
“Além da redução de impostos e gasolina, que resultou em queda de preços em julho e agosto, em setembro, devemos observar também a queda de preços de alimentos. A inflação ao produtor, medida pelo IPA, também indica queda de bens industriais e significa que a inflação ao consumidor nos próximos meses deve seguir sem pressão adicional”, ressalta a economista.
Para ela, “parte do crescimento da economia tem sido derivado do crescimento de investimentos, e recuperação da indústria com a normalização pelo lado da oferta, o que não traz pressão inflacionária na margem”.
Mesmo assim, ela acredita que o Copom ainda deve avaliar os possíveis impactos na inflação de medidas fiscais, como o aumento do Auxílio Brasil e potenciais extensões de gastos em 2023. As medidas influenciaram em especial a inflação de serviços, com inércia maior, o que poderia pesar na consideração de um aumento de 0,25 p.p.
“No entanto, as expectativas de inflação para 2023 já apresentam queda em relação à última reunião, e a taxa atual de 13,75%, considerando uma inflação 12 meses à frente de 5%, já significa um aperto monetário bastante restritivo que ainda não foi sentido na economia”, pondera Vitória.
O C6 Bank também espera uma Selic final em 13,75%, mas admite possibilidade de um último ajuste de 0,25 p.p. em setembro.
“O Copom deve anunciar o fim do ciclo de ajuste monetário nesta reunião de setembro, afirmando que vê como adequada a manutenção da taxa de juros no patamar corrente, mas deve ressaltar que os próximos passos da política monetária continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação”, afirma a equipe econômica do banco, liderada por Felipe Salles.
Para a equipe, “a manutenção da taxa Selic em patamares significativamente contracionistas por um período prolongado seria mais efetiva para trazer a inflação à meta do que elevações adicionais de juros”.
Já Gustavo Batista Wanderley, gerente de Investimentos do Paraná Banco, destaca que, embora a autarquia tenha deixado um espaço para uma última elevação em setembro, “os dados recentes de inflação indicam que esta última alta não será necessária. Agora, a grande questão passa a ser a velocidade de redução dos juros em 2023, que deverá encerrar o ano em 11,25%”.
“O IPCA de agosto veio em linha com nossas expectativas, uma deflação de 0,36%, impactado pela nova queda no preço dos combustíveis. Analisando o núcleo da inflação, que desconsidera esses choques temporários, notamos melhora importante em alguns itens. Nossa expectativa é que o IPCA feche em 6,50% em 2022 e 5,20% em 2023”, avalia.