Governo pode ter subestimado custo político do IOF, diz especialista
Rafael Cortez, da Tendências Consultoria, aponta falhas na estratégia de comunicação do Executivo ao anunciar aumento do imposto
O governo federal não soube prever o custo político que o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) teria, medida que agora sofre forte resistência do mercado e do no Congresso Nacional, aponta Rafael Cortez, sócio da Tendências Consultoria.
Em entrevista ao CNN Money nesta sexta-feira (30), o especialista afirma que o governo pode ter subestimado o custo político da estratégia arrecadatória.
"Talvez o que a equipe econômica e o governo tenham subestimado, na verdade, é o nível de ruído que determinadas matérias geram, como foi o caso do IOF", afirma o especialista.
A escolha de baixar um decreto para elevar o IOF como instrumento de arrecadação é vista por Cortez como um sinal de que o governo reconheceu seu desgaste perante o Congresso Nacional para aprovar pautas econômicas.
No entanto, a repercussão negativa da medida nos mercados e no cenário político levou o governo a recuar parcialmente.
O analista destaca que o clima entre o Executivo e o Congresso tem se tornado cada vez mais tenso, com reações duras até mesmo da base aliada do governo.
"É um processo que vai se retroalimentando. O governo fica preso nessa questão fiscal, não consegue construir a sua estratégia", explica Cortez.
A possibilidade de revogação da medida pelo Congresso é considerada real pelo especialista. O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos - PB), já defendeu a derrubada do decreto, e a pressão de setores econômicos sobre os parlamentares tem aumentado.
Cortez também aponta falhas na estratégia de comunicação do governo ao anunciar o aumento do IOF. O anúncio coincidiu com a divulgação de um relatório das contas públicas que indicava um congelamento orçamentário maior que o esperado pelo mercado, o que poderia ter sido uma notícia positiva para os agentes econômicos.
"O fato do governo, no mesmo dia, ter recuado de uma parte da medida, mostra que em alguma medida isso não foi bem pensado. Seja do ponto de vista da escolha, ou seja, da estratégia, seja da comunicação", analisa o consultor.
