Entenda o caso Master em 10 pontos

Operação da Polícia Federal cumpriu mandado de prisões e de busca e apreensão pelo país; em paralelo, BC liquidou banco

Da CNN Brasil
Operação da Polícia Federal cumpriu mandado de prisões e de busca e apreensão pelo país; em paralelo, BC liquidou banco  • Imagem gerada por IA
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De batida da Polícia Federal a liquidação pelo Banco Central, o Banco Master tomou os holofotes do noticiário desta terça-feira (18).

A seguir, confira 10 pontos para compreender o caso sobre a instituição financeira.

Operação Compliance Zero

A Polícia Federal deflagrou nesta terça-feira (18) a Operação Compliance Zero, que investiga a emissão de títulos de crédito falsos por instituições que integram o Sistema Financeiro Nacional. São apurados crimes de gestão fraudulenta, gestão temerária, organização criminosa, entre outros.

A PF cumpriu cinco mandados de prisão preventiva, dois mandados de prisão temporária e 25 mandados de busca e apreensão, além de medidas cautelares diversas da prisão, nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Bahia e no Distrito Federal.

Houve ainda ordem de bloqueio em contas em R$ 12,2 bilhões, além de apreensões de diversos carros de luxo, obras de arte e relógios.

As investigações tiveram início em 2024, após requisição do Ministério Público Federal, para investigar a possível fabricação de carteiras de crédito insubsistentes por uma instituição financeira. Tais títulos teriam sido vendidos a outro banco e, após fiscalização do Banco Central, substituídos por outros ativos sem avaliação técnica adequada.

Entre os presos estão Augusto Lima, ex-sócio e ex-CEO do Banco Master, com quem a corporação encontrou R$ 1,7 milhão em espécie.

A PF ainda cumpriu um mandado de busca e apreensão contra o presidente do BRB (Banco de Brasília), Paulo Henrique Costa, que foi afastado pela Justiça nesta terça, junto de outros três diretores do banco.

Na noite de segunda-feira (17), a PF prendeu o dono do Master, Daniel Vorcaro. A CNN Brasil apurou que a Polícia Federal monitorou Vorcaro e antecipou a prisão para evitar uma fuga.

Prisão de Daniel Vorcaro

Vorcaro foi preso por volta das 22h de segunda, no Aeroporto de Internacional de Guarulhos, quando viajaria para Dubai.

Vorcaro era conhecido no mercado financeiro por sua gestão arrojada e investimentos de alto risco. O banco atraía recursos oferecendo CDBs (Certificados de Depósito Bancário) com valores acima do mercado, uma prática que já causava incômodo em parte do setor financeiro.

Segundo informações atualizadas pelo BC em março de 2025, o patrimônio líquido do Banco Master é de R$ 3,214 bilhões. A instituição possuía, no mesmo período, R$ 86,4 bilhões em ativos e R$ 83,2 bilhões em passivo.

Em 2024, o banco registrou patrimônio líquido de R$ 4,7 bilhões, com um total de R$ 63 bilhões de ativos, conforme DRE (Demonstração do Resultado em Exercício). Também no último ano, a instituição dobrou seu lucro líquido, a R$ 1 bilhão, na comparação com 2023.

Defesa de Vorcaro

A defesa de Daniel Vorcaro, dono do Banco Master, afirmou que a viagem para os Emirados Árabens Unidos estava relacionada ao processo de venda da instituição.

"Vorcaro anunciou ontem a venda da instituição e tinha plano de voo a Dubai para se encontrar com os compradores", diz a nota enviada à imprensa.

"No mesmo dia, advogados, por ele [Vorcaro] e pelo Banco Master, colocaram-se, como já haviam feito antes, à disposição para cooperar com as autoridades, prover informações, participar de audiências, inclusive com a presença de Vorcaro", continua a nota.

Tentativas de venda do Master

Ao longo do ano, o Master tentou alinhar a venda de seus ativos para outros players do mercado financeiro.

