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    De olho no mercado, empresas investem em infraestrutura para veículos elétricos

    Companhias miram em pesquisas e planejamentos de eletrificação e tecnologia para o mercado dos elétricos

    Pedro Zanattado CNN Brasil Business , Em São Paulo

    O setor de veículos elétricos no Brasil ainda dá seus primeiros passos quando comparamos os números do país com o restante do mundo. No entanto, é um mercado com potencial de crescimento nos próximos anos.

    Primeiro porque o país deve buscar cada vez mais a implementação e o planejamento de políticas de redução dos gases poluentes e causadores do efeito estufa, na visão de especialistas. Além disso, o Brasil possui um histórico com o uso de energias renováveis e que causam menos danos ao meio ambiente, como o uso das hidrelétricas, dos parques eólicos e da energia solar.

    Os países europeus já têm estabelecido metas para a redução. Em 2021, por exemplo, a União Europeia (UE) fechou um acordo para frear as mudanças climáticas, visando reduzir as emissões líquidas de gases em pelo menos 55% até o final da década em relação aos níveis de 1990.

    Metas como as adotadas na Europa e em demais países do mundo são graduais e demandam grande empenho do poder público, já que exigem grandes mudanças de infraestrutura e hábitos por parte da população.

    Com um novo mercado em vista, grande espaço para inovação, muitas empresas já possuem iniciativas pensando no setor de elétricos e eletromobilidade no Brasil e já estão finalizando ou entregando projetos e parcerias para o setor.

    Como se comportou o setor em 2021

    No ano passado, o setor dos carros elétricos e eletrificados superou expectativas de analistas. De acordo com o balanço anual da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (Abve), o mercado de veículos elétricos e híbridos apresentou um recorde de 34,9 mil unidades vendidas.

    Números que superam todas as previsões da Abve e representam um aumento de 77% sobre os 19,7 mil emplacamentos realizados em 2020.

    A associação já projeta que, no segundo semestre de 2022, o país deve alcançar a marca de 100 mil veículos elétricos. Atualmente, há mais de 82 mil deles em circulação no país, entre automóveis, utilitários e veículos comerciais leves.

    Já em fevereiro deste ano, a venda de veículos elétricos e híbridos aumentou 147% no mês em comparação com o mesmo período de 2021. Ainda segundo a Abve, foram 3.435 emplacamentos e o melhor mês de fevereiro da série histórica da instituição.

    Oportunidades e avanços no Brasil

    Uma das principais dificuldades dos veículos elétricos se popularizarem no Brasil é o custo elevado para a aquisição dos automóveis por conta dos custos de produção e da tecnologia utilizada nas baterias. Em média, um carro elétrico custa, no país, cerca de R$ 290 mil.

    Especialistas entendem que é importante que ocorra o investimento para os consumidores que já possuem os carros elétricos e para aqueles que pensam em adquirir um modelo. No entanto, também é interessante um planejamento na eletrificação das frotas dos grandes centros urbanos.

    Para Diogo Lisbona, pesquisador do Centro de Estudos e Regulação em Infraestrutura da Fundação Getulio Vargas (Ceri-FGV), no curto prazo “olhar para a frota urbana seria uma grande oportunidade para o Brasil”.

    “Uma modernização do transporte coletivo poderia torná-lo mais atrativo para um público que migrou e está utilizando transportes por aplicativo, por exemplo”.

    Um exemplo é a construção do BRT-ABC, na cidade de São Paulo. Um sistema rápido de ônibus elétricos que conectará a região do Grande ABC à capital. O novo modelo de transporte terá o investimento de R$ 860 milhões, exclusivamente da iniciativa privada, através da empresa Next Mobilidade. A previsão é de que o trecho completo, com 20 estações, seja finalizado em 2023.

    Diogo avalia que iniciativas como esta também trazem benefícios como “a melhora da qualidade do ar da cidade e a diminuição da poluição sonora. É uma agenda possível e que beneficia uma grande quantidade de pessoas direta e indiretamente”.

