Empresas recorrem a crédito como "remédio" e "vacina" a tarifaço dos EUA
Nesta semana, BNDES abriu protocolo para que CNPJs impactados pelas taxas possam solicitar empréstimos

As empresas brasileiras impactadas pelo tarifaço dos Estados Unidos vêm recorrendo ao crédito para sobreviver ao cenário. Para os CNPJs, os empréstimos são “remédio”, evitando os sintomas mais graves das taxas, mas também “vacina”, visando prevenir que os negócios estejam vulneráveis a sanções unilaterais no futuro.
Nesta semana, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) abriu protocolo para que as empresas possam solicitar os empréstimos. Ao todo, estão disponíveis R$ 40 bilhões, sendo R$ 30 bilhões em recursos do FGE (Fundo Garantidor de Exportações) e R$ 10 bilhões do próprio Banco.
No setor de pescados, dos produtores de tilápia do Paraná aos produtores de tambaqui de Rondônia, o crédito é necessário para que negócios afetados sobrevivam. O segmento foi um dos mais impactados pelo tarifaço no país.
Eduardo Lobo, presidente da Abipesca (Associação Brasileira das Indústrias de Pescados), destaca em entrevista à CNN a importância de dinheiro para capital de giro — voltado a financiar custos operacionais —, garantindo que as empresas consigam armazenar mercadoria e manter a produção rodando.
“As linhas vão dar condições de as empresas exportadoras de peixes manterem seus estoques mais elevados e procurarem novos mercados. Não existe uma condição factível de se exportar para os Estados Unidos com uma taxa tão alta”, disse o executivo.
Além de dinheiro para capital de giro, as empresas veem oportunidades no dinheiro disponibilizado para investimentos. Há linhas voltadas a financiar a busca dos CNPJs por novos mercados, aquisição de máquinas e equipamentos e aporte em inovação tecnológica e adaptação das atividades.
O setor têxtil de Santa Catarina, de São Paulo e de outros estados que exportam aos EUA, enquanto não há solução junto aos Estados Unidos, farão esforço pela busca de novos mercados, segundo Fernando Pimentel, diretor superintendente da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção).
“Para corrigir a falta de mercado, ou soluciona a situação com os Estados Unidos, ou precisa vender para outros países. As linhas de crédito para investimento no Brasil costumam ter juro alto, e agora foi reduzido o custo do capital”, disse em entrevista à CNN.
O executivo da Abipesca destaca que o investimento em tecnologias e adaptação da mercadoria por vezes é o que viabiliza atingir novos mercados.
“Podemos criar nichos que se adaptem a mercados dos quais o setor de pescados nunca conseguiu acessar. Podemos empanar o produto, melhorar nossas conservas, fazer pratos pronto. Muitas oportunidades podem surgir com a linha de crédito de inovação”, disse.
Apesar de destacar a relevância do crédito, Pimentel pede que o governo continue movendo esforços para reverter as tarifas de 50%: “Sem dúvida as linhas ajudam, mas reitero: a solução estrutural é procurar novos mercados e encontrar caminhos para que a Casa Branca reduza as tarifas”, completou.
Manutenção de empregos
Além da ajudar as empresas, as linhas também buscam proteger os trabalhadores, segundo o diretor de Desenvolvimento Produtivo, Inovação e Comércio Exterior do BNDES, José Gordon. O acesso aos empréstimos estará condicionado à manutenção dos empregos pelos CNPJs beneficiados.
“Há uma cláusula de manutenção de empregos: pega a média dos doze meses anteriores ao início do tarifaço e mede também doze meses a partir do quinto mês após a empresa pegar o crédito. A partir da comparação vai aferir a manutenção. Caso não tenha, haverá a punição, cobrando Selic no que foi emprestado”, disse em entrevista à CNN.
Para assegurar o cumprimento da ação, o governo anunciou a criação da “Câmara Nacional de Acompanhamento do Emprego”. O órgão será responsável por monitorar o nível dos postos de trabalho nas empresas e suas cadeias produtivas, fiscalizar obrigações, benefícios e acordos trabalhistas.