Sem cuidado com publicações, influenciadores são alvos de roubos, dizem especialistas
Evitar publicações em tempo real é apenas uma das mudanças de comportamento entre alguns influenciadores
No início desta semana, a influenciadora digital e empresária Shantal Verdelho relatou aos seus mais de 1 milhão de seguidores que o escritório da sua marca de joias, The Zion, localizada em Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, foi invadido e assaltado durante a noite.
Shantal fez um boletim de ocorrência e o prejuízo, segundo nota da Secretaria da Segurança Pública (SSP), passou de R$ 1,8 milhão.
Porém, ela não é a única influenciadora assaltada nos últimos tempos.
O casal Andrèa Lyra e Anderson Spinelli, ambos de 36 anos e donos do perfil Destinos Imperdíveis, que soma 1,4 milhão de seguidores no Instagram e que movimenta diversas mídias sociais com dicas e experiências de viagens, foi roubado no dia 29 de março, após serem abordados por cinco criminosos ao retornarem de uma viagem ao exterior.
Os assaltantes levaram o carro, os aparelhos eletrônicos e o anel de noivado do casal – além de joias. “Temos a vida muito exposta pelo trabalho que fazemos, sei que corremos diversos riscos com pessoas mal intencionadas”, declarou Andrèa à CNN.
Por esse motivo, como medida de proteção, eles optaram por não mais publicar seus passeios em tempo real ou não mostrar os painéis dos aeroportos com a hora e o número dos voos, algo comum entre os influenciadores dessa área. O ritmo de viagens, porém, continua.
Em conversa com a CNN, Ana Paula Passarelli, cofundadora da agência Brunch, destacou que a partir do momento em que uma pessoa se torna influenciadora, é importante que se tenha “um cuidado na hora de compartilhar informações”, principalmente de localização e tempo real, para que não ser alvo de algum tipo de crime ou assédio.
Ela citou o caso do comediante Whindersson Nunes que, durante uma viagem ao Egito sem cunho profissional, ele foi flagrado com sua ex-companheira, Maria Lina. “Apesar de ter pedido para que alguns brasileiros não divulgassem que ele estava lá, não foi o que aconteceu”, conta.
Felipe Chiarello, professor da Universidade Mackenzie, acredita que com a publicização da rotina de influencer é possível identificar padrões nas condutas, elementos diários que são reais e mostram modelos de comportamento.
“É possível antever datas e locais mais propícios para uma abordagem e encontrar o indivíduo. Ou saber escolher o momento certo em que a pessoa não se encontra em casa ou no trabalho.”
Questionados, tanto Andréa quando Anderson declararam que não perceberam que poderiam estar sendo seguidos por criminosos.
“Quando fomos abordados vimos que o principal ladrão estava escondido atrás de uma guarita na rua. Ele estava nos esperando. As câmeras depois mostraram que ele e os outros ladrões já estavam andando na rua e olhando para a nossa casa”, conta Andrèa.
Erica Bakonyi, pesquisadora do Centro de Tecnologia e Sociedade (CTS), da FGV Direito Rio, afirmou também que como o canal de um influenciador costuma ser aberto ao público, pode gerar uma “engenharia social”, que faz com que a celebridade seja ludibriada a entregar determinadas informações estratégicas para a realização de crimes.
“Tudo aquilo colocado nas redes sociais são dados pessoais e informações referentes a uma pessoa. Então, todas as informações permitem que se tenha outros dados indiretamente”.
Erica sugere que o influenciador faça um planejamento prévio com uma equipe jurídica e de assessoria. E cita o caso da influenciadora Boca Rosa, que teve toda a sua estratégia de mídia vazada no Instagram. Apesar de parecer um perfil despretensioso, na verdade, ela tem toda uma linha de raciocínio para seus posts.
“Apesar de parecer orgânica, as publicações são estudadas”, explica a pesquisadora.
Gente! Que bizarro né? Saber que nada, absolutamente nada nas redes sociais são de forma espontânea. Redes socais se tornou apenas um negócio. #BocaRosa #Instagram pic.twitter.com/Ii0bw9gNlr
— VERSIONS OF RAPHAEL 🆘 (@rraphaelprado) June 2, 2022
Andrèa e Anderson, do Destinos Imperdíveis, ainda estão procurando todos os equipamentos e bens pessoais que foram roubados. Agora, dizem que estão cada vez mais conscientes e cuidadosos. À CNN, eles dão dicas e contam como estão se protegendo.
- Se tiverem equipamentos caros, recomendamos que tudo esteja no seguro. Se não estiver 100% seguro, evite mostrar em tempo real os lugares onde está, o voo que vai pegar, o hotel que está hospedado.
- O tipo de equipamento utilizado só deve ser mostrado se de fato for o tipo de conteúdo que seu público quer saber, caso contrário, evite mostrá-los.
- Ter cópia de todos os documentos, inclusive carteiras de vacinação (febre amarela). Assim, fica mais fácil conseguir a segunda via.
- Evite deixar cadastrado o contactless dos cartões; só nisso tivemos mais de R$ 1.000 em prejuízo e alguns bancos não se responsabilizam.
- Ter o número de todos os cartões e também dos telefones facilita na hora de fazer os cancelamentos.
- Ter todas as mídias sociais protegidas com autenticação de dois fatores, isso vai ajudar para que não roubem as suas contas.
- Instalar rastreadores nos equipamentos – no entanto, isso não dá nenhuma garantia, os bandidos estão cada vez mais profissionais.