    O pesquisador também lembra de uma vantagem importante que o Brasil possui. “A matriz enérgética brasileira já parte de energias renováveis, temos desafios nessa expansão, mas a eletrificação do Brasil faz sentido por vir a partir dessa matriz de energia já renovável e não de uma matriz à carvão, por exemplo”.

    Outro avanço para as pautas de mobilidade elétrica no país ocorreu na semana passada, quando o Senado Federal aprovou a criação da Frente Parlamentar da Eletromobilidade, com o objetivo de colocar em pauta projetos sobre o setor, com o foco de orientar a transição da matriz de transportes brasileira para uma economia de baixo carbono e baixa emissão de poluentes.

    Pesquisas

    Olhando para as pautas de sustentabilidade, políticas ESG e novas oportunidades de negócios, distribuidoras de energia, startups e empresas do setor já investem em pesquisas, soluções e produtos voltados para o mercado de veículos elétricos no Brasil.

    A CPFL, distribuidora sediada na cidade de Campinas, interior de São Paulo, acompanha o mercado desde 2007. Segundo Rafael Moya, gerente de inovação e transformação da CPFL Energia, “a empresa possui quatro projetos com previsão para serem finalizados em 2023”.

    Um dos projetos em que a empresa tem investido é o desenvolvimento de infraestrutura de carregamento para VEs com baixo impacto na rede. Se trata de uma estação de recarga que contempla o eletroposto, um sistema de armazenamento de energia e um sistema solar.

    O objetivo é ter uma base autossustentável para uma demanda esporádica, como “em um posto na beira da estrada, sem a necessidade de uma grande rede de energia elaborada”.

    Além disso, a empresa está analisando a vida útil das baterias dos veículos elétricos e pensar soluções a partir dos resultados. Moya explica que, uma das alternativas que estão avaliando é a de “utilizar a bateria usada como uma forma de backup em momentos de emergência”,  como uma espécie de ‘estepe’ do veículo elétrico.

    Eletrificação de rodovias

    Outra companhia do setor elétrico que já vem desenvolvendo e planejando iniciativas para o mercado com foco tanto na infraestrutura como em buscar soluções é a Enel X, braço de inovação do grupo Enel.

    O Head da Enel X Brasil, Francisco Scroffa, antecipou, sem dar muitos detalhes, que a empresa está finalizando um plano para “a eletrificação de rodovias que vai entregar pontos de carregamento nas principais vias do país”.

    Ele ainda mencionou que, durante os primeiros meses do ano, o objetivo da empresa é de finalizar projetos que dizem respeito à eletrificação do transporte público em São Paulo, Goiás e no Rio de Janeiro.

    Outro projeto que já está implementado e com a expectativa de expansão ainda neste ano é a parceria com a Estapar para a instalação de Ecovagas. São vagas exclusivas em estacionamentos da Estapar para os VEs. “Os clientes podem reservar as vagas e deixar o carro no local carregando e sendo monitorado pela empresa”.

    Atualmente já possuem cerca de 250 Ecovagas, com a expectativa de que, até o fim do ano, ocorra uma ampliação para cerca de 600 vagas.

    Scroffa disse ainda que a empresa possui uma “unidade de negócio específica para a mobilidade elétrica”. Segundo o porta-voz, a empresa estabelece parcerias com montadoras como a Volvo e “quando o consumidor adquire um veículo elétrico de nossa parceira, a Enel X envia uma plataforma para o carregamento do veículo na casa do proprietário”.

    Mais estações de recarga

    Os novos players do mercado não ficam para trás na corrida por oferecer produtos e serviços aos consumidores dos elétricos, como é o caso da startup Tupinambá Energia. A empresa surgiu em 2019 já com a proposta de buscar desenvolver soluções de recarga elétrica veicular, operando a infraestrutura de eletro-abastecimento.

    A startup possui uma plataforma digital integrada a uma rede de pontos de recarga, possibilitando que diferentes empreendimentos comerciais ofereçam serviço de recarga para veículos elétricos de seus consumidores, pensando em oferecer facilidade e garantia para que os usuários encontrem os postos de recarga.

