Estudo aponta que energia é responsável por mais de 20% do custo da cesta básica
Levantamento da Abrace detalha impacto energético nas despesas das famílias brasileiras
O peso da energia no custo final dos alimentos corresponde, em média, a 23,1% do preço da cesta básica, que considera produtos agrícolas in natura, como carnes e ovos, pescados, além de pães e macarrão.
Esse índice é resultado da soma de 15,3% da despesa com energia elétrica e 7,9% com gás natural, segundo dados de um estudo técnico contratado pela Associação dos Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace) junto a uma consultoria privada.
O estudo aponta que, para uma família com renda mensal de até R$ 1.908, o peso da energia chega a 9,1% do orçamento familiar. Já para uma família com renda mensal acima de R$ 23.850, a proporção é de apenas 3,5%.
Levando-se em consideração o peso do custo direto e indireto com energia elétrica, gás e combustíveis, os impactos são menos díspares entre as diferentes camadas sociais. As famílias com renda mensal entre R$ 2.862 e R$ 5.724 são as mais afetadas, com peso de 18,3% em seus rendimentos. Nas famílias que recebem até R$ 1.908, o peso é de 17,9%. As que menos sofrem, novamente, são as famílias mais ricas, com renda acima de R$ 23.850.
O estudo também buscou apontar os impactos dos preços da energia no custo da produção industrial. Segundo o levantamento, o peso da energia tem impacto de 8,6% do preço final da indústria extrativa mineral e na indústria de transformação. Considerando os impactos diretos e indiretos nestas indústrias, chega a responder por 25,6% do preço final.
De acordo com o documento, a “reversão do processo de encarecimento da energia e do gás natural tem o poder de restabelecer bases sólidas para o investimento industrial, com efeitos sobre a geração de renda e emprego em toda a economia”. A Abrace aponta que com a redução dos custos de energia, haveria maior o crescimento do PIB.
O levantamento ainda indica que com esse crescimento, numa eventual redução dos custos de energia, a população ocupada aumentaria, “com a abertura de sete milhões de postos de trabalho a mais do que o projetado no cenário de referência (IBGE)”. O estudo também mostrou que a taxa de expansão do PIB per capita aumentaria nos próximos 10 anos, “permitindo que a média do brasileiro cresça mais rapidamente do que a média mundial”.
Segundo o presidente da Abrace, Paulo Pedrosa, há três pontos importantes que poderiam fazer com que os custos de energia no país sejam reduzidos.
“Primeiro é retirar custos que estão na conta de energia e não deveriam estar. O consumidor paga muita coisa que deveria estar no orçamento da União, como custos de políticas públicas e de subsídios. O segundo ponto é a limitação dos ‘cercadinhos vips do setor’, das reservas de mercado e das proteções. Por último, a promoção da competição. Mais competição no setor de forma que cada consumidor assuma a responsabilidade pela sua contratação, pelos menos os grandes consumidores. Mas também de forma eficiente, sem ninguém carregar ninguém nas costas”, avaliou Pedrosa.
Segundo ele, o setor elétrico atualmente movimenta R$ 300 bilhões por ano. Porém, há o entendimento por parte da Abrace de que, desse total, R$ 100 bilhões são “gordura que poderia ser retirada se fossem feitos os movimentos mencionados”.
Custos da energia nos preços por produto
O estudo elencou alguns dos principais produtos cujo valor da energia impacta de forma significante, como elencado abaixo.
Caderno: 35,9% do preço final
Carne e leite: 33,3%
Pão: 27,2%
Esquadrias: 25,3%
Tubos de PVC: 24,5%
Vidro e cimento: 24,5%
Borracha: 24,5%
Lápis: 14,8%
Automóvel: 14,1%
Bebidas: 13,2%
Vestuário: 12,4%
Eletroeletrônico: 10,6%