Crise dos Correios passa por interferência política e gestão, diz professor
Estatal anunciou plano de reestruturação e empréstimo de R$ 20 bilhões
Os Correios anunciaram nesta quarta-feira (15) um plano de reestruturação para enfrentar uma crise financeira sem precedentes, marcada por prejuízos bilionários que se acumulam há três anos consecutivos.
Em entrevista à CNN Brasil neste sábado (19), Claudio Felisoni, professor da FIA Business School, explica que o resultado crítico pode ser explicado por fatores estruturais, como mudanças tecnológicas, e da gestão da companhia.
"No caso dos Correios você tem mudanças importantes que vem impactando volumes, mas só isso não explica os prejuízos recorrentes e astronômicos. Temos que olhar a conduta das empresas", diz.
"As maiores dificuldades têm a ver com a conduta das empresas estatais: interferência política, gestão não adequada, interferência nas políticas de preços, designação de profissionais, alavancagem".
O presidente dos Correios, Emmanoel Rondon, confirmou nesta quarta-feira (15) que a estatal negocia um pedido de empréstimo de cerca de R$ 20 bilhões a bancos estatais e privados, com garantia do Tesouro Nacional, para salvar as contas da estatal em 2025 e em 2026.
O anúncio ocorre em meio a um rombo bilionário nas contas dos Correios. Segundo Rondon, a empresa ainda não pode apresentar os termos do empréstimo, que ainda está em fase de “negociação”.
Impacto nas contas públicas
Os Correios lideram uma preocupante lista de estatais deficitárias, que acumulam prejuízos somados de R$ 8,3 bilhões.
Felisoni pontua que a situação reflete um padrão identificado em estudos internacionais realizados por instituições como o Banco Mundial e o FMI, que apontam desempenho consistentemente inferior das empresas estatais em comparação com as privadas, especialmente em países de baixa renda.
"Há uma série de informações nacionais e internacionais mostrando que esses problemas causam muitas dificuldades na gestão pública", afirma o especialista.
Em termos comparativos, o professor exemplifica que a dívida pública em relação ao PIB saltou de 47% em janeiro de 2023 para 56% em agosto do mesmo ano, o que representa um aumento de 8 pontos percentuais em menos de quatro anos.