Em março, o conselho de administração do BRB (Banco de Brasília) havia aprovado um contrato de compra e venda de ações do Master. A instituição de Brasília iria adquirir 49% das ações ordinárias, 100% das preferenciais e, consequentemente, 58% do capital total do Master, o equivalente a R$ 23 bilhões em ativos, garantindo voto no conselho de administração. Em paralelo, tentava a venda dos demais ativos para outras instituições.

A Superintendência-Geral do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) havia decidido pela aprovação, sem restrições, da operação. Em setembro, porém, o Banco Central rejeitou a tentativa do BRB de adquirir o Master.

A CNN Brasil apurou que a rejeição do BC sobre a compra do Banco Master teve como principal motivação o risco de sucessão, que ocorre quando, em uma operação de compra, os passivos e responsabilidades do vendedor — mesmo que não estejam incluídos formalmente no negócio — possam ser herdados pelo comprador.

No caso do Master, o temor era de que ativos problemáticos e dívidas da instituição que estivessem fora da operação acabassem permanecendo ligados ao BRB após a aquisição, comprometendo sua solidez financeira.

Na noite de segunda, a Fictor Holding Financeira anunciou a compra do Banco Master.

O negócio também envolveria um consórcio de investidores dos Emirados Árabes Unidos. A viagem de Vorcaro seria para encontrar os compradores.

Após a liquidação do Master, o Grupo Fictor suspendeu a compra.

Autoridades em Brasília estão convencidas de que o suposto interesse do Grupo Fictor na compra do Banco Master foi somente uma "cortina de fumaça" para dar mais tempo ao sócio da instituição financeira, Daniel Vorcaro, de driblar as autoridades e fugir do país.

Liquidação pelo BC

O BC (Banco Central) decretou nesta terça-feira a liquidação extrajudicial do Banco Master.

Pelo termo, também fica sob liquidação judicial a corretora de câmbio do banco. A liquidação foi assinada pelo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo. Com o decreto, os bens dos controladores e ex-administradores do Banco Master ficam indisponíveis.

​A liquidação extrajudicial é o regime de resolução que se destina a interromper o funcionamento de uma instituição e promover sua retirada, de forma organizada, do Sistema Financeiro Nacional.

A medida ocorre em situação de insolvência irrecuperável ou quando forem cometidas graves infrações às normas que regulam a atividade da instituição financeira, entre outras hipóteses legais.

Nesses casos, o BC pode determinar aos seus controladores que aportem os recursos necessários, transfiram o controle, reorganizem a sociedade ou adotem medidas de recuperação.

Como ficam os credores?

O FCG (Fundo Garantidor de Crédito) confirmou nesta terça que fará o pagamento da garantia após o envio da base pelo liquidante, responsável legal indicado pelo Banco Central, após a autarquia ter decretado a liquidação extrajudicial do Banco Master.

Segundo o fundo, os pagamentos serão efetuados conforme Regulamento do FGC e a partir dos dados e valores indicados pelo liquidante.

“Todos os créditos enquadrados em nosso regulamento terão o processo de pagamento iniciado tão logo o levantamento dos dados dos credores seja concluído e disponibilizado ao FGC”, informou o fundo em nota publicada nesta terça.

Essa será a maior operação deste tipo na história, superando o resgate do Bamerindus, no final dos anos 90. Nas contas do Fundo, as instituições liquidadas possuem base estimada de 1,6 milhão de credores com depósitos e investimentos elegíveis ao pagamento de garantia que somam aproximadamente R$ 41 bilhões.

O que é FGC

O FGC garante até R$ 250 mil por CPF ou CNPJ. Além disso, há um teto de R$ 1,6 milhão por período de quatro anos, no caso de quebra de mais de uma instituição no mesmo período. As etapas para o processo de ressarcimento são as seguintes:

  • O liquidante ou interventor do Banco Master envia ao FGC a relação das pessoas beneficiárias com os valores devidos. A consolidação dessa lista requer prazo que varia por instituição (na média, conforme experiência recente, cerca de 30 dias);
  • O aplicativo do FGC já está disponível; os credores podem realizar o cadastro básico;
  • Após o recebimento da base de dados, o FGC informa aos credores que o sistema está disponível para solicitação da garantia. O credor precisa manifestar interesse;
  • Pessoas físicas (CPF) solicitam a garantia pelo aplicativo do FGC; pessoas jurídicas (CNPJ) realizam o processo por meio do site do FGC;
  • Após o cadastro completo, a pessoa física visualiza o valor a receber e assina digitalmente o termo de solicitação; para pessoa jurídica, o termo é enviado por e-mail após análise documental.