    O CEO da Tupinambá, Davi Bertoncello, explicou que “já são cerca de 1.010 pontos credenciados no Brasil”.

    “Nós realizamos uma auditoria para garantir que os pontos estejam realmente conectados e funcionando. Dessa forma, os clientes podem consultar e ir até o local sem serem surpreendidos por um ponto inativo ou com outro usuário carregando o veículo no mesmo momento”, afirmou.

    Em 2021, a startup recebeu um aporte de R$ 10 milhões da Raízen, com o objetivo de acelerar o desenvolvimento da rede de recarga no país.

    Bertoncello diz já possuem um planejamento nesse sentido. “Temos a proposta de lançar 500 pontos estratégicos de recarga para garantir, inicialmente, no estado de São Paulo, uma viabilidade para que os veículos consigam transitar por todo o estado sem preocupações”. Segundo o CEO, a empresa deve investir, no mínimo, R$ 15 milhões nesse projeto.

    Novos projetos para postos de recarga também já estão sendo pensados pelas próprias montadoras. Recém chegada no Brasil, a montadora chinesa Great Wall Motors (GWM) anunciou que nesta semana que vai instalar 100 pontos de recarga gratuita para veículos elétricos e híbridos nas principais cidades de São Paulo.

    O plano faz parte do projeto da empresa para o Brasil que conta com um investimento de R$ 10 bilhões. Com o objetivo de criar um ecossistema de eletrificação, os equipamentos de recarga serão montados em pontos de venda e serviços da GWM e em locais de grande circulação, como estacionamentos, shoppings e supermercados.

    Desenvolvimento com tecnologia nacional

    Uma parceria entre a WEG, empresa de inovação e sustentabilidade, e a Fundação CERTI, organização de pesquisa e desenvolvimento tecnológico resultou no desenvolvimento de estações de recarga para carros elétricos com o uso de tecnologia nacional.

    O desenvolvimento das estações começou em 2018. Como resultado, foram elaborados três modelos: o primeiro projetado para residências e condomínios, o segundo projetado para shoppings e o terceiro pensado para estacionamentos e espaços públicos.

    Além disso, as estações possibilitam ao motorista realizar recargas rápidas (2 a 4 horas) ou normais (8 a 16 horas). Para a realização do projeto, foram investidos cerca de R$ 7,5 milhões. O planejamento para o futuro é de comercializar as unidades para consumidores, mas também para empresas e residenciais.

    O caminho é longo?

    Ainda que com alguns exemplos de inciativas voltadas para o setor dos veículos elétricos consigam trazer um vislumbre das potencialidades desse novo mercado, o Brasil ainda tem muitos desafios pela frente, como comenta o presidente da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (Abve), Adalberto Maluf.

    Para Maluf, a entrada de novos atores na mobilidade elétrica amplia o cenário “para muito além dos veículos elétricos, isso inclui também a infraestrutura de recarga, a geração distribuída de energia, as energias renováveis e a economia digital”, afirmou.

    O porta-voz da associação as novas startups de tecnologia e o uso da internet das coisas, em conjunto com a inteligência artificial ampliam a oferta de mobilidade elétrica como um serviço e “não mais como um bem a ser comprado”.

    No entanto, o pesquisador Diogo Lisbona, diz que um dos grandes desafios do país é a falta de planejamento de longo prazo que pensem esse setor. “Temos dificuldades de projetar cenários disrruptivos, no geral, projetamos mudanças mais graduais”.

    Na mesma linha, Maluf avalia que o Brasil precisa de programas robustos de pesquisa, como ocorre em outros países do mundo. “O Brasil não tem um ecossistema de pesquisa tão forte, o governo precisa ser o coordenador dos esforços de pesquisas e desenvolvimento tectonológico, integrando o setor privado, a sociedade civil e a academia”.

    Mesmo com questões importantes sobre infraestrutura para receber o novo mercado no país e o alto custo dos veículos, 62% dos brasileiros possuem interesse em adiquirir um carro elétrico, de acordo com uma pesquisa encomendada pelo Itaú Unibanco à Abve. Um número importante e que traz mais expectativas para a transição de mobilidade no país.

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