Real tem pior desempenho contra o dólar com retomada do temor fiscal
Divisa brasileira se descolou de perdas de países emergentes e voltou a ser negociada a R$ 5,50

O real teve o pior desempenho contra o dólar entre as principais moedas do globo nesta sexta-feira (10), ressaltando o mau humor dos investidores com o cenário doméstico em meio ao temor com a piora da política fiscal do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A última sessão da semana foi marcada pelo desempenho negativo em bloco das divisas emergentes, em meio à busca de proteção dos investidores após o aumento das tensões globais com as novas ameaças de Donald Trump em aumentar as tarifas contra a China.
A moeda brasileira, porém, se descolou com ampla margem, indicando que problemas domésticos deram ainda mais força para a desvalorização contra o dólar.
Atrás do real, o rand sul-africano teve perda de quase 1,6%, enquanto o peso da Colômbia desvalorizou cerca de 1%.
Cenário doméstico
A preocupação com o desempenho das contas públicas voltou a pressionar os investidores nos últimos dias. O movimento ficou mais intenso nesta semana após a derrota do governo em aprovar a MP (Medida Provisória) que mudava a taxação de investimentos.
A MP 1303 teria impacto fiscal de R$ 14,8 bilhões em 2025 e de R$ 36,2 bilhões em 2026, considerando as novas receitas previstas e os cortes de despesas, conforme o Ministério da Fazenda.
Nesta semana, Lula e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, indicaram que o governo buscará alternativas para fechar as contas no próximo ano.
Durante a manhã, o mau-humor dos investidores se intensificou após reportagem do jornal O Estado de S. Paulo indicar que o pacote de medidas do governo para 2026 poderia somar R$ 100 bilhões, sem que as receitas estejam garantidas.
Na conta entram medidas como a da isenção do Imposto de Renda para quem recebe até R$5 mil por mês, a distribuição de gás de cozinha e isenção nas contas de energia para uma parcela das famílias, e o pagamento de bolsas para estudantes -- todos programas já anunciados anteriormente pelo governo.
Ainda que não haja novas medidas, os agentes demonstravam preocupação de que o ano de 2026 seja marcado por ações para impulsionar a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com impacto negativo para as contas públicas.
“Daqui para frente só vai piorar”, opinou o diretor da assessoria FB Capital, Fernando Bergallo.
“Mês que vem já vem aquela demanda forte por dólares, sazonal. E aí 2026 com o cenário político, que já tem permeado o mercado, entra em cena de vez”, acrescentou.
*Com informações da Reuters