Beatles, Stones, Pink Floyd, Caetano e Gil seguem ativos aos 80 anos
A geração rock que nasceu na década da Segunda Guerra Mundial e consolidou a década transformadora dos anos 60 não dá sinais que irá se aposentar ao lançar discos e seguir fazendo shows
A espera acabou e a última música dos Beatles já tem data para ser lançada – e como cogitamos nesta quarta-feira, “Now and Then” é o carro-chefe das novidades.
A música seria o single do terceiro volume da coletânea Anthology, lançada nos anos 90, mas foi abortada na época pois as condições tecnológicas da época não permitiram separar a voz de John Lennon de um ruído ambiente.
Trinta anos depois, essa questão foi sanada e o vocal de Lennon nos anos 70 encontra-se com a guitarra de George Harrison nos anos 90 e com o baixo de Paul McCartney e a bateria de Ringo Starr de 2023 para encerrar a discografia dos Beatles com uma única canção, que será lançada no próximo dia 2 de novembro, às 10 da manhã do horário de Brasília.
Também é o mesmo horário de relançamento das clássicas coletâneas duplas vermelha e azul, que funcionaram como porta de abertura para a discografia do grupo para diferentes gerações e agora ganha novo tratamento de áudio, além de 21 faixas novas (doze na vermelha e nove na azul, incluindo a “última faixa dos Beatles”).
O grupo não havia relançado as coletâneas desde a transição do vinil para o CD e apenas a incluíram nas plataformas de streaming sem nenhuma novidade, até agora.
Com a nova seleção de faixas, as coletâneas 1962-1966 (a vermelha, que reproduz a capa do primeiro disco dos Beatles, com o grupo olhando para baixo a partir de uma varanda interna do antigo prédio da gravadora EMI) e 1967-1970 (com a mesma pose repetida sete anos depois, cabeludos e barbudos, quando o grupo ilustraria a capa do disco abortado Get Back, que se transformaria no primeiro disco póstumo da banda, Let it Be, com outra capa) entram com roupa de gala na era digital.
As novidades dos Beatles não vêm sozinhas. Há um momento que celebra a geração octogenária a partir da própria relação com a atividade musical. Mesmo apenas relançando discos dos Beatles, nem Paul McCartney nem Ringo Starr falam em aposentadoria.
Roger Waters, baixista do Pink Floyd, já está em terras brasileiras naquela que chama de “a primeira turnê de despedida” e acaba de lançar uma versão Redux para o clássico Dark Side of the Moon, de sua antiga banda. O próprio Pink Floyd não fala em mais em turnês ao vivo, mas também relançou o disco, que completa 50 anos neste 1973, em nova versão remasterizada.
Mas nenhum artista personifica melhor este momento que os Rolling Stones. Mesmo após a morte do baterista Charlie Watts, em 2021, o grupo permanece em atividade, não apenas fazendo shows como lançando um de seus melhores discos em décadas, com participações de nomes como Lady Gaga, Stevie Wonder (os dois ao lado de uma das melhores músicas da banda, “Sweet Sounds of Heaven”), o ex-baixista da banda Bill Wyman e Sir Paul MCCartney – que, por sua vez, também está vindo para o Brasil.
Hackney Diamonds foi lançado há uma semana e, como o novo single dos Beatles, parece sinalizar um encerramento, ao menos fonográfico, da carreira do grupo, ao finalizar o disco com uma versão crua para a música do blueseiro Muddy Waters que batizou a banda. Mas o grupo segue em shows ao vivo – nenhum anúncio para o Brasil, no entanto.
Os boomers, geração que nasceu durante e após a Segunda Guerra Mundial, tem esse nome porque surgiram no chamado “baby boom”, a explosão de novos bebês que começou a aparecer após o fim do conflito, em 1945. Foi a geração que aumentou o número de adolescentes durante os anos 1960 e consolidou essa faixa etária como um público-alvo para um novo mercado consumista, o da cultura pop. Centrada no rock de guitarras inaugurado pelos Beatles, é uma geração que mudou radicalmente os parâmetros artísticos e comportamentais do período, de discussões por direitos civis ao comprimento dos cabelos, passando por transformações radicais de estilo, o uso de drogas alucinógenas, a abertura para a cultura asiática e, claro, shows e festival para dezenas, centenas de milhares de pessoas. A popularização da televisão também ajudou a consolidar essa safra de artistas que inclui todos os citados até aqui e dezenas de outros artistas, que respondem à provocação millenial de “ok, boomer” (meme inventado para deixar os mais velhos falando sozinhos) com mais trabalho.
Geração tropicalista segue ativa no Brasil
Isso também acontece no Brasil. Talvez o melhor exemplo esteja na geração tropicalista, que segue produzindo discos, shows, filmes e séries sem pensar em aposentadoria. Caetano Veloso cedeu recentemente ao revival de seu disco mais consensual, Transa, lançado em 1972, e resolveu recriar o disco ao vivo um ano depois de seu aniversário de 50 anos.
Pular a efeméride é menor, ainda mais se levarmos em conta que ele está corrigindo um erro histórico ao voltar aos palcos com Jards Macalé, Tutty Moreno, Áureo de Souza e Angela Ro Rô, que nem foram citados na ficha técnica do álbum original.
