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Galípolo admite descumprimento e prevê atingir meta da inflação só em 2026

Banqueiro central apontou fatores como atividade aquecida, expectativas desancoradas e inércia inflacionária como principais causas

Cristiane Noberto, da CNN, Brasília
Presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, durante coletiva de imprensa, em Brasília
Presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, durante coletiva de imprensa, em Brasília  • 27/03/2025REUTERS/Adriano Machado
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Em carta enviada nesta quinta-feira (10) ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o presidente do BC (Banco Central), Gabriel Galípolo, admitiu o descumprimento da meta de inflação por seis meses consecutivos e projetou que o alvo só deve voltar ao intervalo de tolerância no fim do primeiro trimestre de 2026.

"O Banco Central espera que a taxa de inflação acumulada em doze meses [...] retorne aos limites estabelecidos no intervalo de tolerância a partir do final do primeiro trimestre de 2026", diz a comunicação.

A meta de inflação fixada pelo CMN (Comitê Monetário Nacional) é de 3% com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.

Ou seja, para considerar que o BC alcançou o alvo, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) não pode ser menor de 2,5% ou maior de 4,5% num intervalo de seis meses.

Nesta quinta-feira, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou o IPCA acumulado em doze meses que atingiu 5,35% em junho, acima do teto fixado pelo CMN.

O banqueiro central apontou fatores como atividade aquecida, expectativas desancoradas e inércia inflacionária como principais causas do estouro da meta.

“A atividade econômica surpreendeu positivamente, com crescimento do PIB acima do esperado e mercado de trabalho bastante aquecido, refletindo aumento do consumo das famílias e do investimento. As expectativas de inflação se desancoraram, especialmente, ao longo do segundo semestre de 2024”, diz o texto.

Entre os componentes que mais pressionaram os preços, o BC destacou a alta da gasolina, serviços, alimentos industrializados e vestuário.

A valorização do dólar frente ao real também teve impacto, elevando o custo de bens importados. “A taxa de câmbio apresentou valorização do dólar frente ao real, com impacto direto nos preços de bens importados e nas expectativas de inflação”, pontuou o presidente do BC.

Desta forma, o cenário de inflação mais persistente levou o Copom (Comitê de Política Monetária) a iniciar um novo ciclo de aperto monetário em setembro do ano passado.

Desde então, a taxa básica de juros foi elevada em 4,5 pontos percentuais, alcançando 15% ao ano em junho.

O BC indicou que pode manter os juros em nível contracionista por um período prolongado e não descarta novas altas, caso considere necessário para garantir a convergência da inflação.

“O Comitê segue vigilante [...] e não hesitará em prosseguir no ciclo de ajuste caso julgue apropriado”, afirma o texto.

O BC também anunciou que publicará cartas adicionais caso a inflação não volte à meta no prazo projetado ou se as medidas exigirem revisão. Durante o período de descumprimento, Galípolo se comprometeu em manter atualizações trimestrais no Relatório de Política Monetária, detalhando os avanços e os efeitos das ações adotadas.

Galípolo reiterou o compromisso com a meta de inflação de 3% e com a transparência da política monetária.

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