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    Dados econômicos confirmam abril como um dos piores meses da história

    Juliana Elias, , do CNN Brasil Business, em São Paulo

    Os principais indicadores referentes a abril, de atividades como indústria, comércio e serviços, começam a ser agora divulgados e já permitem inteirar um retrato deste que foi o primeiro mês que sofreu impacto integral dos contágios e das medidas de isolamento pela pandemia de coronavírus no Brasil.

    As quedas agudas já eram esperadas, mas não são por isso menos assustadoras, e o conjunto completo dos números confirma que o país viveu, em abril de 2020, um dos piores meses de sua histórica econômica. Nem mesmo momentos recentes de crise profunda, como o da crise financeira global de 2009 e o da acentuada recessão por que o país passou em 2015 e 2016, tiveram quedas tão fortes e em tão pouco tempo quanto as vistas neste momento.

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    “Este será o pior trimestre do ano e, dentro dele, o pior mês terá sido abril”, diz a economista e professora Margarida Gutierrez, do Instituto Coppead de Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppead/UFRJ). “É o que sofreu o maior impacto, pegou todos de surpresa e quem não perdeu o emprego ficou com medo e paralisou o consumo.” 

    Ela lembra que, enquanto o grosso de fábricas e comércios já estavam paralisados, os principais programas de ajuda estavam apenas começando, caso dos primeiros pagamentos do auxílio emergencial de R$ 600 e das linhas especiais de crédito oferecidas pelo governo, que tiveram dificuldades para chegar às pequenas e médias empresas. 

    O primeiro caso de Covid-19 foi confirmado no Brasil em 26 de fevereiro, a primeira morte foi anunciada em 17 de março e foi também em meados de março que começaram os primeiros grandes programas de isolamento em diversos estados. No primeiro trimestre, o PIB do país caiu 1,5% na comparação com os últimos três meses de 2019.

    Os piores números em duas décadas

    Em abril, o volume de serviços prestados no país caiu 11,7% em relação ao registrado em março. As vendas no varejo despencaram 17% e a produção industrial amargou uma redução de 19%. Se comparadas as vendas de abril deste ano com as do mesmo mês no ano passado, as quedas são ainda maiores: os serviços encolheram 17,3%, o comércio varejista vendeu 27% menos e a produção da indústria caiu próximo de 30% – só não foi pior porque a indústria extrativa, que inclui atividades exportadoras como a mineração, subiu 10%. 

    Em todos os setores, são as quedas mais acentuadas de toda a série histórica, um alcance de quase 20 anos nos casos dos dados da indústria e do varejo e de 9 anos para a pesquisa dos serviços, que começou a ser feita em 2011. Os dados são compilados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e foram divulgados ao longo dos últimos dias (veja todos os gráficos ao fim). 

    Completam a sangria os números do IBC-Br para o mês, uma espécie de prévia do PIB calculada pelo Banco Central (BC), com base nos indicadores do IBGE, e que foram divulgados nesta quinta-feira (18): eles apontam uma retração de 9,7% na passagem mensal, de março para abril, e de 15% na comparação com abril do ano passado – também os piores resultados desde o início da série, em 2003.   

    Só confisco da poupança foi pior

    Para se ter uma ideia, no pior momento da recessão de 2016 – que foi uma das piores recessões em um século no país – o IBC-Br apontou uma queda anual de 7,7% na atividade, em janeiro daquele ano. É metade da retração de 15% registrada agora.

    De acordo com Claudio Considera, pesquisador do Instituo Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), pouquíssimos momentos de que se tem registro antes disso se comparam à paralisia que está sendo testemunhada durante a pandemia. “Só um mês, abril de 1990, teve um resultado pior, que foi quando houve os sequestros das contas correntes e da poupança e a economia ficou paralisada”, disse, referindo-se ao plano de arrocho feio pelo governo Collor logo no início do mandato. 

    Recuperação ainda mais difícil

    É o que indica o IEA, ou Indicador de Atividade Econômica, uma prévia do PIB semelhante ao IBC-Br feita pela FGV desde 1980, e de que Considera é um dos coordenadores. Em abril, o IEA apontou retração de 12% no nível de atividade comparado ao mesmo mês em 2019. 
     

    Os dados reafirmam projeções amargas para o PIB do segundo trimestre e também do ano. Analistas e economistas entendem que maio deve repetir os níveis deprimidos de abril, com alguma melhora sendo esboçada a partir de junho e nos demais trimestres do ano. Isso, entretanto, não afasta a possibilidade de revisões – para pior – caso o país não suceda em controlar as mortes e contaminações pela doença. 

    No Coppead, da UFRJ, de acordo com Gutierrez, as projeções de queda para o PIB em 2020 estão na ordem de 8% a 9%, com a retração no segundo trimestre podendo ser bem maior do que 10%. Em relatório a investidores nesta quinta-feira, a corretora XP Investimentos refirmou sua projeção de queda de 13,4% do PIB do segundo trimestre na comparação anual e de 11,7% ante o trimestre anterior. 

    Há um consenso de que, pela retomada gradual das atividades e até pela base muito reduzida de que vamos partir, o país volte a ver algum crescimento entre o fim deste ano e o próximo, e as projeções para 2021 falam em altas na faixa de 2% para o PIB do ano que vem. 

    Não faltam, entretanto, os que duvidem também dessa capacidade. “O governo está ampliando os gastos agora, mas deve voltar a fazer uma política contracionista no ano que vem”, diz o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco Gonçalves. “Não dá para fazer um corte desse tamanho nos gastos do governo no próximo ano e achar que a economia vai responder positivamente.” Tudo o que o governo gasta, ao lado do que as famílias e as empresas consomem, é um dos principais componentes que formam o PIB do país.  

    As projeções do Banco Fator para a economia são de retração do PIB na ordem de 9% neste ano, seguidas por uma nova retração em 2021, de 2,5%. 

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