Seu compadre Gilberto Gil também não para. Lançou um seriado durante a pandemia sobre sua família musical (Em Casa com os Gil, produzido pelo Amazon Prime), e, numa mistura de reality show com shows, fez uma turnê e uma temporada sobre esta turnê, também com seus filhos e netos. Mas os dois não vivem só de nostalgia e seguem gravando discos novos e também em contato com novos artistas. Assim como outros seus contemporâneos, como Ney Matogrosso, Paulinho da Viola e Milton Nascimento, este último o único a realmente se aposentar (apenas dos palcos, no entanto), mas que não sai das redes sociais. Roberto Carlos e Maria Bethânia são outros que nem cogitam parar tão cedo.
Mas a onda de nostalgia em relação à essa geração continua mesmo sem a presença destes. É o caso de Gal Costa e Rita Lee, que morreram no ano passado mas seguem sendo celebradas, a primeira no filme recém-lançado Meu Nome é Gal, filme de Dandara Ferreira e Lô Politi, ou no show que Filipe Catto está fazendo em sua homenagem, enquanto a segunda ressurge numa regravação de “Doce Vampiro” feita por ninguém menos que Marisa Monte. E a impressão que se tem é que esta festa por estar vivo e ativo aos plenos 80 anos está só começando…
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O conjunto musical "Os Mutantes", com seus integrantes originais: Rita Lee (d), Arnaldo Baptista (c) e Sérgio Dias (costas), em 1967 • Arquivo/Estadão Conteúdo
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Gilberto Gil em apresentação junto o grupo "Os Mutantes" e orquestra. À esquerda, Rita Lee observa a performance de Gil • Arquivo/Estadão Conteúdo
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Na TV Tupi, apresentação do grupo "Os Mutantes" em 1968 • Estadão Conteúdo
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Rita Lee no programa "Divino e Maravilhoso", da TV Tupi, em 1968 • Estadão Conteúdo
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Cantora, compositora e instrumentista Rita Lee em apresentação em 1969 • Arquivo/Estadão Conteúdo
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Rita Lee, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias durante apresentação do conjunto musical em 1969 • Arquivo/Estadão Conteúdo
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Retrato dos integrantes dos Mutantes, Arnaldo Baptista (baixista e tecladista) e Rita Lee(vocalista) • Arquivo/Estadão Conteúdo
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Rita Lee durante apresentação no Phono 73, realizado no Anhembi, em São Paulo, em 1973 • Claudine Petroli/Estadão Conteúdo
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Rita Lee durante entrevista no Teatro Aquarius, no bairro da Bela Vista, região central da cidade de São Paulo, para falar de seu show "Entradas e Bandeiras" com o grupo Tutti Frutti, em 1976 • Solano de Freitas/Estadão Conteúdo
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Rita Lee e sua banda Tutti Frutti durante show no Teatro Aquarius, em São Paulo, em 1976 • Oswaldo Luiz Palermo/Estadão Conteúdo
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Rita Lee em 1978 • Arquivo/Estadão Conteúdo
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Retrato de uma descontraída Rita Lee, em 1981 • Claudine Petroli/Estadão Conteúdo
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Rita Lee ficou conhecida por sua personalidade marcante e irreverente • Claudine Petroli/Estadão Conteúdo
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Show da turnê "O Circo", realizada no ginásio do Ibirapuera, na capital paulista, em 1982 • Domicio Pinheiro/Estadão Conteúdo
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Apresentação no Rock in Rio I, realizado no bairro de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, em 1985 • Arquivo/Estadão Conteúdo
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Rita Lee lê partitura da Sinfonia da Floresta Amazônica, de Heitor Villa Lobos, em 1989 • Marcelo Zocchio/Estadão Conteúdo
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Apresentação no Hollywood Rock 95, no estádio do Maracanã. Rita Lee, Barão Vermelho e os norte-americanos Spin Doctors abriram o show dos Rolling Stones • Otávio Magalhães/Estadão Conteúdo
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Atriz Fernanda Montenegro e Rita Lee durante a cerimônia do Prêmio Sharp de 1997, no Teatro Municipal, no Rio de Janeiro • Selmy Yassuda/Estadão Conteúdo/AE
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Tom Zé e Rita Lee se apresentam durante a premiação do Video Music Brasil 1999, da MTV, realizado no Via Funchal, na Zona Sul de São Paulo, em 1999 • Paulo Liebert/Estadão Conteúdo
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Rita Lee recebe beijo do marido, o músico Roberto de Carvalho, ao se apresentar durante show na Praça da Paz, no Parque do Ibirapuera, Zona Sul da capital paulista, em 2001 • Hélvio Romero/Estadão Conteúdo
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Rita Lee canta no no Festival de Verão de Salvador • Arquivo/Photocamera/AE
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Comemoração do Réveillon na Avenida Paulista, na região central de São Paulo, em 2006 • J. F. Diorio/Estadão Conteúdo
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Show no evento "Virada Cultural" no palco Júlio Prestes, realizado na região central da capital paulista, em 2011 • Ernesto Rodrigues/Estadão Conteúdo
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Show "4 Gerações Cantam São Paulo", em comemoração ao aniversário de 459 anos da cidade, no Vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo, em 2013 • Epitácio Pessoa/Estadão Conteúdo
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Lançamento do livro "Rita Lee, Uma Autobiografia", no Conjunto Nacional, na cidade de São Paulo, em novembro de 2016 • Gabriela Biló/Estadão Conteúdo