Outros casos

A liquidação extrajudicial do Banco Master pelo Banco Central nesta terça-feira (18) remonta casos anteriores de instituições financeiras que acabaram se tornando massa falida.

Bamerindus

O Bamerindus do Brasil chegou a ser o segundo maior banco privado do país na década de 1990.

Em 1995, a instituição entrou em crise e precisou recorrer a empréstimos de outros bancos. Dois anos mais tarde, com patrimônio líquido negativo de R$ 4,2 bilhões, sofreu intervenção do BC e teve seu controle acionário transferido para o HSBC. A liquidação extrajudicial viria no ano seguinte.

O processo teria fim apenas 16 anos mais tarde, com entrada do banco de investimentos BTG Pactual no processo.

Em janeiro de 2013, o BTG Pactual anunciou que pagaria R$ 418 milhões, em cinco parcelas anuais, para compar o espólio do Bamerindus e de suas subsidiárias. Ainda assim, o Fundo Garantidor de Crédito teve de desembolsar R$ 3,5 bilhões em maio de 2014 para zerar o rombo financeiro do banco.

Santos

Fundado pelo ex-banqueiro Edemar Cid Ferreira, o Banco Santos ficou sob intervenção do BC em novembro de 2006. Ao longo do processo, os fiscais da autarquia identificaram fraudes e indícios de crimes contra o sistema financeiro.

À época da intervenção, estimava-se que o rombo era de aproximadamente R$ 703 milhões. Em maio do ano seguinte, as apurações contabilizaram R$ 2,236 bilhões por causa de fraudes e de má gestão. O banco, então, teve liquidação extrajudicial decretada.

O BC descobriu o valor final ao observar que algumas operações de crédito já haviam sido quitadas por meio da compra de debêntures de empresas não-financeiras ligadas ao Banco Santos.

No entanto, na contabilidade do banco as operações ainda constavam como créditos a receber, o que fazia o banco parecer mais saudável do que realmente estava.

Cruzeiro do Sul

O banco chegou a atuar como agente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e dealer oficial do BC para negociação dos títulos do Tesouro Nacional.

Os problemas começaram em 2011, quando o Cruzeiro do Sul enfrentava dificuldades de captação e teve sua classificação de risco rebaixada.

Em 2012, o BC interveio na instituição e constatou um rombo de R$ 1,3 bilhão e um patrimônio líquido negativo de R$ 150 milhões provocado por créditos fictícios. Após tentativas de negociar a venda do banco fracassarem, inclusive com o Santander, o Cruzeiro do Sul teve liquidação extrajudicial decretada.

A falência foi oficialmente decretada em 2015 pela 2ª Vara de Falência e Recuperações Judiciais do TJSP (Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo).

Manifestação de Haddad

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o governo vai dar suporte ao BC para lidar com as consequências da liquidação extrajudicial do Banco Master.

"O que cabe à Fazenda é dar suporte às consequências desse ato. Se houver, nós estamos aqui prontos para colaborar", disse Haddad.

Na avaliação do ministro, se o Banco Central decidiu liquidar a instituição financeira, é porque o processo está “robusto”.

“O BC é o órgão regulador do sistema financeiro. Eu tenho certeza que, para ter chegado a esse ponto, todo esse processo deve estar muito robusto. Mas enfim o que eu acompanhei foi mais em relação à CVM [Conselho Monetário Nacional]. Já falei para vocês que tivemos problema na CVM também. O BC é o órgão regulador e ele que se manifesta”, disse Haddad.

União não será prejudicada

A liquidação extrajudicial do Banco Master, decretada pela autarquia nesta terça, não deve gerar prejuízo para a União, segundo técnicos do Tesouro Nacional ouvidos pela CNN Brasil. A avaliação é de que o episódio não produz impacto na gestão da dívida pública.

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