Rússia vê contêineres se acumularem em portos após comércio com China crescer 32% neste ano
China emergiu como a chave para a sustentação da economia russa após o início da guerra na Ucrânia
Nos primeiros oito meses de 2023, o comércio bilateral entre a China e a Rússia aumentou 32% em comparação com o mesmo período do ano anterior.
O volume total de comércio entre os dois países atingiu a marca de US$ 155 bilhões (R$ 773,7 bilhões), de acordo com dados aduaneiros chineses divulgados no início de setembro.
A alta inclui um aumento nas exportações da China para a Rússia, que cresceram 63,2% em relação ao ano anterior, atingindo US$ 71,8 bilhões (R$ 358,4 bilhões). Já as importações chinesas aumentaram modestamente em 13,3%, para US$ 83,3 bilhões (R$ 415,8 bilhões).
O alto fluxo de trocas comerciais chegou ao ponto que os contêineres vindos da China estão se “acumulando” na Rússia, de acordo com uma pesquisa.
A Rússia tem 150 mil contêineres extras que os importadores estão lutando para devolver ao parceiro comercial, disse a plataforma logística Container xChange em um relatório divulgado na quinta-feira (28), citando informações fornecidas por um cliente.
“Há um movimento significativo de carga da China para a Rússia, mas um movimento muito escasso de volta da Rússia para a China. Os contêineres estão se acumulando na Rússia, o que significa que os preços dos contêineres usados são muito baixos na Rússia”, disse o CEO Christian Roeloffs no relatório.
Aliado chave
A China emergiu como a chave para a sustentação da economia russa após o início da guerra na Ucrânia.
Com a invasão promovida pela Rússia, os Estados Unidos e seus aliados cortaram o comércio e impuseram sanções para sufocar o esforço de guerra do Kremlin. A China insiste que é neutra e busca a paz na Ucrânia.
Mas os líderes chineses veem Moscou como um parceiro estratégico próximo e um contrapeso fundamental contra um Ocidente hostil.
No decorrer do conflito, Pequim aumentou as compras de energia russa e se tornou um fornecedor crítico de bens de consumo para o mercado russo.
A Rússia disse que espera que o comércio com a China atinja um recorde de US$ 200 bilhões ainda em 2023 – um ano antes do calendário que o presidente Vladimir Putin e o líder chinês Xi Jinping estabeleceram em 2019.
Desequilíbrio
O excesso de contêineres - que fez com que o preço da categoria de 40 pés caísse sete vezes desde o início do ano passado - é uma consequência do “aprofundamento do desequilíbrio comercial entre a Rússia e a China” no que diz respeito ao tipo de produtos enviados por carregamento, segundo a Container xChange.
Os seus crescentes laços comerciais deslocaram o comércio energético russo para o leste e suscitaram críticas de que o apoio econômico da China está sustentando a guerra da Rússia contra a Ucrânia.
O tipo de mercadorias trocadas está contribuindo para o excedente de contêineres na Rússia, de acordo com a Container xChange.
O relatório apontou para as compras de matérias-primas russas pela China, que são transportadas principalmente através de tanques ferroviários e vagões abertos, em vez de contêineres.
Os automóveis e aparelhos eletrônicos estão entre os principais produtos que os fornecedores chineses vendem à Rússia, depois de centenas de marcas globais terem fugido do país após a invasão.
Na outra direção, quase um quinto das importações de petróleo bruto da China em julho veio da Rússia, afirmou a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) num relatório divulgado no início de setembro.
Juntamente com a Índia, a China foi responsável por 80% das exportações de petróleo russas no mês de julho, afirmou a Agência Internacional de Energia (AIE) em relatório de agosto.
A Container xChange também apontou para questões logísticas mais amplas ligadas à mudança nos padrões comerciais e ao congestionamento.
“Os portos e estradas russos sobrecarregados estão causando ineficiências nos transportes. Embora tenham sido feitos alguns investimentos para melhorar a infraestrutura; as restrições fiscais e [os métodos utilizados para cobrir] os défices orçamentais complicam a situação”, afirmou.
“O pivô da Rússia para a Ásia depende do desenvolvimento substancial de infraestruturas”, concluiu.
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