Lições da Kodak: ignorar mudanças e fim melancólico após 133 anos
Empresa alertou que não tem "financiamento comprometido ou liquidez disponível" para pagar US$ 500 milhões em dívida futuras

A Eastman Kodak, empresa de fotografia de 133 anos, está alertando os investidores de que pode não sobreviver por muito mais tempo.
Em seu relatório de lucros na segunda-feira (11), a empresa alertou que não tem "financiamento comprometido ou liquidez disponível" para pagar seus cerca de US$ 500 milhões em obrigações de dívida futuras.
"Essas condições levantam dúvidas substanciais sobre a capacidade da empresa de continuar em funcionamento."
A Kodak pretende evocar dinheiro interrompendo os pagamentos de seu plano de pensão de aposentadoria.
A empresa disse, por outro lado, que não espera que as tarifas tenham "impactos materiais" em seus negócios porque fabrica muitos de seus produtos, incluindo câmeras, tintas e filmes nos Estados Unidos.
"No segundo trimestre, a Kodak continuou a progredir em relação ao nosso plano de longo prazo, apesar dos desafios de um ambiente de negócios incerto", disse o CEO Jim Continenza no comunicado de resultados.
Em um comunicado à CNN Internacional nesta terça-feira (12), um porta-voz da Kodak disse que está "confiante de que será capaz de pagar uma parte significativa de seu empréstimo a prazo bem antes do vencimento e alterar, estender ou refinanciar nossa dívida restante e/ou obrigações de ações preferenciais".
As ações da Eastman Kodak caíram mais de 25% nas negociações deste pregão.
Subida e descida
A Eastman Kodak Company foi incorporada em 1892, mas suas raízes remontam a 1879, quando George Eastman obteve sua primeira patente para uma máquina de revestimento de chapas. Em 1888, Eastman vendeu a primeira câmera Kodak por US$ 25.
Na época, a fotografia não era um negócio de massa por causa das habilidades técnicas e equipamentos necessários para fazê-la, mas a câmera Kodak foi projetada para tornar a fotografia mais acessível. Eastman cunhou o slogan: "Você aperta o botão, nós fazemos o resto".
O nome não tinha sentido, com a palavra "Kodak", de acordo com a empresa, sendo inventada por Eastman do nada: "A letra 'K' era a minha favorita - parece um tipo de letra forte e incisiva".
A Kodak teve um século de sucesso produzindo câmeras e filmes. Em um ponto da década de 1970, foi responsável por 90% das vendas de filmes e 85% das câmeras nos Estados Unidos, de acordo com The Economist. O hit de Paul Simon "Kodachrome" liderou as paradas em 1973.
Mas essa poderosa posição de mercado não duraria por causa de uma tecnologia que a própria empresa inventou: a Kodak lançou a primeira câmera digital em 1975.
A Kodak, porém, não conseguiu capitalizar a ascensão da tecnologia digital. Em 2012, entrou com pedido de falência. Na época de seu pedido de Capítulo 11 - processo da legislação norte-americana similar à recuperação judicial brasileira -, tinha 100 mil credores e dívidas totalizando US$ 6,75 bilhões.
Em 2020, a Kodak teve um breve momento de alívio quando o governo dos EUA a contratou para se transformar em produtora de ingredientes farmacêuticos. O preço das ações da companhia subiu tão rápido que acionou 20 disjuntores durante o pregão.
Apesar de suas perdas recentes, a Kodak disse que pretende expandir essa parte de seus negócios. A empresa continua a fabricar filmes e produtos químicos para empresas, incluindo a indústria cinematográfica, e licencia sua marca para uma variedade de produtos de consumo.
Publicado por Sofia Kercher
