AGF: Ano eleitoral pode ser oportunidade para investimentos no longo prazo

Na visão de Louise Barsi, sócia-fundadora da companhia, quem decide investir no mercado brasileiro precisa ter como premissa que será volátil

Por Paula Arend Laier, da Reuters
Pai e filha têm assentos no conselho de administração da Unipar e Louise está também no colegiado do IRB (Re)  • Reprodução
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Anos eleitorais podem ter boas oportunidades para quem investe em ações mirando o longo prazo, afirmou Louise Barsi, sócia-fundadora da AGF, empresa que busca difundir a estratégia desenvolvida pelo seu pai, Luiz Barsi Filho, um dos maiores investidores brasileiros, com uma carteira de R$ 4,2 bilhões.

Louise afirmou que o percentual em caixa desse portfólio — formado com a filosofia de acumular ações de empresas sólidas que pagam dividendos com regularidade — deve subir nos próximos meses tendo no radar as eleições em 2026. Atualmente, segundo ela, está em 3%.

"Gostaríamos de nos preparar para um cenário adverso em 2026... ano eleitoral sempre se deve ter caixa, é assim que o jacaré abocanha boas oportunidades", afirmou em entrevista à Reuters, acrescentando que esse caixa é feito retendo os aportes e usando o fluxo de dividendos.

A AGF, sigla para Ações Garante o Futuro, tem o jacaré como "mascote" pelo simbolismo que o comportamento do animal tem na natureza com uma característica do bom investidor de longo prazo, de ser paciente. E, no mercado brasileiro, esse atributo se faz ainda mais necessário.

Na visão de Louise Barsi, quem decide investir no mercado brasileiro precisa ter como premissa que será volátil. "Quando não tivemos um cenário macroeconômico volátil no Brasil?" Mas turbulências, acrescentou, dão oportunidades de "continuar investindo em excelentes empresas a excelentes preços".

Louise falou com a Reuters na quarta-feira (17), véspera do AGF Day, que acontece nesta quinta-feira (18), em São Paulo.

O evento, voltado à educação financeira e à valorização do investidor pessoa física, terá palestras de Luiz Barsi e da equipe da AGF, além do ex-presidente Michel Temer, dos presidentes da B3, da Porto Seguro, da Unipar entre outros.

Também na quarta-feira, o Banco Central manteve a taxa básica de juros do país em 15% ao ano, nível mais alto em 20 anos, em decisão unânime de sua diretoria, que destacou que o ambiente incerto demanda cautela e que seguirá avaliando se o patamar é suficiente para levar a inflação à meta.

Louise Barsi admitiu que com a taxa de juros a 15% investidores pensam duas vezes antes de terem ações. Mas ressaltou que, para quem gosta de investir em ações a longo prazo, é também uma grande oportunidade.

Investidora na bolsa de valores desde os 14 anos, ela também destacou que fatores micro são preponderantes para decisões sobre onde alocar em ações no longo prazo, mas ponderou que o quadro macro pode ajudar a determinar no curtíssimo prazo a que preços o investidor "vai colocar esses bons ativos para dentro".

Banco do Brasil

Uma das ações mais longevas na carteira de Luiz Barsi Filho é o papel do Banco do Brasil, que tem sofrido na bolsa neste ano, principalmente após a divulgação do resultado no primeiro trimestre em maio, com suspensão de algumas projeções, pressionado principalmente por inadimplência na carteira do agro.

Barsi, o pai, começou a investir no BB em meados da década de 1970 e chegou a pagar R$0,60 por uma ação.

Na quarta-feira, o papel fechou a R$21,57. A posição atual, porém, foi construída ao longo dos anos pelo investidor, que comprou "um pouquinho" nas quedas recentes, segundo a filha.

"A nossa visão micro do banco sobre fortalezas e vantagens competitivas continua exatamente a mesma", afirmou a sócia-fundadora da AGF, destacando justamente a carteira de crédito rural, "que é mais cíclica...mas (o setor) continuará sendo por muitos anos uma das grandes vantagens competitivas do Brasil".

No curto prazo, acrescentou, os resultados podem sofrer com pressão da inadimplência, não só do agronegócio, mas também de outras linhas que talvez demorem um pouco mais para se recuperar, "mas faz parte do jogo".

"Nós conseguimos conviver muito bem com o fato de que erros podem ser cometidos no meio do caminho...ou um cenário atípico pode trazer algum aperto de curto prazo, mas, na nossa visão, (não houve) nada que tenha mudado a tese estruturalmente", afirmou.

"Fizemos algumas compras pontuais nessas quedas (da ação) desde o resultado do primeiro trimestre e agora seguimos aguardando", afirmou, explicando que o patamar de R$22 está acima do novo preço-teto baseado no novo payout de 30%, anunciado pelo BB no mês passado.

Antes do balanço do primeiro trimestre, as ações do BB foram negociadas acima de R$ 29. No primeiro pregão após os dados, desabaram quase 13%; e no começo de agosto, foram transacionadas ao redor de R$ 18.

Os papéis ainda sofreram recentemente por receios envolvendo a aplicação de Lei Magnitsky.

"Um ciclo ruim não é suficiente para decretar o fim de uma empresa com mais de 200 anos de solidez", afirmou Louise Barsi, reforçando que "a parte mais difícil para quem investe não é a compra, não é a venda, é a espera".

Mais recentemente, as ações experimentaram uma recuperação endossadas por medida provisória que libera R$ 12 bilhões para renegociação de dívidas de produtores rurais impactados por problemas climáticos e resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN) que flexibiliza critérios de cura de dívidas em atraso.

O BB chegou a ser uma das maiores posições na carteira de Barsi, o pai, mas, segundo a filha, com a oscilação recente das cotações do banco e novos aportes que ele fez em Auren Energia, as maiores posições atualmente são Unipar, Klabin e Auren, respectivamente.

Pai e filha têm assentos no conselho de administração da Unipar e Louise está também no colegiado do IRB (Re).

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