PEC dos Combustíveis é uma forma de burlar o teto de gastos, diz economista

À CNN, Pedro Rodrigues afirma que projeto em discussão pelo governo, com isenção de tributos, não resolveria alta de preços

Juliana Alves, da CNN, João Pedro Malar, do CNN Brasil Business, em São Paulo
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Conforme os preços dos combustíveis no Brasil continuam a subir, seguindo a cotação internacional do petróleo, o governo federal discute o uso de um projeto para reduzir a tributação sobre esses produtos para aliviar os preços.

Chamada de PEC dos Combustíveis, a proposta seria uma forma de burlar o teto de gastos, segundo Pedro Rodrigues, sócio do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).

Em entrevista à CNN nesta sexta-feira (4), ele afirmou que "a gasolina no Brasil, os derivados de petróleo, são caros em razão da tributação muito alta, mas não estão caros por razão do tributo. O tributo é consequência, não causa. Hoje o preço está alto porque o petróleo está muito alto e nosso real está muito desvalorizado, não porque o ICMS aumentou ou PIS/Cofins aumentaram".

Nesse sentido, ele diz que a discussão de uma política tributária diferente sobre os combustíveis é válida considerando a importância deles para a vida dos cidadãos, mas a "empurrar na conta dos governadores ou da União o aumento do preço não vai adiantar, porque se o barril continuar a subir e o real a desvalorizar, o preço aumenta novamente".

Para ele, a discussão sobre tributação deveria ser feita dentro de uma reforma tributária ampla, de forma a não prejudicar os orçamentos estaduais e federal pela perda de receita.

"A PEC é uma grande manobra para fugir do teto de gastos. Sem ela, se zera impostos tem que achar a receita em outro canto, a PEC é uma tentativa de burlar isso, mas não deve resolver porque o PIS/Cofins tem um percentual muito baixo no preço final, e a própria cadeia acaba absorvendo essa redução".

Rodrigues avalia que a discussão sobre o tema está "enviesada", e pode acabar criando um "Frankenstein". O economista afirma que faria sentido reduzir tributos sobre o diesel e o gás liquefeito de petróleo (GLP) devido à importância deles e os efeitos severos sobre a população com as altas de preços, afetando tanto a qualidade de vida quanto a inflação.

Ele defende, porém, que a gasolina seja deixada de lado nesse âmbito. "Temos que pensar políticas que desincentivem essa volatilidade, melhorar o transporte público para que as pessoas andem menos de carro", diz.

O economista diz que é normal que os países tentem minimizar os impactos de altas dos combustíveis para a população, e que o Brasil "já deveria ter pensado em um fundo de estabilização de preços, uma maneira de reduzir essa volatilidade".

Com os preços do petróleo ainda subindo no exterior, a política da Petrobras de seguir a cotação internacional deve fazer com que a empresa sofra ainda mais pressão política. Entretanto, Rodrigues afirma que a empresa não é estatal, mas sim de economia mista, com acionistas privados que são maioria apesar do governo federal ser o controlador.

"Óbvio que a pressão aumenta, agora é diferente porque no passado a Petrobras tomou multas bilionárias por ter usado os balanços para realizar essas políticas públicas", afirma. Ele também diz ser uma "visão errada" usar a Petrobras para realizar políticas públicas.

"O que o governo deveria fazer era aproveitar esses dividendos bilionários, essa máquina de dividendos, e usar esses dividendos que vão para a União e usar como bem entender, para a política pública como quiser, discutir com o Congresso. Pode usar para fazer um fundo de estabilização, um vale-gás, um vale caminhoneiro", diz.

Nesse sentido, ele avalia que a União não pode misturar a política pública que realiza com os recursos gerais da Petrobras e o balanço da empresa, se atendo ao uso do dinheiro que recebe enquanto acionista.

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